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  Moshê, o Sanhedrin e o Povo  
 
Por Dr. Tali Loewenthal, traduzido por Mauricio Klajnberg
 

Todo ser humano tem um relacionamento com o Divino. A reza – falar com D'us ou pedir ajuda a D'us – é um fenômeno universal. Além disso, D'us faz exigências a cada ser humano através das Sete Leis de Noach e a cada judeu - homem ou mulher – através das 613 mitsvot. O momento chave no relacionamento entre D'us e o Povo Judeu aconteceu no Sinai, quando D'us foi revelado a todo individuo de uma forma sem precedentes. Aquele evento é a base de toda a lei judaica, incluindo as leis universais de Noach.

Mas, como sabemos que Leis são essas e como elas devem ser aplicadas?

No Monte Sinai, houve uma experiência intensa e nós ouvimos os Dez Mandamentos. Os detalhes de como respeitar o Shabat, a cashrut ou qualquer outro aspecto dos ensinamentos judaicos vêm através de uma cadeia de transmissão descrita no início do Pirkei Avot (Ética dos Pais): "Moshê recebeu a Torá no Sinai e a transmitiu a Yoshua, e Yoshua aos Anciãos, e os Anciãos aos Profetas..." e assim por diante. Finalmente, os ensinamentos da Torá chegaram até nós.

O momento no qual Moshê transmitiu sua autoridade a Yoshua como o líder e guia único do Povo Judeu é encontrado no capítulo 27 de Bamidbar1. Entretanto, antes em Bamidbar2, houve outro momento famoso de transmissão de Moshê. Este foi o estabelecimento do Sanhedrin: setenta anciãos que compartilhavam a responsabilidade da liderança.

A base para a fundação do Sanhedrin foi uma nova explosão de queixas do Povo Judeu. Por que eles teriam de comer somente o Maná? Eles não poderiam comer carne? A Torá descreve Moshê dizendo a D'us que ele não consegue mais lidar com o povo, ele precisa de ajuda. Para isto, D'us respondeu que Moshê deveria reunir setenta anciãos e ficar com eles no Santuário. Então, D'us falaria a Moshê e transferiria parte de seu "espírito" aos anciãos, para que também eles pudessem compartilhar a responsabilidade da liderança.

Os Sábios discutem a questão se esta transferência diminuiu ou não Moshê de alguma forma. Às vezes, um professor pode se diminuir tão intensamente ao nível de seu aluno que ele próprio é arrastado para baixo. Entretanto, Rashi apresenta a imagem de que Moshê era como "uma vela em um castiçal, a partir da qual todos são capazes de acender a luz"3. Isto transmite a ideia de que todos podem pegar uma chama, mas a vela original não é diminuída.

Moshê foi o maior de todos os profetas4 e, portanto, teve o poder de dar luz a todos sem ser afetado de forma adversa5. De fato, quando duas pessoas extras6, além dos setenta do Sanhedrin, se tornaram obviamente "inspiradas", Moshê disse: "Que a todo o Povo Judeu seja concedido o espírito Divino!"

O Lubavitcher Rebe indica que Rashi não diz que somente os membros do Sanhedrin pegam uma chama da vela de Moshê. Ele diz "todos". Existe uma tradição na qual todo judeu assim fez e continua a fazê-lo através do tempo. A cadeia de rabinos define as leis da Torá, mas todo individuo descobre a sua própria realidade em suas profundezas sutis.

O Sanhedrin se tornou o canal para a comunicação dos ensinamentos da Torá ao Povo judeu através das gerações, ensinamentos depois transmitidos através da Mishná, Talmud e o Código de Leis. Este processo traz iluminação a todos: a Torá e seus ensinamentos pertencem a todo judeu, finalmente ajudando a toda Humanidade a se ligar com D'us.


Notas

1. Vs. 15-23.
2. 11:16-17, 24-25.
3. Ver o comentário de Rashi sobre Bamidbar 11:17 e uma imagem contrastante em Ramban.
4. Bamidbar 12:7-8; Devarim 34:10.
5. Ver a discussão em Likutei Sichot vol. 8 pp. 75-81.
6. Bamidbar 11:26-29.

 

 

 
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