Geralmente, quando estão na ONU, muitos líderes judeus
ficam intimidados e extremamente diplomáticos. Porém neste
momento o Primeiro Ministro levantou-se para a ocasião, transcendeu
as circunstâncias restritas, não se deixou intimidar pelas
vozes familiares que são lenientes com os líderes que
pedem a destruição de uma nação.
Netanyahu – dessa vez – deixou falar a sua alma judaica.
Sua voz foi a voz da história, da fé, da paixão
e da nobreza judaicas. Não “gaguejou” nem ficou constrangido.
Sua neshamá falou. É importante entender que esta é,
creio eu, a primeira vez na história de Israel que num local
tão público o Primeiro Ministro de uma democracia liberal
secular, Israel, declarou que sua fonte de inspiração
para confrontar as Nações Unidas era o Rebe!
Lembro-me daquele momento, Simchat Torá 1984. Local: Sede de
Chabad-Lubavitch, no 770 da Eastern Parkway. A hora: 1h30 da madrugada.
O Rebe terminou seu farbrenguen (reunião chassídica) de
Simchat Torá e foi à sinagoga para as hacafot - tradicional
dança com a Torá, na noite mais feliz e uma das mais inspiradas
do ano.
As hacafot geralmente começam à 1 da manhã, e terminam
por volta das 4. Cerca de 10.000 pessoas lotavam a sinagoga da Eastern
Parkway. Lotada não é a palavra. Se você pulasse
do teto, não cairia no chão, mas sim sobre os ombros das
pessoas (na verdade, não era uma má estratégia,
pois muitos fizeram justamente isso!)
Primeiro Ministro de Israel, Beniamin Netanyahu, mostrando uma
cópia dos planos nazistas do Holocausto ao discursar na
Assembléia nas Nações Unidas 24/09/2009 -
Foto: UN/Marco Castro, publicada por chabad.org
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Milhares de pessoas se comprimiam juntas, esperando ansiosamente pelo
início das Hacafot. Uma sinfonia de 10.000 almas esperando para
dançar com seu presente mais sagrado – a Torá.
Mas, não. Um dos convidados que foram para ver as hacafot naquela
noite era um judeu de 35 anos, Benjamin Netanyahu, que acabara de se
tornar embaixador de Israel nas Nações Unidas (ele atuou
de 1984 a 1988). Celebrando apenas um dia do feriado, membros da missão
diplomática israelense em Nova York costumavam desde o início
da década de 60 dirigirem-se anualmente de Manhattan a Crown
Heights celebrar com o Rebe a noite de Simchat Torá.
Quando o Rebe entrou, Netanyahu foi introduzido ao Rebe que saudou o
Embaixador Netanyahu e os outros convidados do conselho israelense.
Netanyahu falou em inglês: “Rebe eu vim lhe ver”,
contado pelo próprio primeiro ministro. “E o Rebe me respondeu,
‘Somente ver? Não conversar?’.
Pensamos que ele falaria com Bibi durante alguns minutos. Mas não!
Passaram-se 5, 10, 20, 30, 40 minutos, e o Rebe ainda falava com Netanyahu.
Em revcente depoimento, Netanyahu lembra que o Rebe trocou rapidamente
o inglês para o hebraico e após 40 minutos parou. Disse
o que queria ter dito, virou-se para a audiência e com um gesto
de mãos começou a fazer os chassidim cantarem e dançarem.
Devo confessar: eu estava me perguntando se seria aquela a ocasião
apropriada para uma conversa tão longa com um político,
enquanto 10.000 chassidim esperavam para dançar com a Torá
e com o Rebe. Milhares de convidados do mundo inteiro tinham ido passar
Simchat Torá com o Rebe. Ele não poderia conversar com
Netanyahu em outra ocasião, em particular? [Rabino Lable Groner,
secretário do Rebe, tentou intimar Netanyahu – e meu pai,
que também estava presente – a sair, mas o Rebe não
parava de falar com ele. Se não me falha a memória, a
certa altura o Rebe voltou-se para Rabino Groner e disse: “Em
vez de tentar interromper a conversa, traga l’chayim para os convidados.”
