por Rabi Manis Friedman    
  Lua de mel… a cada mês  
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Existem dois tipos de amor humano: o amor intrínseco, calmo, que sentimos pelas pessoas com quem somos relacionadas por parentesco, e o mais íntimo, ardente, que existe no casamento. É por este motivo que a relação entre marido e mulher é muito diferente do relacionamento pai-filho.
O amor dentro de uma família, entre parentes que nasceram da mesma carne, é inato. O amor entre a mãe e seu filho, irmão e irmã, dois irmãos, duas irmãs, vem facilmente. Como são aparentados por natureza, sentem-se à vontade um com o outro. Existe uma proximidade inata entre eles, portanto seu amor é sólido, forte, previsível e calmo. Não há distância a ser transposta; não há diferença alguma a ser superada.

O amor entre marido e mulher não é assim. Seu amor não está sempre ali; eles não se conheciam, não estiveram sempre relacionados. Não importa o quanto cheguem a se conhecer, não são semelhantes. São diferentes do ponto de vista emocional, físico e mental. Amam-se apesar das diferenças e por causa delas, mas não há um traço comum entre eles suficiente para criar um amor calmo e informal. As diferenças permanecem mesmo depois que se casam, e o amor entre eles terá de superar estas diferenças.


A bênção ideal para um casal é: "Que sua lua-de-mel jamais termine."

Afinal, marido e mulher certa vez já foram estranhos. O homem é diferente da mulher, portanto na essência eles continuam estranhos. Por causa disso, o amor entre eles jamais poderá ser informal, consistente ou calmo.

Este amor adquirido é naturalmente mais intenso que o amor entre irmão e irmã. Quando o amor precisa superar uma diferença, uma distância, um obstáculo, requer energia para saltar e fechar a lacuna. Esta é a energia do amor ardente.

Como a lacuna entre marido e mulher jamais se fechará realmente, seu amor um pelo outro precisará continuamente cruzar por esta ponte. Haverá distância, separação, depois uma aproximação e uma volta juntos, de novo e de novo. Este senso de distância intensifica o desejo de fusão.

Para ficarem juntos, o homem e a mulher têm de superar determinadas resistências. Um homem precisa superar sua resistência ao compromisso, e a mulher deve superar sua resistência à invasão. Assim, ao ficarem juntos, marido e mulher estão transpondo grandes distâncias emocionais, o que intensifica seu amor. A ausência do amor inato na verdade faz seu coração se apegar ainda mais.

Se irmão e irmã tivessem um amor ardente, seu relacionamento sofreria. Não é a emoção apropriada para um irmão e irmã sentirem. Seu amor floresce quando é intacto, não desafiado, constante e calmo. Não é que eles não possam ter desentendimentos, mas estes rompem seu amor. Por outro lado, se marido e mulher desenvolvem um amor calmo um pelo outro, seu relacionamento não progredirá. Se estão familiarizados demais um com o outro, como irmão e irmã, o amor não florescerá. A verdadeira intimidade no casamento – amor ardente – é criada pelo constante afastamento e reunião.

Se um marido e mulher jamais se separam, seu amor começa a azedar, porque não estão criando um ambiente propício àquele amor. O ambiente de proximidade constante não é condutor ao amor homem-mulher; é o ambiente para o amor fraterno ou maternal.


A separação física que nos foi dada por D’us é uma solução muito mais feliz. Aquela separação é criada ao se observar um conjunto de leis da Torá denominado Taharat Hamishpachá, Leis da Pureza Familiar.


É por isso que a bênção ideal para um casal é: "Que sua lua-de-mel jamais termine." Uma lua-de-mel – quando duas pessoas que antes estavam separadas se juntam pela primeira vez – deveria nunca ter fim, porque é onde um casamento progride.

O amor entre um homem e uma mulher aumenta com o afastamento e a reunião, a separação e a aproximação. A única maneira de ter um ambiente que leve a este tipo de relacionamento é promover uma separação.

Há muitos tipos de separação. Um casal pode viver em locais diferentes, ter diferenças de opinião, ou ter discussões e enfurecer-se mutuamente. Muitas vezes a discussão não é pela discussão em si, mas para criar uma distância a fim de que marido e mulher possam sentir que estão se aproximando. Esta não é uma solução feliz. Fazer as pazes depois de uma briga pode ser bom para um casamento uma vez ou outra, mas não numa base regular. Não é uma boa idéia ficar procurando motivos para discussões, especialmente porque as separações podem tomar uma forma mais positiva.

