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  O rosto de um herói
  por Chana Weisberg
 

Roi Klein. Um nome que até alguns dias, nada significava para mim. Era um completo estranho, sobre quem eu jamais ouvira falar e a quem nunca encontrara. Porém uma imagem dos últimos segundos de sua vida não saem da minha mente. Roi era um filho. Era um irmão, Era marido de Sara e pai de Gilad, com três anos, e Yoav, com um aninho. Mas acima de tudo, Roi foi um herói para todos nós. Foi um rosto e um nome junto com os muitos heróis judeus no decorrer das gerações.

O funeral de Roi foi na quinta-feira 27 de julho, o dia que teria sido seu 31º aniversário. Major Roi Klein era o soldado encarregado da Brigada Golani, Foi morto na quarta-feira dia 26, numa emboscada entre as casas de Bint Jbail, uma aldeia ao sul do Líbano. Os terroristas do Hesbolá assassinaram oito soldados, incluindo Roi, e feriram quase duas dúzias deles.

Havia mais dois soldados perto de Roi. Uma granada de mão foi jogada sobre eles e Roi gritou: "Granada!" Atirou então seu corpo sobre ela, sacrificando a vida em prol dos seus soldados, que mais tarde atribuíram o fato de estarem vivos ao seu ato de desprendimento.

Em seus últimos segundos de vida, Roi reuniu a coragem para gritar "Shemá Yisrael", a prece que os judeus têm rezado há séculos, declarando nossa crença em D'us e num mundo melhor; a prece que tantos mártires judeus em todas as gerações clamaram ao serem levados para a morte.
Minha mente não consegue parar de imaginar como devem ter sido aqueles últimos segundos de sua vida, quando Roi tomou a decisão instantânea de saltar sobre a granada. Imagino Roi vendo sua querida família com os olhos da mente – sua esposa e os dois filhos pequenos, que agora crescerão conhecendo-o apenas através das histórias contadas sobre ele ou por fotografias.

Imagino Roi pensando sobre o sofrimento de seus pais idosos; a mãe, Shoshana, cuja voz falhou ao gritar sobre o túmulo do filho: "A dor é insuportável… Cuidaremos das crianças e as criaremos segundo o seu exemplo…"

E imagino Roi vendo a colônia Eli numa colina na Margem Ocidental, onde ele e a esposa com idealismo fizeram seu lar, apesar daqueles que desejavam derrubá-la. Foi por estes entes queridos que Roi serviu nas unidades especiais da Brigada Golani e Tropa de Paraquedistas. Foi por eles, e pelos ideais representados pela prece Shemá Yisrael, que Roi corajosamente alistou-se no Serviço Militar, avançando até o ponto em que logo teria sido promovido a comandante do batalhão.

Que enorme contraste entre Roi e seu inimigo.

Roi estava lá para assegurar a existência pacífica do seu povo em seu país. Estava lá para proteger as vidas inocentes de seus filhos e sua nação. Para assegurar que as pessoas poderiam viver em seus lares com paz e tranqüilidade. Para garantir que eles poderiam continuar suas atividades do dia-a-dia. Atividades como comprar num shopping center sem ser explodido em pedaços, fazer uma refeição em família numa pizzaria sem se preocupar com estilhaços voando, rezar numa sinagoga sem ter de correr para um abrigo anti-bombas, ou colocar os filhos num ônibus escolar sem se preocupar com balas atingindo o veículo.

Roi estava lá para defender seu povo contra aqueles que juraram destruí-lo. Até em sua morte, ele sacrificou a própria vida para assegurar que dois companheiros pudessem viver.

Em minha mente, consigo visualizar também seu inimigo. Está lá para causar o máximo de morte, destruição e devastação que puder. Está ansioso para enviar seus jovens com cintos recheados de bombas e pregos em missões "suicidas", desde que ao morrerem consigam assassinar também o máximo possível de judeus. Ele está lançando foguete após foguete em cidades judaicas densamente povoadas para que hospitais que cuidam dos doentes, além de casas para idosos, sejam destruídos juntos com a vida daqueles ali dentro.

O inimigo de Roi estava disposto a morrer para levar morte e luto na maior escala possível; Roi estava disposto a morrer para garantir vida e liberdade para outros, para preservar um mundo no qual judeus possam rezar a D'us nas sinagogas, cumprir os mandamentos Divinos e tornar nosso mundo um lugar melhor, mais moral e mais consciencioso.

Esta é a terceira vez nesse último século que o povo judeu se encontra na linha de frente contra aqueles que buscam sua aniquilação.

Para os nazistas, o judeu era uma raça impura a ser exterminada como insetos. Para os comunistas soviéticos, a religião judaica era um espinho no flanco, e devia ser erradicada. E para os extremistas islâmicos, os judeus e seu país devem ser eliminados da face da terra.

Menos de um século se passou desde que os judeus caíram no gulag soviético com o Shemá nos lábios pelo mero "crime" de observar casher ou guardar o Shabat em suas casas. Pouco mais de meio século passou desde que o eco do Shemá ressoou nas câmaras de gás nazistas, onde judeus foram asfixiados e depois queimados nos crematórios apenas porque nasceram judeus.
E agora Roi Klein seguiu o caminho desses mártires, morrendo com o grito de Shemá nos lábios no ato de defender seu povo daqueles que, mais uma vez, desejam destruí-lo.

Roi não é um estranho, afinal. Ele é marido, filho e irmão nosso. Sua face é o rosto de cada um dos nossos heróis e mártires.

       
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