Foi o que ele fez, e todos disseram l’chayim.]
Netanyahu recorda-se dos detalhes: “Então algo aconteceu,
nunca esquecerei pelo resto de minha vida. O Rebe e seu cunhado pegaram
o Rolo da Torá e dirigiram-se ao centro do salão eu os
observei dançando em um círculo de luz com a Torá.
Senti a força de gerações, o poder de nossas tradições,
nossa fé, nosso povo.”
Quando perguntei a meu pai, Gershon Jacobson, um veterano jornalista
judeu que acompanhava Netanyahu e estava de pé ali perto, o que
o Rebe falara por 40 minutos, ele disse: “O Rebe estava falando
sobre as Nações Unidas. Não sobre religião,
Torá, o Yom Tov, Chabad, temas espirituais, mas sobre as Nações
Unidas. Fiquei ainda mais intrigado: por que agora? Por que durante
tanto tempo? E eu não tinha uma resposta.
Passaram-se 25 anos. Um quarto de século. Dia 24 de setembro
de 2009. Netanyahu atua como Primeiro Ministro de Israel. Nesse ínterim
ele esteve por ali uma ou duas vezes, promovido, destituído,
promovido e destituído novamente, e agora finalmente reeleito
Primeiro Ministro.
Nas Nações Unidas, o líder da Líbia se levanta
e cospe seu ódio e suas ridículas acusações
sobre quem realmente matou JFK. O Presidente do Irã se levanta
e nega, mais uma vez, o Holocausto, Auschwitz, Treblinka, Dachau –
nunca ocorreram.
Futuro Primeiro Ministro de Israel Biniamin Netanyahu em encontro
com o Rebe, de abençoada memória, em chol hamoed
Sucot
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Imagine: sobreviventes do Holocausto, que perderam pais, irmãos,
filhos e por vezes famílias inteiras no Holocausto estão
sentadas nas suas casas, em seus sofás, com tatuagens nos braços,
assistindo a CNN, escutando o líder de um país soberano
negar que um milhão e meio de crianças foram enviadas
aos crematórios! Que palhaçada! Que desgraça! Que
chutzpá! Sem palavras. E a ONU fornece um fórum a este
homem – o fórum internacional mais prestigiado –
para pronunciar palavras como essas.
Como se pode sequer entender o atrevimento de permitir que um homem
desses fale? “Ele é presidente de um país, devemos
dar-lhe uma plataforma” ouvimos com frequência. Verdade?
Que vergonha. Judeus que perderam dez filhos em Auschwitz, precisam
assistir a isto acontecendo na frente de seus olhos!
Então chega a vez do Primeiro Ministro de Israek falar. Benjamin
Netanyahu. E ele fala como um líder judeu deveria falar, sem
vergonha, sem insegurança, sem ambivalência. Falou com
orgulho, com dignidade, com uma voz de clareza moral, com uma paixão
alimentada por milhares de anos de história e uma fé profunda,
enraizada em nossa tradição.
“No mês passado, fui a uma vila num subúrbio de Berlim
chamada Wannsee. Ali, em janeiro de 1942, após uma farta refeição,
funcionários nazistas importantes decidiram como exterminar o
povo judeu. Os minutos detalhados daquele encontro tinham sido preservados
por sucessivos governos alemães. Aqui está uma cópia
daqueles minutos, nos quais os nazistas deram instruções
precisas sobre como efetuar o extermínio dos judeus.
“Isto é uma mentira?
“E quanto aos sobreviventes de Auschwitz cujos braços ainda
possuem os números neles tatuados pelos nazistas? Essas tatuagens
são uma mentira? Um terço de todos os judeus pereceram
na conflagração. Quase toda família judia foi afetada,
incluindo a minha. Os avós da minha esposa, duas irmãs
e três irmãos do pai dela, todos os tios, tias e primos
foram assassinados pelos nazistas. Isso também é uma mentira?…
“Ontem, o homem que chama o Holocausto de mentira falou neste
pódio. Para aqueles que se recusaram a vir aqui e para aqueles
que saíram da sala em protesto, eu faço um elogio. Vocês
defenderam a clareza moral e levaram honra aos seus países.