A separação física que foi dada por D’us ao povo judeu na Torá é uma solução muito mais feliz. Aquela separação é criada ao se observar um conjunto de leis da Torá derivado de Vayicrá 15, denominado "As Leis da Pureza Familiar", ou "leis do micvê". A palavra micvê refere-se ao banho ritual no qual as mulheres judias tradicionais, desde os dias bíblicos, imergem após seu período mensal e antes de voltarem às relações sexuais com seus maridos.

Segundo estas leis do micvê, durante o tempo em que uma mulher judia está menstruando, e por uma semana depois disso, ela está fisicamente fora de alcance para seu marido. Durante aqueles dias, a separação física é total: não tocar, não sentarem juntos num balanço, não dormir na mesma cama.

No decorrer dos séculos, todos os tipos de explicações têm sido dadas para estas leis, mas todas elas têm uma coisa em comum: a separação protege e nutre o aspecto íntimo do casamento, que floresce com o afastamento e a reunião.

Este entendimento não é único dos judeus. Na maior parte das culturas no mundo inteiro, os antigos praticavam diversos graus de separação entre marido e mulher durante o período menstrual. Alguns, como determinadas tribos dos índios americanos, na verdade têm alojamentos separados, tendas para mulheres menstruadas, onde elas ficavam durante este período. Mais tarde estes costumes se deterioraram em mitos, tabus, temores, superstições, argumentos higiênicos e outros, numa tentativa de racionalizar um tema delicado e sensível. Porém a separação era uma prática tão universal que me pergunto se os seres humanos sabiam por instinto que o amor entre homem-mulher floresce com o afastamento e a reunião, em aproximar-se depois de uma separação. O corpo está na verdade respeitando um estado emocional. Assim como o amor entre o homem e a mulher não pode ser mantido com intensidade total o tempo todo, mas precisa de uma certa tensão criativa sem a qual não prospera, o corpo tem uma necessidade similar.


O corpo está na verdade respeitando um estado emocional. Assim como o amor entre o homem e a mulher não pode ser mantido com intensidade total o tempo todo, mas precisa de uma certa tensão criativa sem a qual não prospera, o corpo tem uma necessidade similar.


No que diz respeito aos judeus, sabemos que estas mudanças cíclicas foram criadas com este exato propósito. Isso é muito mais que uma coincidência: é como o corpo reflete a alma, como o corpo é criado à imagem da alma.

Como tudo o mais que existe em nossa vida, o ciclo de afastamento e aproximação do casamento é para ser um reflexo de nosso relacionamento com D’us. Os dois tipos de amor, amor calmo e amor ardente, existem não apenas entre seres humanos, mas entre nós e D’us.

Quando nos referimos a D’us como nosso Pai, é um relacionamento inato e intrínseco. Não precisamos trabalhar por ele; simplesmente está ali. É um amor constante e firme, um amor indestrutível, um amor comparado à água.

Mas também falamos sobre como D’us é infinito e nós somos finitos; D’us é verdade e nós não somos; D’us é tudo e nós mal somos alguma coisa. Devido a estas diferenças, sentimos uma grande distância de D’us, e a necessidade de criar um relacionamento com Ele. Estabelecer um relacionamento apesar das diferenças, apesar da distância, é mais como um casamento. É uma relação tempestuosa – um amor ardente.

Mais precisamente, nossa alma ama a D’us como um filho ama ao pai, porque nossa alma é de D’us. Aquele amor é inato e calmo. Quando D’us diz a esta alma para descer a um corpo, é uma separação. Então nossa alma ama a D’us com um amor ardente que, como o amor entre marido e mulher, não vem automaticamente. Amor adquirido é por natureza intenso e ardente.

Por fim, a alma será reunida com D’us mais intimamente que antes, assim como a intimidade entre marido e mulher é mais profunda quando se aproximam depois de uma separação. Portanto, quando D’us diz que um marido e mulher devem ser recatados um com o outro, que podem estar juntos e depois separados, aproximar-se e separar-se novamente, segundo o ciclo mensal, não é uma imposição artificial. Pode produzir disciplina, o que é bom. Pode manter um casamento renovado, o que é importante. Mas há mais ainda. É, na verdade, o reflexo natural do tipo de amor que deve existir entre marido e mulher. Para nutrir aquele amor tempestuoso e ardente, nosso modo de viver deve corresponder às emoções que estamos tentando alimentar e reter.

Se deve haver uma separação – e existe esta necessidade – considere os seguinte: em vez de esperar para que se desenvolva uma separação, onde marido e mulher brigam ou perdem interesse um pelo outro, aceitemos a sugestão do corpo e criemos uma separação física, em vez de uma espiritual e emocional. Todos estão dizendo: "Preciso de meu espaço." Isso é verdade. Manter as leis do micvê, quando são apropriadas, é uma maneira de criar aquele espaço.

   
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