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O
estudo de Torá não é permitido durante a shivá,
pois é considerado uma fonte de profundo deleite. Como a própria
Torá o expressa: "As leis de D'us são justas e rejubilam
o coração." Torna-se não apenas uma fonte de
alegria, como um meio de distração para o desespero do enlutado.
Este prazer, mesmo vindo de uma fonte sagrada como o estudo de Torá,
está proibido durante o período inicial do luto. Assim,
embora o enlutado não possa estudar a Bíblia e os Profetas,
o Talmud e o Midrash, pode ler o Livro de Iyov, a história do clássico
enlutado. Pode ler também a poesia de angústia, o Livro
das Lamentações (lido em Nove de Av, quando comemoramos
a destruição do Templo), e também partes de Yirmiyáhu
que predizem destruição. Ele pode ler também as leis
do luto e estudar livros sobre comportamento ético.
No entanto (e isso é bastante característico da tradição
judaica de estudo de Torá), ele não deve estudar esses livros
em profundidade, pois pode descobrir nono entendimento ou vislumbrar novas
percepções aos complexos atalhos da lógica talmúdica,
e isso traria a ele a sublime alegria tão bem conhecida daqueles
que experimentaram os profundos prazeres da erudição.
Um interessante exceção a essa lei é citada no Talmud
Jerusalém, que diz que aquele que tem um insaciável desejo
de estudar pode fazê-lo. Porém, fica a pergunta: o propósito
da proibição é negar ao enlutado o deleite de aprender
que este homem, que anseia pelo estudo, certamente terá; com certeza
isso não deveria ser proibido? A resposta é que a exceção
é feita para esse homem assim como é feita por alguém
que poderia ficar doente ao observar as leis do luto e que, portanto,
está isento dessas leis! A lei proíbe o prazer; ela não
ordena o sofrimento. O Talmud reconheceu que é inteiramente possível
que aquele que anseia tanto pelo estudo pode ficar fisicamente enfermo
quando é impedido de fazê-lo. Nesse caso, decretou o Talmud,
ele tem permissão de estudar.
Além disso, surge a questão sobre se um erudito que descobre
uma nova interpretação, e fica empolgado com sua descoberta,
pode registrá-la por escrito. A resposta simples deve ser que escrever
não é uma forma permitida de trabalho para o enlutado, assim
como não é permitida em chol hamoed, os dias intermediários
de Pêssach e Sucot. No entanto, no que tange a anotar novas idéias
em Torá, isso é igual a um homem que, normalmente proibido
de fazer negócios durante shiva, pode fazê-lo se o contrário
lhe causaria grande perda financeira.
"Como são boas as tuas tendas, ó Yaacov, as salas de
estudo, ó Israel!" Devemos focar constantemente maravilhados
pela rica tradição da qual somos herdeiros, e desolados
pela negligência da nossa época. Tal glorificação
da mente e da alma pode ser encontrada um qualquer outra página
da literatura mundial? Existem Boswells suficientes para escreverem as
biografias de tantos trabalhadores assolados pela pobreza que anseiam
pelo estudo? Existem historiadores com sabedoria suficiente para analisar
o magnífico consolo que a Torá trouxe a um povo disposto
a tolerar qualquer privação, até a própria
morte, em prol dela?
A partir das leis do luto temos um vislumbre da eterna lei da vida judaica
– o amor à Torá.
O enlutado pode ensinar, se for esta a sua profissão? Como indicado
acima, aquele que precisa ensinar Torá a um grupo de pessoas, quando
não há outro para substituí-lo, pode continuar a
ensinar durante shiva. Da mesma forma, alguém que ensina a jovens,
se não houver outro professor disponível pode trabalhar
até no primeiro dia de luto.
Não é permitido impedir alunos de estudarem, mesmo se as
leis do luto devem ser temporariamente suspensas. Além disso, alguém
que está acostumado a ensinar os próprios filhos não
deve sacrificar sete dias de estudo de Torá, mas continuar a ensiná-los
durante shiva. Embora o enlutado possa continuar a lecionar nessas circunstâncias,
deve fazê-lo da maneira mais discreta possível, e fazer alguma
mudança perceptível de estilo, que embora insignificante
em si mesma, transmita o fato de que ele está fazendo uma exceção
às leis do luto.
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