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  Possibilidades
 
Por Simon Jacobson
 

Moshê entendia o aspecto mais básico da natureza humana:
precisamos que alguém acredite em nós


“O que sou realmente capaz de conquistar” é uma das maiores questões na vida. A porção desta semana da Torá nos esclarece quanto a possibilidades quase impossíveis.

Quando mais jovem, você teve um mentor – talvez um amigo, um professor ou um colega – que o motivou a atingir grandes alturas? Se teve, sinta-se abençoado. Se não teve, é difícil descobrir o que você perdeu. Mas nem tudo está perdido.

Moshê, o líder por excelência, o supremo mentor, exige – e com efeito nos habilita – a atingir o inimaginável.

Na porção desta semana da Torá Moshê diz: “E agora, Israel, o que D'us deseja de vocês? Somente que adorem a D'us, que trilhem todos os Seus caminhos, que O amem e sirvam a Ele de todo o coração e com toda tua alma; que cumpram os mandamentos de D'us e Seus estatutos, que eu ordeno a vocês neste dia para o seu bem?” (10:12)

O Talmud pergunta: “Reverência a D'us é uma coisa menor [pois Moshê diz “somente para ser em reverência a D'us”]” E o Talmud responde: “Sim, para Moshê é uma coisa menor” (Talmud, Berachot 33 b).

No Tanya é perguntado: “À primeira vista, a resposta [do Talmud] é incompreensível, pois o versículo diz: “O que D'us pede a você” [não a Moshê!]. “Porém a explicação é a seguinte: Toda e cada alma contém dentro de si algo da qualidade de nosso mestre Moshê, pois ele é um dos “sete pastores” que inspiraram vitalidade e Divindade à comunidade das almas de Israel… Moshê é a soma deles todos, chamado o “pastor da fé” (raaya meheimna) no sentido em que ele alimenta a comunidade com a sabedoria e reconhecimento de D'us… Portanto, embora homem nenhum ouse presumir em seu coração atingir sequer a milésima parte do nível do pastor fiel, mesmo assim uma partícula infinitesimal de sua grande bondade e luz ilumina todos em toda e cada geração” (Tanya cap. 42).

Em outras palavras, cada um de nós tem dentro da alma uma dimensão onde servir a D'us é relativamente “fácil”, e algo “menor” a realizar!

Mas o que isso significa exatamente? O fato empírico é que mesmo para a pessoa mais temente a D'us, levar uma vida virtuosa e espiritual não vem facilmente. A vida para a maioria de nós consiste numa batalha entre o bem e o mal, espírito e matéria, autoindulgência e transcendência – entre os anseios egoístas do narcisismo material e o compromisso com uma chamado mais alto, com frequência vence o primeiro.

Na verdade, o moderno pensamento secular vê o ser humano como um animal evoluído, uma bactéria com um bilhão de anos, cujo impulso fundamental é a sobrevivência (“sobrevivência do mais apto”). Da biologia à psicologia, da genética à arqueologia – de Darwin a Freud – aprendemos que os seres humanos são impulsionados pelo “id” irrarional e primitivo, que se resume a “querer, querer e, querer,” a autogratificação impulsionada por uma lei – o “princípio do prazer”” “Eu quero isto e quero isto agora”.

Moshê, porém, via o ser humano sob uma luz diferente. Embora seja verdade que cada pessoa tem uma inclinação egoísta, temos também um lado Divino, que é capaz do comportamento mais nobre. De fato, a Torá vê que a parte mais profunda do ser humano é o “yid” em vez de o “id”. A essência da alma é como a letra “yud”, um ponto, uma centelha do Divino.

A rota mais fácil pode ser a narcisista. Porém, uma pessoa sempre tem a opção de superar suas tentações primitivas e acessar a alma transcendente em seu interior. A alma é um recurso rico, com camadas e camadas de potencial. E na alma jaz uma dimensão que é uma “centelha” de Moshê. Nesse nível é tão natural conectar-se com D'us como é para o peixe estar na água. O desafio é reconhecer e atrair essa dimensão, que pode estar oculta por baixo da concha externa de sobrevivência material.

