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"Assim
como veio, ele deve ir"
Cohêlet
Assim como um recém-nascido
é imediatamente lavado e entra neste mundo limpo e puro, também
aquele que parte deste mundo deve ser limpo e purificado através
de um ritual religioso chamado taharah (purificação).
Leis referentes à Tahará
A tahará é realizada pela Chevra Kadisha (Sociedade Sagrada,
i.e., Sociedade Funerária), composta por judeus instruídos
na área dos deveres tradicionais, e que podem mostrar o devido
respeito aos falecidos. Além da limpeza física e da preparação
do corpo para o enterro, eles também recitam as preces exigidas
pedindo perdão a D'us por qualquer pecado que o morto possa ter
cometido, e rezando para que o Todo Misericordioso o guarde e lhe conceda
a paz eterna.
Fazer parte da Chevra Kadisha sempre foi considerada uma grande honra
comunitária concedida apenas àqueles que são realmente
piedosos. Não-judeus, sob nenhuma circunstância, podem realizar
estas tarefas sagradas de preparar o corpo, pois o ritual de tahará
de maneira alguma é meramente um ritual higiênico. É
um ato religioso judaico.
Em preparação para o enterro, o corpo é completamente
limpo e envolto numa mortalha simples branca de linho comum. Os Sábios
decretaram que tanto a roupa como o caixão devem ser simples, para
que um pobre não receba menos honra na morte que uma pessoa rica.
O corpo é envolto num talit com seus tsitsit, franjas, rasgadas
para torna-los inválidos.
O corpo não é embalsamado, e os órgãos e fluidos
não devem ser removidos. O corpo não deve ser cremado. Deve
ser sepultado na terra. Os caixões não são obrigatórios,
mas se forem usados, devem ter buracos para que o corpo possa entrar em
contato com o solo. [Este texto, dentro dos colchetes, é de autoria
da Chevra kadisha: É proibido embalsamar o corpo,
pois o sangue do morto faz parte dele e deve ser enterrado com ele. Quando
se faz necessário transportar o corpo para outra localidade, a
Chevra kadisha aplica as técnicas de conservação
de cadáveres permitidas pela tradição judaica e de
acordo com a legislação brasileira.
Dentes de ouro, dentadura, lentes de contato e próteses devem ser
retirados do corpo e não serem enterrados com ele.
É permitido deixar os enlutados verem o falecido antes de fechar-se
o caixão, mas deve-se persuadi-los a não fazê-lo.
Tocá-lo ou beija-lo é proibido.]
O corpo nunca é exibido em funerais; cerimônias com o caixão
aberto são proibidas pela Lei Judaica. É aconselhável
que membros da família imediata se ausentem durante a purificação,
pois embora sua presença pudesse constituir um símbolo de
respeito, é considerado muito doloroso para assistirem. O rabino
pode agendar essa purificação através da Chevra Kadisha.
A tarahá é a maneira milenar judaica de mostrar respeito
pelos mortos. Isso não é meramente um "antigo costume"
ou uma "bela tradição", mas uma exigência
absoluta da Lei Judaica.
Vestir o Corpo
A tradição judaica reconhece a democracia da morte. Portanto,
exige que todos os judeus sejam enterrados com o mesmo tipo de roupa.
Ricos ou pobres, todos são iguais perante D'us, e o que determina
sua recompensa não é aquilo que vestem, mas aquilo que são.
Há 1900 anos, Rabi Gamaliel instituiu essa prática para
que os pobres não se envergonhassem e os ricos não rivalizassem
entre si ao exibir roupas dispendiosas ao serem enterrados.
As roupas a serem vestidas devem ser apropriadas para alguém que
em breve estará em julgamento perante D'us Todo Poderoso, o Mestre
do Universo e Criador do homem. Portanto, devem ser simples, feitas à
mão, perfeitamente limpas e brancas. Estas mortalhas simbolizam
pureza, simplicidade e dignidade. Mortalhas não têm bolsos.
Portanto, não podem levar riquezas materiais. Nem um pertence do
homem, exceto sua alma, tem importância.
A Chevra Kadisha tem um suprimento dessas mortalhas. Se decorrer algum
tempo antes de serem obtidas, o funeral deve ser retardado, pois são
consideradas muito importantes. As mortalhas devem ser feitas de musselina,
linho ou algodão. A regra é que não se deve gastar
muito mais que o preço do linho, mas usar um tecido menos dispendioso.
O falecido deve ser envolto em seu talit – não importa se
é ou não dispendioso, novo ou velho. Uma das franjas deve
ser cortada. Quem não era observante ou acostumado a colocar talit
pode, se desejado, ser enterrado num talit comprado especificamente para
esse fim. A família do falecido deve decidir nesse caso.
O texto
abaixo é de autoria do Rabino Shamai Ende, retirado de seu livro
“Os Últimos Momentos”
A lavagem e a Tahará (purificação)
do corpo
1. É costume judaico lavar a cabeça e o corpo do falecido
com água morna. Esta lavagem deve ser feita somente por judeus, e
normalmente é feita pelos membros da Chevra Kadisha. Parentes como
pai, irmão, cunhado, sogro, e especialmente os filhos não
devem participar desta lavagem.
2. Esta lavagem deve ser feita a portas fechadas, e ninguém além
dos responsáveis pela mesma não pode estar presente.
3. Esta de preferência deve ser feita o mais próximo do enterro,
sendo que não se deve ter uma interrupção entre a lavagem
e o enterrro de mais de 3 horas, salvo se não houver outra opção.
4. Após a lavagem, joga-se sobre o corpo uma quantia de 9 Kabin (pouco
mais de 12 litros) de água para purificá-lo, se enxuga completamente
o corpo, veste-se mortalhas de linho especialmente preparadas, e no caso
de homens, veste-se o Talit por cima das mortalhas (se for possível,
deve se usar o Talit que usava em vida para rezar), envolvendo-o finalmente
com um lençol antes de colocá-lo no caixão.
5. Existem aqueles que costumam, após envolver totalmente o corpo,
chamar os filhos para amarrar o cinto.
6. Como existem muitas leis e costumes relacionados com a lavagem, purificação
e vestimenta, e muitas preces a serem recitadas, como também existem
casos especiais em que esta lavagem não é feita ou feita de
forma diferente, sendo que por estes e outros motivos esta deve ser feita
apenas pelos membros da Chevra Kadisha e aqueles que tem conhecimento e
experiência. |