|
“Se a vida
é repleta de significado, por que eu a passo atropelando outras
pessoas em busca de dinheiro?”
Não pense que esta questão foi inventada pela nossa geração
burguesa e boêmia, estilo “salve o mundo e fique rico”.
Isso já está por aqui desde que D’us entregou uma
enxada a Adam e expulsou-o do Jardim. Portanto, a maioria dos filhos de
Adam trabalhou com a enxada nas mãos. Atualmente, nós todos
estamos arando a terra com nossa cabeça. E isso pode significar
uma cabeça bastante enlameada.
Alguns gostam de lama. Outros acham a lama nojenta e correm dela. Muitos
tentam fazer concessões – vamos ficar só um pouquinho
sujos e tentaremos nos lavar depois. Neste caso terminamos com uma vida
dividida, na qual nossa principal ocupação é ganhar
dinheiro e encontrar um significado é mero passatempo.
O que realmente desejamos é uma maneira de ter tudo isso. Queremos
descobrir que vender bugigangas é na verdade um caminho para a
concientização mais elevada e que o verdadeiro esclarecimento
não precisa ser acessado em serena meditação afastada
da humanidade – você consegue agarrá-la a partir de
uma escrivaninha com vista para o centro da cidade. Talvez até
mesmo um escritório de advocacia.
Porém se as vendas de bugigangas são o principal meio de
conseguir o dinheiro dos outros, então como pode haver qualquer
nexo entre isso e a sua espiritualidade pessoal?
Temos de reexaminar o que são os negócios. Talvez os negócios,
também. Seja sobre a descoberta de um significado. Sobre descobrir
jóias naquela lama.
O mestre cabalista, Rabi Isaac Luria, 1534-1572 , Arizal, fez a mesma
pergunta há quinhentos anos – porém num nível
mais básico: “Se o homem é um ser espiritual, por
que precisa comer?”
Os animais, aparentemente, são menos espirituais que as pessoas.
Os vegetais parecem ainda mais inferiores – e a terra, ar e luz
do sol poderiam parecer a escala mais baixa. Porém a vegetação
é alimentada por aqueles elementos “inanimados” (indicando
que eles possuem uma força vital que ele próprio não
possui), os animais são nutridos por aqueles elementos e a vegetação,
e os humanos confiam em todos os três. Por que, perguntou o Ari,
a pirâmide está virada para baixo? Ou talvez não esteja.
Talvez, de alguma forma, aqueles animais tenham dentro de si uma centelha
Divina muito além de qualquer coisa que os humanos possam atingir
por si mesmos. Talvez quanto mais fundo se for dentro do planeta terra,
mais brilhantes as centelhas se tornam, de modo que as centelhas mais
notáveis se encontrem nos locais mais terrenos.
Isso significa que o motivo real pelo qual comemos não é
para nós mesmos, mas em prol do nosso alimento. Para descrobrir
aquelas centelhas e conectá-las de volta à sua fonte –
e uma com a outra.
Foi justamente isso que o Ari e seus alunos ensinaram: que todo o esforço
humano deve ser uma maneira de reconectar o mundo e revelar seu poder
Divino.
Há uma advertência, no entanto, a esse processo. Para resgatar
uma centelha de seu cativeiro dentro da sua comida, você precisa
estar um degrau acima dela. Se você está “agarrando
um bocadinho”. O bocadinho está agarrando você. Isso
significa que se é o alimento que está exigindo “Você
precisa de mim. Você deve me comer. Coma-me agora!” E você
obedece – então não é a centelha que está
sendo elevada, mas você que está sendo arrastado para baixo.
Comer, explicava o Ari, deve ser tratado como qualquer outra atividade
espiritual, com compostura, concentração – como um
ser humano.
Assim como Adam com aquela enxada revelou o poder da terra de produzir
alimentos, também o vendedor de bugigangas descobriu uma forma
de melhorar a vida humana com um simples arranjo de fios e plástico.
O analista de sistemas, também, está constantemente no processo
de extrair valor do abismo no qual ele caiu. O ortodontista melhoraa a
vida humana para que nenhuma jovem precise viver sem um sorriso bonito.
O resultado é que os negócios, na verdade, são uma
maneira de encontrar um significado – encontrar e expor o poder
secreto do mundo que nos cerca. E não apenas o poder de melhorar
a vida humana, mas também o poder de milagres e maravilhas e boas
ações. A luz infinita oculta em locais finitos.
O sujeito das bugigangas descobriu aquela luz infinita oculta na escola
da cidade, quando ele percebeu como seus artigos podiam ser usados como
uma ferramenta para ensinar cooperação e as letras. O executivo
em Atlanta revelou-a no próprio escritório, quando organizou
uma sessão semanal de estudos na hora do almoço com um rabino
local que discute ética talmúdica nos negócios. Quanto
ao ortodontista, ele encontra a luz todos os dias, nos sorrisos que proporciona
aos jovens, especialmente aqueles de famílias menos privilegiadas,
que ele trata sem cobrar.
Quanto mais profundamente entramos nas cavernas da vida mundana, mais
brilhantes são as jóias que encontramos – desde que
fiquemos acima enquanto entramos. Isso significa: Desde que nos lembremos
que o propósito da nossa ocupação não é
o óbvio, fazer dinheiro, mas sim um propósito mais profundo
e elevado. Porque somos todos, na verdade, seres espirituais navegando
num mundo material.
Como escreve o Salmista: “Aqueles que saem ao mar nos navios, que
fazem seu ofício nas águas poderosas, estes são os
que vêem as obras de D’us, apanhando Suas maravilhas em sua
rede.”1
Nota:
1 – Salmos 107:23-24
|