É por isso que Moshê, um verdadeiro líder, sentiu ser necessário, pelo menos uma vez, declarar: “E agora, Israel, o que D'us deseja de ti? Somente que estejas em reverência a D'us, caminhar em todos os Seus caminhos e amar e servir a D'us de todo coração e com toda a tua alma.” Embora Moshê entendesse claramente a fragilidade da natureza humana, pois testemunhou repetidas vezes os erros do povo judeu, mesmo assim ele sabia que cada pessoa tem uma outra dimensão nobre. Ao exigir – e esperar – que possamos facilmente “estar em reverência de D'us e servir a D'us” isso por si mesmo cria motivação por parte da pessoa para corresponder ao seu potencial.

Moshê entendia o aspecto mais básico da natureza humana: precisamos que alguém acredite em nós. Essa crença nos ajuda a adquirir confiança para fazer jus à ocasião. “Remover as barreiras de seu coração” e sua “teimosia” (como continua Moshê, 10:16), e permitir que nossa verdadeira natureza Divina venha à tona.

A lição aqui contida é bem óbvia: Encontre alguém que acredite em você!

“Impossível. Absolutamente impossível.” Quantas vezes ouvimos essas palavras desencorajadoras, jogando água fria em nossas ideias acabadas de nascer? Você não acha que os primeiros criadores do aeroplano ou qualquer outro aparelho moderno ouviram dos colegas que seus sonhos eram uma impossibilidade? Mesmo assim, eles persistiram e conseguiram vencer. A história é testemunha de incontáveis casos de seres humanos que atingiram o impossível.

E de que outra forma explicamos o impulso aparentemente irracional de que podemos superar qualquer desafio? Como, por exemplo, os médicos estão totalmente convencidos de que podem, em última análise, vencer toda doença? É porque temos um instinto nos dizendo que tudo é possível. Esse instinto brota do poder Divino da alma, que transcende a mortalidade e todas as falhas da existência humana.

É crítico acreditarmos que podemos conseguir tudo neste mundo. Porém, devemos saber também que nossas psiques estão sob um constante ataque de muitas forças, lembrando-nos repetidamente das nossas limitações, alimentando nossa insegurança e nossos temores. Então chega Moshê e diz não! Você tem o poder de ser Divino, e com facilidade! Precisa apenas acreditar que isso é possível.

Em essência, alguém poderia dizer, que esta é a suprema batalha na vida: o quanto acreditamos em nós mesmos; o quanto acreditamos em nossas possibilidades.

Moshê dedicou seus últimos 36 dias na terra para abordar todos os assuntos que as pessoas enfrentariam nos anos seguintes e nas próximas gerações. Como verdadeiro pastor, ele antecipa os desafios da vida e os discute como devem ser discutidos.

O último livro da Torá, Devarim, com efeito é a última vontade e testamento de Moshê – assegurando que o legado do Êxodo no Sinai, as viagens pelo deserto, viverão para sempre.

Leia cuidadosamente o livro e encontrará lições fascinantes sobre praticamente todos os assuntos que enfrentamos até o dia de hoje. Nas próximas colunas tentaremos focalizar ocasionalmente algumas dessas mensagens poderosas.

Esta semana aprendemos sobre aquilo que é esperado de nós; aquilo de que somos realmente capazes. O maior líder de todos os tempos, Moshê, nos diz que temos isso em nós, para atingirmos os locais mais elevados; temos o poder de ser Divinos, pessoas espirituais, até o ponto em que é facilmente acessível para cada um de nós. Portanto, o pedido e exigência: E agora, Israel: O que o Eterno teu D'us pede a você? Somente para temer a D'us.

Quando às vezes as coisas parecem impossíveis, pense nas palavras de Moshê. Pense no fato de que em virtude do “Moshê” dentro de sua alma você está ao alcance de praticamente qualquer coisa à qual dirigir sua mente.

Então, agora que sabemos que o grande Moshê acredita em nós, a pergunta que cada um de nós deve fazer é: Eu acredito em mim mesmo?

Com um líder como Moshê, o impossível simplesmente pode ser possível.

     
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