25 anos
Formado em medicina pela UFRJ.
Ao ser
convidado para escrever sobre o que me tornou um judeu observante, prontamente
pensei que ninguém se interessaria pela minha história,
já que nada de extraordinário se passou. Nenhuma tragédia,
graças a D-us, nem nada maravilhoso ou milagroso.
No entanto, depois pensei que justamente por isso o meu relato poderia
ter importância. Primeiro para mostrar que nada disso tem que
acontecer para que uma pessoa tente viver de acordo com o que é
certo e de acordo com os seus ideais. Também, porque o próprio
judaísmo nos ensina a valorizar a nossa alma, o que inclui dar
importância a nossa vida interior.
Estudei em colégio judaico não religioso e, no ensino
médio, em escola não judaica. Até cerca dos 17
anos, a despeito de certa sensação de inadequação
que não se refletia exteriormente, tinha uma vida interior e
exterior bem comum e boa para um adolescente. Bons amigos, amor da família
e boas notas. Na verdade, talvez, a única excentricidade tenha
sido a ausência de grandes conflitos que esta fase normalmente
traz. Depois que passei no vestibular de medicina me senti mais à
vontade para explorar um pouco mais este vago sentimento que eu tinha
e comecei a ler livros sobre psicologia e filosofia. Comecei com Nietzche
, Schoppenchauer, Freud e outras leituras variadas. Nada que me satisfizesse
muito, mas eu gostava de saber que grandes gênios tinham visões
de mundo parecidas com as minhas. Eu ainda não sabia que, na
verdade, eu tinha essas visões justamente porque eles as tinham
impingido a sociedade e, por conseguinte, a mim. Basicamente, esta visão
consistia no coletivismo, materialismo, ateísmo, cientificismo
e anti-tradicionalismo.
Até que, certo dia, me deparei com um artigo de jornal do professor
Olavo de Carvalho, filósofo brasileiro, que falava sobre política.
Após a leitura cheguei a seguinte conclusão: ou eu era
um completo ignorante em política ou ele era louco. Após
ler outros textos do filósofo e checar as fontes percebi que
a primeira opção era a correta! Então, entendi
também que minha ignorância não era apenas na política,
mas geral! Percebi que as minhas opiniões juvenis eram apenas
um reflexo do que é transmitido pela mídia, escolas e
livros que se destacam nas livrarias. Aos poucos com novas leituras
como as publicações do próprio Olavo, livros de
filosofia grega clássica, e outros mudei por completo minha visão.
Passei a entender que movimentos revolucionários como o comunismo
(e não só o nazismo) foram um dos maiores males que o
homem já produziu, que um homem tem que viver de acordo com o
que é certo e bom (mesmo que isto possa significar menor comodidade),
que a ciência era bastante limitada, que as tradições
religiosas tinham valor, que nós tínhamos uma alma e,
finalmente, que o D-us de Avraham, Yitzchak e Yaakov existia.
Só a partir daí que comecei a me interessar pelo judaísmo.
Comecei lendo livros de Abraham J.Heschel, Aryeh Kaplan e até
Maimônides. Foi quando vi que a Torá tinha uma profundidade
imensurável e que ela ia bem além da filosofia. Então,
seguindo o conselho do Platão de que “verdade conhecida
é verdade obedecida” contactei o Beit Lubavitch mais próximo.
Fui muito bem recebido, especialmente, pelo rabino Chaim Broner e comecei
a freqüentar tanto o cabalat shabat quanto as aulas do rabino Chaim.
Fiquei bem impressionado tanto com os estudos de chassidut quanto com
o modo de vida chassídico muito bem exemplificado por este jovem
rabino.
Ao mesmo tempo, nesta época, já estava concluindo a faculdade
de medicina e tomei a decisão de que tinha que recuperar, ao
menos parcialmente, o tempo perdido sem o estudo e cumprimento da nossa
sagrada Torá. Então, após a formatura fui a uma
yeshivá chabad em NY onde fiquei estudando por pouco menos que
1 ano. Lá, graças a D-us pude estudar bastante e aumentar
também meu nível de observância. Voltei há
pouco e agora divido meu tempo entre o estudo da Torá, a preparação
para a prova de residência no final deste ano e escrever no meu
blog sobre Torá e chassidut - Farbrenguen.
Hoje, olhando para trás, entendo que D-us me guiou, pois sem
a condução Dele, não sei para onde estes estudos
seculares poderiam ter me levado.
Caro leitor, se você fosse informado de que você tem plenos
direitos a uma grande herança, mas ela parece um pouco difícil
de ser adquirida de fato. O que você faria? Claro que faria tudo
para ficar com ela! Na verdade, a Torá é muito maior que
qualquer bem material que possamos receber. Felizmente, em geral, precisamos
apenas de um pequeno esforço inicial e, depois, D-us nos ajuda
a agarrá-la firme! Não deixe de fazê-lo: vá
a uma aula de Torá e acrescente uma mitsvá ao seu dia-dia!
Gradativamente, você vai querer mais!