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Aaron Feuerstein
Em dezembro de 1995, o empresário americano Aaron Feuerstein
tinha acabado de chegar em casa, vindo da sua festa de 70º aniversário,
quando um telefonema o informou de que sua tecelagem Malden Mills em Lawrence,
Massachussets tinha se incendiado. Vinte e seis empregados ficaram feridos,
alguns gravemente.
Três mil pessoas trabalhavam na Malden Mills. Quando os empregados
viram a devastação causada pelo incêndio, presumiram
que, como disse um trabalhador: “O fogo está fora de controle.
Nossos empregos se foram.”
O incêndio estava de fato fora de controle, mas Feuerstein não
estava. Judeu observante que estuda o Talmud diariamente, Feuerstein lembrou-se
como seu pai citava o aforismo talmúdico: “Num local onde
não há um homem, seja homem” (Ética dos Pais
2:5). Logo após o incêndio, ele encontrou-se com mil empregados
e disse a eles; “Quando todas as tecelagens em Lawrence correrem
para conseguir mão-de-obra mais barata, nós faremos pé
firme. Vamos ficar e reconstruir.”
Dois dias depois, vencia o pagamento dos salários. “Pague
a todos o salário completo,” ordenou Feuerstein. “E
em dia.” Juntamente com os cheques de pagamento, Feuerstein incluiu
um bônus de $ 275 para a época de festas do Ano Novo, e uma
mensagem: “Não se desesperem. D’us abençoe cada
um de vocês.”
No dia seguinte, Feuerstein convocou um reunião com os empregados
e anunciou: “Pelos próximos 30 dias, talvez um pouco mais,
todos os funcionários receberão o salário completo.”
Trinta dias se transformaram em 90, enquanto ele arranjava instalações
temporárias. O custo total do apoio aos empregados depois do incêndio
chegou a 25 milhões.
Mais tarde naquele dia, Feuerstein, um líder em filantropia que
sempre ajudava causas de Torá e diversos projetos humanitários,
prosseguiu em sua rota anual ao redor da cidade, desembolsando $80.000
em prol de organizações como o Exército da Salvação,
Vizinhos em Necessidades e a
Cozinha de Sopas Pão e Rosas.
A lei americana ou judaica exigiam que Feuerstein agisse como ele fez?
Não. É por isso que suas ações generosas receberam
reconhecimento nacional, e foram o tema de numerosos artigos em revistas
e jornais. (Veja a história detalhada em “Um Chefe em Um
Milhão,” na Seleções de Readers Digest de outubro
de 1996.)
Definindo a fé para outros
Além de sentir compaixão por seus empregados e
desejar reconstruir sua empresa, Feuerstein exemplificou o valor judaico
mais exaltado – santificar o Nome de D’us, ou em hebraico,
Kidush Hashem. O Talmud narra uma história que ilustra o significado
deste termo. O Sábio Rabi Shimon ben Shatach encontrou uma pedra
preciosa de grande valor pendurada no pescoço de um jumento que
ele tinha comprado de um não-judeu. Recusando-se a ceder aos pedidos
de seus discípulos que insistiam com ele para ficar com o tesouro
que a Providência tinha lhe enviado, ele devolveu a pedra, dizendo:
“Eu comprei um burro, não uma pedra preciosa.” O árabe
que testemunhou a integridade do Sábio exclamou: “Bendito
seja o D’us de Simeon ben Shatach.”
O Nome de D’us é santificado quando aqueles que alegam ter
um relacionamento com Ele agem de maneira a tornar evidente como a fé
transforma uma vida. Simeon ben Shatach não teria colocado sua
reputação em risco nem violado a lei nacional se tivesse
decidido ficar com a pedra. Ao devolvê-la, fez um homem dizer: “Se
este comportamento é filho da fé, então vale a pena
ter fé.”
Enfatizando a que grau as atitudes das pessoas para com D’us são
afetadas pelas ações de pessoas religiosas, o Talmud comenta:
“E amarás ao Eterno teu D’us" (Devarim 6:5); isso
significa que você deverá fazer com que D’us seja amado
por meio de suas ações. Assim, se uma pessoa estuda Torá
e Mishná e é honesta em seus assuntos comerciais, fala gentilmente
com os outros, o que as pessoas dizem sobre ela? Infeliz de quem não
estudou Torá. Este homem estudou Torá; veja como suas maneiras
são nobres, como são boas as suas ações”…
Mas quando alguém estuda Torá e Mishná… mas
é desonesto nos negócios, não fala gentilmente com
as pessoas, o que dizem dele? “Infeliz aquele que estuda Torá…
Este homem estudou Torá; olhe como seus atos são corruptos,
como seus modos seus feios.’” (Talmud Babilônia, Yoma
86 a)
Quando não-judeus com quem você interage sabem que você
é judeu, você não é mais meramente um indivíduo.
