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Moshê
entendia o aspecto mais básico da natureza humana:
precisamos que alguém acredite em nós
“O que sou realmente capaz de conquistar” é uma das
maiores questões na vida. A porção desta semana da
Torá nos esclarece quanto a possibilidades quase impossíveis.
Quando mais jovem, você teve um mentor – talvez um amigo,
um professor ou um colega – que o motivou a atingir grandes alturas?
Se teve, sinta-se abençoado. Se não teve, é difícil
descobrir o que você perdeu. Mas nem tudo está perdido.
Moshê, o líder por excelência, o supremo mentor, exige
– e com efeito nos habilita – a atingir o inimaginável.
Na porção desta semana da Torá Moshê diz: “E
agora, Israel, o que D'us deseja de vocês? Somente que adorem a
D'us, que trilhem todos os Seus caminhos, que O amem e sirvam a Ele de
todo o coração e com toda tua alma; que cumpram os mandamentos
de D'us e Seus estatutos, que eu ordeno a vocês neste dia para o
seu bem?” (10:12)
O Talmud pergunta: “Reverência a D'us é uma coisa menor
[pois Moshê diz “somente para ser em reverência a D'us”]”
E o Talmud responde: “Sim, para Moshê é uma coisa menor”
(Talmud, Berachot 33 b).
No Tanya é perguntado: “À primeira vista, a resposta
[do Talmud] é incompreensível, pois o versículo diz:
“O que D'us pede a você” [não a Moshê!].
“Porém a explicação é a seguinte: Toda
e cada alma contém dentro de si algo da qualidade de nosso mestre
Moshê, pois ele é um dos “sete pastores” que
inspiraram vitalidade e Divindade à comunidade das almas de Israel…
Moshê é a soma deles todos, chamado o “pastor da fé”
(raaya meheimna) no sentido em que ele alimenta a comunidade com a sabedoria
e reconhecimento de D'us… Portanto, embora homem nenhum ouse presumir
em seu coração atingir sequer a milésima parte do
nível do pastor fiel, mesmo assim uma partícula infinitesimal
de sua grande bondade e luz ilumina todos em toda e cada geração”
(Tanya cap. 42).
Em outras palavras, cada um de nós tem dentro da alma uma dimensão
onde servir a D'us é relativamente “fácil”,
e algo “menor” a realizar!
Mas o que isso significa exatamente? O fato empírico é que
mesmo para a pessoa mais temente a D'us, levar uma vida virtuosa e espiritual
não vem facilmente. A vida para a maioria de nós consiste
numa batalha entre o bem e o mal, espírito e matéria, autoindulgência
e transcendência – entre os anseios egoístas do narcisismo
material e o compromisso com uma chamado mais alto, com frequência
vence o primeiro.
Na verdade, o moderno pensamento secular vê o ser humano como um
animal evoluído, uma bactéria com um bilhão de anos,
cujo impulso fundamental é a sobrevivência (“sobrevivência
do mais apto”). Da biologia à psicologia, da genética
à arqueologia – de Darwin a Freud – aprendemos que
os seres humanos são impulsionados pelo “id” irrarional
e primitivo, que se resume a “querer, querer e, querer,” a
autogratificação impulsionada por uma lei – o “princípio
do prazer”” “Eu quero isto e quero isto agora”.
Moshê, porém, via o ser humano sob uma luz diferente. Embora
seja verdade que cada pessoa tem uma inclinação egoísta,
temos também um lado Divino, que é capaz do comportamento
mais nobre. De fato, a Torá vê que a parte mais profunda
do ser humano é o “yid” em vez de o “id”.
A essência da alma é como a letra “yud”, um ponto,
uma centelha do Divino.
A rota mais fácil pode ser a narcisista. Porém, uma pessoa
sempre tem a opção de superar suas tentações
primitivas e acessar a alma transcendente em seu interior. A alma é
um recurso rico, com camadas e camadas de potencial. E na alma jaz uma
dimensão que é uma “centelha” de Moshê.
Nesse nível é tão natural conectar-se com D'us como
é para o peixe estar na água. O desafio é reconhecer
e atrair essa dimensão, que pode estar oculta por baixo da concha
externa de sobrevivência material.
