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Parashá Emor
Infelizmente, as pessoas nem sempre são justas. Se alguém
informar a você que não pode ter um determinado trabalho
devido a um defeito físico, seja o trabalho de médico, advogado
ou Chefe da Tribo, a maioria das pessoas diria: "Ei, meu senhor,
isso não é justo!" Entretanto, todos esperam que D’us
seja justo, se não na prática, pelo menos nas regras escritas.
Eis por que muitos sábios através dos tempos têm discutido
a parte aparentemente não igualitária da porção
desta semana da Torá, que trata das leis dos Cohanim. Após
descrever vários detalhes de como um Cohen deveria manter-se especialmente
puro, D’us diz a Moshê que um Cohen com qualquer defeito físico,
como cegueira, eczema ou mesmo um pé quebrado não poderia
aproximar-se do Mishcan para realizar o serviço sacerdotal de trazer
oferendas, pois isso "profanaria Meu local sagrado" (Vayicrá
21:23).
Como pode ser? Nossa religião não é para aperfeiçoamento
interior, onde o Criador nos julga pelos nossos pensamentos e ações,
não pela nossa aparência pessoal?
Na prece fundamental do Shemá, está escrito que devemos
servir a D’us "com todo nosso coração e toda
nossa força" e Ele ficará satisfeito conosco. O salmo
Aishet Chayil, recitado toda sexta-feira à noite como um louvor
às mulheres da casa, informa-nos que "o encanto é falsidade
e a beleza é vã, mas uma mulher que teme D’us, essa
deve ser louvada." Então, como pode uma pessoa que tem a infelicidade
de ser cega ou desenvolver uma doença de pele ser excluída
do serviço de D’us, se possui um bom coração?
Convenientemente, Rabi Meir Simcha HaCohen de Dvinsk faz a mesma pergunta,
e nos dá a resposta em duas partes. A primeira é a mais
óbvia – pois D’us é o árbitro daquilo
que constitui a verdadeira justiça, e tudo que Ele faz é
justo por definição. As leis a respeito das oferendas são
chukim e podemos apenas adivinhar as razões pelas quais Ele deseja
que certas pessoas estejam envolvidas neste serviço, e outras sejam
excluídas.
Isso nos ensina que não devemos aplicar nossos limitados ideais
humanos de "justiça" às ações de
D’us. Esta resposta é mais compreensível no caso de
um Cohen que nasceu com um defeito. Entretanto, isso não é
realmente compreensível no caso de alguém que D’us
considerou merecedor quando anteriormente desempenhou o serviço
sacerdotal, mas agora foi golpeado por essa lista. Devemos portanto assumir
que esta pessoa tornou-se desmerecedora de servir, através de algum
pecado ou ato que cometeu.
Mas certamente há pessoas defeituosas que são mais justas
que outras saudáveis.
Rabi Meir Simcha responde a isso de uma maneira judaica clássica,
fazendo outra pergunta: Se deveria haver desqualificações,
por que D’us simplesmente não dizia ao profeta da época
quais pessoas haviam pecado, e o profeta as desqualificaria do serviço
sacerdotal?
Rashi declara que o fato de a Torá escrever a palavra "defeitos"
uma vez mais (ibid. 21:21), após já ter listado vários
exemplos, ensina-nos que qualquer defeito físico é motivo
para desqualificação, mesmo um que não seja aparente
ou visível de imediato. Portanto, explica Rabi Meir Simcha, o defeito
físico é uma maneira de D’us enviar uma mensagem direta
à pessoa afligida que, mesmo se suas ações parecem
ser puras externamente, podem existir falhas internas ou um traço
de caráter que ele precisa remediar.
O defeito de forma alguma significa que ele é "mau" ou
"pecador"; ao contrário, sugere que há um pequeno
atributo ou atividade que ele precisa aperfeiçoar antes de retomar
o serviço sacerdotal. Talvez apenas o próprio Cohen possa
descobrir esta falha através de sua própria introspecção,
enquanto as "autoridades religiosas" da época possam
ser incapazes de encontrar o problema interno.
Esta lição de responsabilidade pessoal não se aplica
apenas aos Cohanim. Cada um de nós, em nosso próprio nível,
deve manter nosso relacionamento único com D’us e responder
às sutis mensagens que Ele envia constantemente em nossa direção.
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