Você ficou
trabalhando até tarde no escritório. Vai até o
estacionamento e nota como está deserto. Olha em torno, nervosamente,
Pelo menos não há muitos carros, tudo está visível.
Ou então você ficou fazendo compras até o shopping
fechar. Quando chegou, o estacionamento estava cheio. Agora está
praticamente vazio. Você pode ver seu carro, sozinho naquela ala,
e alguns poucos carros espalhados.
Qualquer que seja o caso, você chega ao carro e procura a chave.
Nervoso, mexe no chaveiro, tentando encontrar a chave certa. Sem conseguir.
E de repente percebe que a deixou no escritório – e não
pode entrar lá até a manhã seguinte. Ou então
você vê a chave no banco do motorista, onde a deixou cair.
Você está trancado para fora.
Talvez você chegue tarde em casa, vindo de uma viagem de negócios.
Está com a chave. Mas quando chega à porta, percebe que
há uma corrente a fechando.
Você está trancado para fora.
Você pode usar o celular para chamar alguém ou acordar
um membro da família. Mas por um instante, sente um certo desespero.
É diferente do medo que talvez sinta até chegar ao carro
ou à casa, um temor do desconhecido. Mas isso que sente agora
é frustração. É seu carro, sua casa. Por
que não consegue entrar? Você se sente indefeso, sente
que ficar trancado para fora é muito pior que o medo que sentiu
minutos atrás.
É como se você tivesse sido rejeitado, barrado daquilo
que lhe pertence. Não está certo. Ninguém deveria
ser barrado daquilo que lhe pertence.
Às vezes, infelizmente, sentimo-nos trancados para fora de nossa
vida, fora de nossa alma – ou seja, fora do Judaísmo. Talvez
seja porque não recebemos aquela educação. Sentimo-nos
ignorantes quando entramos na sinagoga, furiosos ou constrangidos por
não sabermos hebraico. Sentimo-nos desajeitados ao cumprir uma
mitsvá pela primeira vez; deveríamos saber isso. Quando
nos sentamos numa aula ou assistimos a uma palestra, e o rabino está
fazendo uma citação do Talmud, Torá ou Maimônides
e não sabemos qual é qual, não nos sentimos bem.
E quando rezamos, é aí que nos sentimos mais trancados
para fora. As palavras parecem tão estranhas, ocas, artificiais.
Olhamos em volta e vemos os outros de olhos fechados, concentrados,
expressões de júbilo; ouvimos a alegria, ou pelo menos
o sentimento expresso na canção. E tudo aquilo parece
vir do outro lado de uma parede, um lugar onde não temos permissão
de ir. Temos vontade de dar as costas, de rejeitar aquilo que parece
nos excluir, negar uma impotência que não podemos refutar.
Nossos Sábios nos dizem que os portões da prece estão
sempre abertos. E há muitas histórias que demonstram e
enfatizam o poder da prece simples dita com sinceridade.
O mesmo se aplica ao estudo de Torá, ou às mitsvot. Rabi
Akiva, o erudito mais notável do seu tempo, somente começou
a estudar aos quarenta anos. E ele aprendeu e observou uma letra, uma
mitsvá, um passo por vez.
D'us não nos tranca para fora. Nós nos trancamos para
fora. Mas Ele nos dará a chave, se O deixarmos. Tudo que temos
de fazer é pedir.
Quando Mashiach vier, "nenhum judeu será deixado para trás".
Não importa o que somos, espiritualmente, a Redenção
abre suas portas. Pois D'us nunca nos tranca para fora.