É por isso que Moshê, um verdadeiro líder, sentiu
ser necessário, pelo menos uma vez, declarar: “E agora, Israel,
o que D'us deseja de ti? Somente que estejas em reverência a D'us,
caminhar em todos os Seus caminhos e amar e servir a D'us de todo coração
e com toda a tua alma.” Embora Moshê entendesse claramente
a fragilidade da natureza humana, pois testemunhou repetidas vezes os
erros do povo judeu, mesmo assim ele sabia que cada pessoa tem uma outra
dimensão nobre. Ao exigir – e esperar – que possamos
facilmente “estar em reverência de D'us e servir a D'us”
isso por si mesmo cria motivação por parte da pessoa para
corresponder ao seu potencial.
Moshê entendia o aspecto mais básico da natureza humana:
precisamos que alguém acredite em nós. Essa crença
nos ajuda a adquirir confiança para fazer jus à ocasião.
“Remover as barreiras de seu coração” e sua
“teimosia” (como continua Moshê, 10:16), e permitir
que nossa verdadeira natureza Divina venha à tona.
A lição aqui contida é bem óbvia: Encontre
alguém que acredite em você!
“Impossível. Absolutamente impossível.” Quantas
vezes ouvimos essas palavras desencorajadoras, jogando água fria
em nossas ideias acabadas de nascer? Você não acha que os
primeiros criadores do aeroplano ou qualquer outro aparelho moderno ouviram
dos colegas que seus sonhos eram uma impossibilidade? Mesmo assim, eles
persistiram e conseguiram vencer. A história é testemunha
de incontáveis casos de seres humanos que atingiram o impossível.
E de que outra forma explicamos o impulso aparentemente irracional de
que podemos superar qualquer desafio? Como, por exemplo, os médicos
estão totalmente convencidos de que podem, em última análise,
vencer toda doença? É porque temos um instinto nos dizendo
que tudo é possível. Esse instinto brota do poder Divino
da alma, que transcende a mortalidade e todas as falhas da existência
humana.
É crítico acreditarmos que podemos conseguir tudo neste
mundo. Porém, devemos saber também que nossas psiques estão
sob um constante ataque de muitas forças, lembrando-nos repetidamente
das nossas limitações, alimentando nossa insegurança
e nossos temores. Então chega Moshê e diz não! Você
tem o poder de ser Divino, e com facilidade! Precisa apenas acreditar
que isso é possível.
Em essência, alguém poderia dizer, que esta é a suprema
batalha na vida: o quanto acreditamos em nós mesmos; o quanto acreditamos
em nossas possibilidades.
Moshê dedicou seus últimos 36 dias na terra para abordar
todos os assuntos que as pessoas enfrentariam nos anos seguintes e nas
próximas gerações. Como verdadeiro pastor, ele antecipa
os desafios da vida e os discute como devem ser discutidos.
O último livro da Torá, Devarim, com efeito é a última
vontade e testamento de Moshê – assegurando que o legado do
Êxodo no Sinai, as viagens pelo deserto, viverão para sempre.
Leia cuidadosamente o livro e encontrará lições fascinantes
sobre praticamente todos os assuntos que enfrentamos até o dia
de hoje. Nas próximas colunas tentaremos focalizar ocasionalmente
algumas dessas mensagens poderosas.
Esta semana aprendemos sobre aquilo que é esperado de nós;
aquilo de que somos realmente capazes. O maior líder de todos os
tempos, Moshê, nos diz que temos isso em nós, para atingirmos
os locais mais elevados; temos o poder de ser Divinos, pessoas espirituais,
até o ponto em que é facilmente acessível para cada
um de nós. Portanto, o pedido e exigência: E agora, Israel:
O que o Eterno teu D'us pede a você? Somente para temer a D'us.
Quando às vezes as coisas parecem impossíveis, pense nas
palavras de Moshê. Pense no fato de que em virtude do “Moshê”
dentro de sua alma você está ao alcance de praticamente qualquer
coisa à qual dirigir sua mente.
Então, agora que sabemos que o grande Moshê acredita em nós,
a pergunta que cada um de nós deve fazer é: Eu acredito
em mim mesmo?
Com um líder como Moshê, o impossível simplesmente
pode ser possível.
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