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  Como lidar com o luto?  
  Por Dov Greenberg
 

É natural perguntar-se “Por quê?” num momento de angústia. Uma resposta geral, que é realmente óbvia mas difícil de aceitar num estado de sofrimento emocional, é que não é lógico limitar o Criador em Seus desígnios e ações para que estes se conformem ao entendimento de um ser humano criado.

Embora a alma seja eterna e esteja agora num estado não restringido pelas limitações do corpo, está plenamente cônscia daquilo que acontece na família. Quando vê que é causa de tristeza e luto além dos limites obviamente fica aborrecida e isso não contribui para a paz e felicidade da alma.Para citar uma ilustração simples: não se pode esperar que uma criança pequena entenda as idéias e ações de um professor erudito, embora este tenha sido criança um dia, e a criança de hoje tenha o potencial de sobrepujar o professor no devido tempo. Quanto mais, então, quando se trata da infinita inteligência do Criador face a face com a inteligência finita e limitada de um ser humano.

A diferença entre um ser humano criado e seu Criador é absoluta. Nossos Sábios declaram que um ser humano deve aceitar tudo que acontece, tanto as boas ocorrências quanto aquelas incompreensíveis, com a mesma atitude positiva que “tudo que D’us faz é para o bem”, embora esteja além do entendimento humano.

Esta não é uma revelação tão grande assim mas, como diz a Torá, é difícil para um pessoa aceitar consolo num momento de luto.

Apesar disso, D’us tornou possível aos seres humanos entender alguns aspectos sobre a vida e o pós-vida. Uma dessas verdades reveladas é que a Neshamá (alma) é uma parte da Divindade, e é imortal. Quando chega a hora de ela voltar ao Céu, deixa o corpo e continua sua vida eterna no Mundo da Verdade espiritual.

É também uma questão de bom senso que aquilo que provoca a separação da alma e do corpo (seja um acidente fatal, doença, etc.) pode afetar somente os órgãos vitais do corpo físico, mas não, de maneira alguma, a alma espiritual.

A alma que se foi não pode mais cumprir mitsvot, pois isso é algo que somente pode ser feito em conjunto pela alma e pelo corpo neste mundo material. Mas isso, também, pode ser parcialmente superado quando aqueles que ficaram cumprem mitsvot e boas ações em homenagem, e em benefício, da Neshamá que se foi.Um outro ponto, também compreensível, é que durante a vida da alma na terra em parceria com o corpo, a alma está “incapacitada”, em alguns aspectos, pelas exigências do corpo (como comer e beber). Até um tsadic (pessoa justa) cuja vida toda é consagrada a D’us, não pode escapar das restrições da vida num ambiente material e físico. Conseqüentemente, quando chega a hora de a alma voltar “para casa”, isto é basicamente uma libertação para ela, que faz a sua subida a um mundo mais elevado, não estando mais restrita por um corpo e ambiente físico. A partir de então, a alma está livre para desfrutar a felicidade espiritual da proximidade com D’us de maneira completa. Este certamente é um pensamento reconfortante.

Alguém poderia perguntar: Se é uma libertação para a alma, porque a Torá prescreve períodos de luto? Não há uma contradição aqui. A Torá reconhece os sentimentos naturais de tristeza sentidos pela perda de um ente próximo e querido, cuja morte deixa um vazio na família. A presença física e o contato com o ente querido serão sentidos profundamente. Portanto, a Torá prescreve determinados períodos de luto para dar expressão a esses sentimentos, e para tornar mais fácil recuperar o próprio equilíbrio e ajustamento.

No entanto, entregar-se a estes sentimentos além dos limites estabelecidos pela Torá – além de ser um desserviço a si mesmo e aos outros, bem como à Neshamá – significaria que a pessoa está mais preocupada com os próprios sentimentos que com os sentimentos da Neshamá que ascendeu a novas alturas espirituais de felicidade eterna. Assim, paradoxalmente, o prolongamento excessivo dos sentimentos de tristeza, devido ao grande amor pelo ente querido que partiu, na verdade causa sofrimento ao ente querido, pois a Neshamá continua a interessar-se pelos parentes que ficaram para trás, vê o que está acontecendo (melhor ainda que antes) e se alegra com eles quando estão felizes, etc.

Não deve ser esquecido que até um evento triste vem de D’us, portanto não pode haver dúvida de que há nele um bom propósito.Embora a alma seja eterna e esteja agora num estado não restringido pelas limitações do corpo, está plenamente cônscia daquilo que acontece na família. Quando vê que é causa de tristeza e luto além dos limites do razoável estabelecidos pela Torá, obviamente fica aborrecida e isso não contribui para a paz e felicidade da alma.

Mesmo durante a estada da alma nesta vida, o vínculo real entre a pessoa e os membros da família não são físicos, mas espirituais. O que faz a pessoa não é a sua carne, mas seu caráter e qualidades espirituais. Este vínculo permanece e todos aqueles que amaram a pessoa deveriam tentar levar mais gratificação e elevação espiritual à Neshamá por meio de maior apego à Torá em geral, e particularmente no âmbito relacionado com a partida da alma. Ou seja, observar aquilo que é prescrito para o período de Shivá mas não estendê-lo, e da mesma forma, com o período de Shloshim (trinta dias) mas não além disso, e então servir a D’us por meio do cumprimento de Suas mitsvot como o serviço deveria ser – com alegria no coração.

A alma que se foi não pode mais cumprir mitsvot, pois isso é algo que somente pode ser feito em conjunto pela alma e pelo corpo neste mundo material. Mas isso, também, pode ser parcialmente superado quando aqueles que ficaram cumprem mitsvot e boas ações em homenagem, e em benefício, da Neshamá que se foi.

Shivá é um período de luto pela alma de um ente querido que retornou ao Mundo da Verdade. Uma alma judaica é descrita na Torá como “a lamparina de D’us”, pois seu propósito nesta terra é divulgar a luz da Divindade. Sua partida desta terra é um motivo para o luto da maneira prescrita na Torá. Porém, juntamente com isso, não se deve esquecer que a alma é eterna. Também não deve ser esquecido que até um evento triste vem de D’us, portanto não pode haver dúvida de que há nele um bom propósito.

Porém o objetivo essencial de Shivá é que “os vivos devem refletir em seu coração” (Cohêlet 7:2). Isso significa que aqueles que ficaram para trás devem examinar seu coração e reavaliar-se. Devem tentar aperfeiçoar-se em áreas da vida diária que são reais e eternas – i.e., Torá e mitsvot. Na verdade, como a alma que ascendeu ao Céu deixou uma lacuna de boas ações descontinuadas aqui na terra, os parentes e amigos devem fazer uma compensação por meio de esforços adicionais de sua parte.

     
 
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