“Porém aqueles que deram ouvidos a esse negador do Holocausto,
digo em prol do meu povo, o povo judeu, e às pessoas decentes
em toda parte: Você não tem vergonha? Não tem qualquer
decência? Umas meras seis décadas após o Holocausto,
vocês dão legitimidade a um homem que nega a ocorrência
do assassinato de seus milhões de judeus, e promete varrer do
mapa a nação judaica.
“Em 2005, esperando avançar no processo de paz, Israel
unilateralmente se retirou de cada pedacinho de Gaza. Desmontou 21 assentamentos
e deslocou mais de 8.000 israelenses. Não conseguimos a paz.
Em vez disso tivemos uma base terrorista iraniana a 80 quilômetros
de Tel Aviv. A vida nas aldeias e cidades israelenses perto de Gaza
se tornou um pesadelo. Vejam vocês, os ataques com foguetes do
Hamas não apenas continuaram, como aumentaram dez vezes. Mais
uma vez, a ONU ficou em silêncio.
“Finalmente, após oito anos desses ataques incessantes,
Israel finalmente foi forçado a reagir. Mas como deveríamos
ter reagido? Bem, há apenas um exemplo na história de
milhares de foguetes sendo atirados sobre a população
civil de um país. Aconteceu quando os nazistas bombardearam as
cidades britânicas durante a Segunda Guerra Mundial. Naquela guerra,
os aliados arrasaram cidades alemãs, causando centenas de milhares
de mortes. Israel preferiu reagir de modo diferente. Frente a um inimigo
que cometia o duplo crime de atirar em civis enquanto se escondia atrás
de civis – Israel procurou fazer ataques cirúrgicos contra
os lançadores de foguetes.
“Não foi uma tarefa fácil porque os terroristas
estavam atirando mísseis a partir de casas e escolas, usando
mesquitas como depósitos de bombas e atirando explosivos em ambulâncias.
Israel, em contraste, tentava minimizar as perdas insistindo para que
os civis palestinos deixassem as áreas que seriam atacadas.
“Atiramos incontáveis folhetos sobre as casas deles, enviamos
milhares de mensagens de texto e ligamos para milhares de celulares
pedindo que as pessoas partissem. Jamais um país tinha chegado
a medidas tão extraordinárias para remover a população
civil do inimigo a fim de poupá-la.
“Porém frente a um caso tão claro de agressor e
vítima, a quem o Conselho de Direitos Humanos da ONU decidiu
condenar? Israel. Uma democracia defendendo-se legalmente contra o terror
é moralmente atacada, vilipendiada e tem de passar por um julgamento
imparcial.
“Segundo esses padrões distorcidos, o Conselho de Direitos
Humanos da ONU teria arrastado Roosevelt e Churchill ao tribunal como
criminosos de guerra. Que perversão da verdade. Que perversão
da justiça.
“Delegados das Nações Unidas, vocês aceitarão
essa farsa?”
Netanyahu fez escolhas no passado que têm lhe rendido muitas críticas.
Porém quando ele falou dessa vez, estava certo. Realmente certo.
Pude ouvir em sua voz não apenas a sua própria voz como
político israelense. Pude ouvir a voz de Moshê, do Rei
David e de Rabi Akiva; pude ouvir as vozes de seis milhões de
judeus; pude ouvir as vozes das mais de 1.000 vítimas do terror
mortas nas ruas e cafés depois de uma das maiores farsas da história
moderna; os acordos de paz de Oslo que desencadearam uma das eras de
violência mais sangrentas na história de Israel. Sim, eu
também me senti orgulhoso ao ouvir suas palavras. E o fato de
tantos se sentirem pouco à vontade somente provou-me como suas
palavras atingiram o alvo.
