por Mildred L. Covert  
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  A maior das mitsvot  
   
 

Não são muitos os judeus que estão informados sobre o papel da Chevra Kadisha, (Sociedade Sagrada) e de fato, como está relacionado com a morte, a informação sobre o assunto, mesmo quando disponível, é abafada. Porém, este é um belo aspecto da vida judaica, e se existe alguma mitsvá que exiba o mais elevado grau da prática judaica, talvez seja a obra da Chevra Kadisha.
No decorrer da História Judaica, as comunidades em todo o mundo estabeleceram sociedades funerárias cuja única função era cuidar do falecido, desde a hora da morte até o sepultamento. Isso era feito para assegurar um tratamento digno ao falecido, segundo a lei, tradição e os costumes judaicos.

A Chevra Kadisha é composta de vários homens e mulheres dedicados que cumprem o mais sagrado dos rituais judaicos – a purificação do corpo (Tahara) antes do enterro. Durante o processo, como o Judaísmo exige, tratamos todo ser humano com dignidade e respeito. Os homens preparam homens, a as mulheres preparam as mulheres.

O ritual de Tahara deve ocorrer antes que a pessoa seja enterrada.

Aqueles de nós que cuidam do corpo abordam o falecido com um sentimento de santidade e cumprem os deveres com reverência, respeito, honra e dignidade.

A resposta às perguntas "Por quê?" e "Como?" é bem sintetizada por meio desta citação, extraída de um artigo escrito há muitos anos por Rachel U. Berman, no Jewish Exponent, de Filadélfia: "Finalmente quando a morte vem… o que fica é um senso de imperfeição, uma necessidade de recolhimento espiritual. É enaltecedor saber que neste momento venerável, sou capaz de desempenhar o ato final de amor."

Como membro da Chevra Kadisha de New Orleans, freqüentemente me fazem estas perguntas: "Por que você trabalha com isso?" ou "Como consegue fazer isso?" ou então "Não é deprimente lidar com a morte?" ou ainda: "Como se envolveu?"

Certo dia, há mais de trinta anos, minha mãe, de abençoada memória, telefonou-me. Não era um telefonema social perguntando sobre o meu bem-estar ou o de meus filhos. Era uma ordem. Pois ela não costumava perguntar se você podia fazer algo; era mais do tipo "venha e faça isso". Desta vez, o "isso" era auxiliá-la numa Tahara, pois ela estava com poucas ajudantes.

Eu sabia que minha mãe era membro da Chevra Kadisha, pois já testemunhara como deixava tudo de lado, desde obrigações de negócios até compromissos pessoais, sempre que a funerária ou o rabino a convocavam. No entanto, eu não tinha a menor idéia do que realmente ela fazia. Sabia apenas que sempre que falecia uma mulher judia, ela era a primeira a saber e lá ia ela para o funeral onde estava sendo velado o corpo.

Portanto, quando me chamou, também deixei tudo de lado, encontrei-a na funerária e perguntei-me (com muito interesse) o que desejariam que eu fizesse. Felizmente, minha mãe era uma boa professora e consegui seguir suas instruções. A partir daí comecei um dever que cumpro fielmente até hoje.

Diversas outras mulheres atarefadas também "deixam tudo de lado" quando é feito um chamado deste tipo. São todas mulheres religiosas, dedicadas, com força e coragem para prosseguir nesta freqüentemente difícil missão. São as mulheres e homens aos quais a comunidade judaica é mais agradecida.

Agora, olhando em retrospecto para estes 30 anos de Taharot, cumpri-los é mais que seguir a ordem de minha mãe. É uma obrigação inquestionável de desempenhar um ritual judaico tão sagrado – que encerra o ciclo da vida da maneira mais compassiva, reverente e digna possível.

       
 
       
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