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Pergunta:
Se é uma libertação para a alma, porque a Torá
prescreve períodos de luto?
Resposta:
Não há uma contradição aqui. A Torá
reconhece os sentimentos naturais de tristeza sentidos pela perda de um
ente próximo e querido, cuja morte deixa um vazio na família.
A presença física e o contato com o ente querido serão
sentidos profundamente. Portanto, a Torá prescreve determinados
períodos de luto para dar expressão a esses sentimentos,
e para tornar mais fácil recuperar o próprio equilíbrio
e ajustamento.
No entanto, entregar-se a estes sentimentos além dos limites estabelecidos
pela Torá – além de ser um desserviço a si
mesmo e aos outros, bem como à Neshamá – significaria
que a pessoa está mais preocupada com os próprios sentimentos
que com os sentimentos da Neshamá que ascendeu a novas alturas
espirituais de felicidade eterna. Assim, paradoxalmente, o prolongamento
excessivo dos sentimentos de tristeza, devido ao grande amor pelo ente
querido que partiu, na verdade causa sofrimento ao ente querido, pois
a Neshamá continua a interessar-se pelos parentes que ficaram para
trás, vê o que está acontecendo (melhor ainda que
antes) e se alegra com eles quando estão felizes, etc.
Embora a alma seja eterna e esteja agora num estado não restringido
pelas limitações do corpo, está plenamente cônscia
daquilo que acontece na família. Quando vê que é causa
de tristeza e luto além dos limites do razoável estabelecidos
pela Torá, obviamente fica aborrecida e isso não contribui
para a paz e felicidade da alma.
Mesmo durante a estada da alma nesta vida, o vínculo real entre
a pessoa e os membros da família não são físicos,
mas espirituais. O que faz a pessoa não é a sua carne, mas
seu caráter e qualidades espirituais. Este vínculo permanece
e todos aqueles que amaram a pessoa deveriam tentar levar mais gratificação
e elevação espiritual à Neshamá por meio de
maior apego à Torá em geral, e particularmente no âmbito
relacionado com a partida da alma. Ou seja, observar aquilo que é
prescrito para o período de Shivá mas não estendê-lo,
e da mesma forma, com o período de Shloshim (trinta dias) mas não
além disso, e então servir a D’us por meio do cumprimento
de Suas mitsvot como o serviço deveria ser – com júbilo
e alegria no coração.
A alma que se foi não pode mais cumprir mitsvot, pois isso é
algo que somente pode ser feito em conjunto pela alma e pelo corpo neste
mundo material. Mas isso, também, pode ser parcialmente superado
quando aqueles que ficaram cumprem mitsvot e boas ações
em homenagem, e em benefício, da Neshamá que se foi.
O Shiva é um período de luto pela alma de um ente querido
que retornou ao Mundo da Verdade. Uma alma judaica é descrita na
Torá como “a lamparina de D’us”, pois seu propósito
nesta terra é divulgar a luz da Divindade. Sua partida desta terra
é um motivo para o luto da maneira prescrita na Torá. Porém,
juntamente com isso, não se deve esquecer que a alma é eterna.
Também não deve ser esquecido que até um evento triste
vem de D’us, portanto não pode haver dúvida de que
há nele um bom propósito.
Porém o objetivo essencial de Shiva é que “os vivos
devem refletir em seu coração” (Cohêlet 7:2).
Isso significa que aqueles que ficaram para trás devem examinar
seu coração e reavaliar-se. Devem tentar aperfeiçoar-se
em áreas da vida diária que são reais e eternas –
i.e., Torá e mitsvot. Na verdade, como a alma que ascendeu ao Céu
deixou uma lacuna de boas ações descontinuadas aqui na terra,
os parentes e amigos devem fazer uma compensação por meio
de esforços adicionais de sua parte. |