Para o melhor e para o pior, você se torna um embaixador do povo
judeu para o mundo não-judeu. Quando você age com nobreza
e ética, traz honra a si mesmo, ao povo judeu e ao próprio
D’us.
Nossa nova oportunidade
Jamais nos últimos dois mil anos as oportunidades foram
maiores ou os riscos tão altos. Pela primeira vez vivemos em sociedades
plurais nas quais os judeus têm a oportunidade de participar em
todos os processos políticos, éticos e culturais em igualdade
de condições. Jamais houve uma época em que as virtudes
judaicas têm sido mais admiradas pelos não-judeus. Somos
admirados por nossa forte vida em comunidade, o calor da família
judaica, nossa paixão pela educação, nosso compromisso
com a filantropia. Isso significa a chance de termos voz de destaque nas
conversações morais da humanidade.
Um bom exemplo disso pode ser a comovente carta que Ronald Reagan escreveu
ao Rebe em 1982: “Você tem muito do que se orgulhar. Desde
os seus primeiros momentos nos Estados Unidos em 1941, partilhou seu dom
pessoal de compreensão universal em benefício de todos.
Repetidas vezes, seu amor e orientação espiritual levaram
esperança e inspiração àqueles que enfrentavam
o desespero. Ao trazer consolo e conforto ao espírito humano, você
ajudou a fortalecer o alicerce da fé que é o bem mais vital
da humanidade. A obra de sua vida tem sido uma resposta àquele
chamado especial que poucos têm o privilégio de ouvir.”
Na verdade todos temos um chamado especial; no âmago do pacto no
Monte Sinai os judeus foram convocados por D’us para se tornarem
um reino de sacerdotes e uma nação sagrada.
Como judeus somos conclamados a nos engajar em Ticun Olam, “aperfeiçoar
o mundo” sob a soberania de D’us. Somos ordenados a nos tornar
“parceiros do Eterno, bendito seja, na obra das criações.”
Por isto possuímos a capacidade de influenciar positivamente todas
as pessoas, elementos e eventos do nosso mundo; podemos nos tornar “uma
luz entre as nações” ao preenchermos nossa vida com
santidade e nobreza. Através da integridade com que conduzimos
nossa vida comercial ou profissional, pela graça que trazemos aos
nossos relacionamentos, pela beleza que irradia dos nossos lares, pela
maneira de usarmos palavras que curam e não que ferem, cada um
de nós pode santificar o Nome de D’us no mundo.
Matthew Arnold, o grande historiador e filósofo não-judeu,
escreveu certa vez: “Enquanto existir o mundo, todos que quisrem
fazer progresso em justiça irão a Israel em busca de inspiração,
ao povo que teve o senso de justiça mais brilhante e mais forte.”
150 dólares que mudaram uma vida
Em 1978, Shlomo Carlebach, popular compositor e cantor judeu,
deu um concerto em Dubrovnik, Iugoslávia. Quando o concerto terminou,
Reb Shlomo viu um jovem chorando. “Sagrado irmão,”
perguntou ele, “por que está chorando tanto assim?”
O homem, um não-judeu, disse que tinha acabado de ganhar uma bolsa
de estudos para uma faculdade de Medicina em Paris, mas não tinha
o dinheiro para a passagem de avião. Naquele mesmo dia, lhe tinha
sido negado um empréstimo. “Quanto é o valor da passagem?”
perguntou Reb Shlomo. “Cento e cinquenta dólares.”
Reb Shlomo pesquisou nos bolsos e tirou todo o dinheiro que tinha, Contou
o valor e entregou-o ao jovem, que ficou perplexo.
“Você nem sequer me conhece. Como sabe que pagarei de volta?”
“Não é um empréstimo,” respondeu Reb
Shlomo. “É um presente.” O homem foi categórico
em dizer que não queria caridade, e pretendia pagar de volta o
dinheiro. Reb Shlomo anotou seu nome e endereço, então acrescentou:
“Pague-me apenas quando realmente puder.”
Dez anos depois chegou um envelope vindo de Dubrovnick à Sinagoga
Carlebach em Manhattan, juntamente com um cheque de $ 150 e uma nota:
“Devido à sua grande bondade, agora sou um médico
bem-sucedido em Dubrovnick, com um consultório que progride. Devo
tudo a você, e jamais o esquecerei, pelo resto da minha vida.”
(Mandelbaum, Holy Brother, 75-76)
Há um antigo ditado judeu: Quando está muito frio, há
duas maneiras de se aquecer. Uma é vestir um casaco de pele. A
outra é acender um fogo. Vista um casaco de pele e mantenha-se
aquecido. Acenda um fogo e partilhará seu calor com os outros.”
Nós judeus fomos encarregados de partilhar nosso calor com os outros
e acender o fogo e a compaixão de D’us pelo mundo. Este é
nosso chamado. Este é nosso destino.
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