Porém me perguntei, após tantos anos com tantos líderes
judaicos obscurecidos nos corredores da ONU e sob a atenção
internacional diminuindo seu orgulho e senso de identidade, o que deu
a Bibi a força de, naquela quinta-feira, falar como um judeu
que carrrega a luz de 3.500 anos? Falar como Moshê falou com o
faraó e Elijah falou com Achav? Falar como um judeu que não
tem medo de seu próprio legado, história e identidade?
Após seu discurso, a TV israelense entrevistou Netanyahu. Os
repórteres israelenses são durões, cínicos,
e não professam amor por Bibi. O repórter perguntou-lhe
em palavras um pouco mais suaves: “O que acha que está
fazendo aqui, mostrando plantas de Auschwitz e detalhes da reunião
de Wannsee? Zombando da ONU na própria ONU? O que foi que o possuiu?
Acha que consegue converncer Ahmedinejad?
Nos corredores da ONU, depois de um discurso, você geralmente
dá respostas curtas e diplomáticas. Esperávamos
algo desse tipo por parte do Primeiro Ministro. Ele disse ao repórter
que dessa vez iria se desviar do protocolo e contar uma história
pessoal.
Ele não relatou uma história ocorrida há seis meses
ou um ano, mas sim uma com um quarto de século e que envolvia
um mestre chassídico.
“Eu estava com o Rebe de Lubavitch em Simchat Torá de 1984.
Ele falou comigo não durante 5 ou 10 minutos, mas sim por 40
minutos, enquanto milhares de seus chassidim achavam que eu tinha afastado
deles o Rebe em Simchat Torá. Escutei do Rebe muitas coisas,
mas a maior lição foi o que me disse, ‘Lembre-se
que em um local de trevas, se você acender uma pequena chama,
esta luz dissipará toda a escuridão e será vista
por todos mesmo a uma longa distância. Sua missão é
acender esta chama pela verdade e pelo povo judeu.”
Netanyahu cita a advertência feita pelo Rebe sobre representar
Israel na ONU, na qual frequentemente ocorriam deliberações
“numa casa de… total escuridão, uma pequena luz da
verdade pode expulsar as trevas; seja aquela pequena luz da verdade.”
O Rebe pronunciou essas palavras a um embaixador recente, que tinha
apenas 35 anos de idade: ‘Há só uma maneira de erradicar
mentiras (contra o povo judeu). Repita o acendimento da luz da verdade
mais e mais e mais, e não pare.”
“Isso é o que eu fiz hoje nas Nações Unidas,”
disse Netanyahu à TV israelense e mais tarde a uma plateia lotada
na 92nd Street Y, na quinta-feira.
Então eu tive um flash back. De pé ali no 770, imaginando
por que o Rebe sentiu o direito de falar com o novo embaixador durante
40 minutos. Demorou 25 anos para eu entender.
O Rebe aparentemente tinha uma visão do futuro. Ele viu o Irã.
O Hamas. Hezbolá. A Síria. A Al-Queida. E desejava infundir
num Primeiro Ministro a coragem e a confiança para aproveitar
o momento quando chegasse. Transcender as mentiras, a falsidade, o ódio
irracional, para ali falar a verdade! Erguer a chama da moralidade,
do bem, da decência, da integridade, a chama de Avraham, Yitschac
e Yaacov, numa casa de mentiras que tinha a chutspá de negar
que mães foram mortas enquanto seguravam seus bebês.
O Rebe sentiu a força daqueles momentos sagrados e ajudou Netanyahu
a encontrar dentro de si mesmo a chama da Torá para que pudesse
enfrentar um mundo hostil que condena as vítimas e glorifica
os monstros sedentos de sangue.
Que ele – e cada um de nós – tenhamos a força
para continuar acendendo a chama da verdade em meio às mentiras
que nos cercam.
Que possamos todos juntos dançarmos em breve em Simcha Torá
com orgulho e alegria.
Chag Sameach!