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  Um local para a luz
  Por David Sacks
 

Esta é a história sobre uma travessa de prata. Era um troféu que ganhei por ter conquistado o primeiro lugar em um concurso nacional de Oratória em Harvard quando eu era estudante do Ensino Médio. Mas esta não era a coisa mais especial sobre este prato. Estranho quanto possa parecer, aquela travessa de prata viria conter minha jornada espiritual judaica. Mas isto levaria muitos anos até ser descoberto.

Minhas lembranças mais remotas de ser judeu são as de minha mãe me levando para a cama e recitando o Shema comigo.

Outra significativa foi quando eu tinha seis anos. Aprendi que após você arrotar, deveria emitir um: “Desculpa”. Mais tarde, nesta noite, estava sentado sozinho em nossa gigantesca cozinha cor de rosa, e… arrotei. Lembro-me que fiquei pensando: “Não há ninguém aqui. Devo pedir ‘desculpas’?”

Então lembrei-me que D’us está aqui. E o fiz.

Aos oito anos, um vizinho nos enviou uma assinatura para “Talks and Tales (“Conversas e Parábolas”) uma revista para as crianças Chabad. Os artigos eram curtos, impressos em preto e branco, em papel brilhante e cada um continha uma história chassídica.

A premissa de cada uma delas era a de que existe um D’us, Ele nos ama, e Ele está intimamente envolvido em todos os aspectos de nossa vida”. Eu as adorava. Mudaram minha vida e se tornaram os alicerces de minha educação judaica.

(A propósito, ainda estamos chegando à travessa de prata).

Ao completar 15 anos, eu queria começar a cumprir Shabat. Bem, não extamente. O que eu realmente queria fazer era ir à sinagoga nas manhãs de sábado. O único problema era que eu recém havia começado a competir pela equipe de minha escola em Oratória, e todos os torneios caiam no Shabat.

Não sabia o que fazer. Eu gostava muito de competir e estava indo bem. Por outro lado, embora minha família não observasse o Shabat, minha alma dizia que eu deveria estar no shil. E não em qualquer shil – no meu shil!

Era pequeno, quente e sagrado. Em Simchat Torá minha vida mudou enquanto dançava com a Torá . Eu tinha na época 14 anos e estava claro para mim então que a Torá que tinha em meus braços era o centro de minha vida.

Alguém sugeriou que eu falasse com o rabino. Seu nome era Reb Shlomo Carlebach. Reb Shlomo nunca forçava ninguém a tornar-se religioso observante. Ele inspirava as pessoas (milhares em todo o mundo) e então deixava por conta delas subir o próximo degrau em sua jornada judaica.

Certa vez ele falou sobre a diferença entre um rabino e um Rebe. Um rabino lhe ensina algo que você não sabia antes, enquanto um Rebe o conecta com a parte mais profunda de você mesmo (ou de seu íntimo).

Conversamos e depois, falou aos meus pais que eu possuia um dom para falar e que eu tinha também a responsabilidade de desenvolver este dom. Em nossa inocência isto foi interpretado como uma recomendação para que eu participasse dos torneios de minha escola. Quando compartilhei desta conclusão anos mais tarde com Reb Shlomo, seus olhos quase pularam de sua face. Com todo seu extremo tato e gentileza falou que foi mal interpretado.

A verdade é que eu não estava pronto naquela ocasião de minha vida a me comprometer com tal nível de observância. Fazendo uma retrospectiva, acho que isto transformou-se em uma bênção já que me deu a chance de continuar meu crescimento espiritual ao meu próprio ritmo.

E então comecei a competir nos torneios de Speech. Foi uma escolha dolorosa. O tempo passou.

A inspiração, se não for nutrida, desaparece. Nossas almas também estão sujeitas à força da gravidade, e se não as nutrimos nossas asas enfraquecem e podemos esquecer a sensação de voar.

Após a formatura na faculdade, eu estava tão repleto do senso de gratidão por todas as bênçãos da minha vida – meus pais, amigos, minha saúde, minha carreira – que queria agradecer de volta para D’us. Pensei que a melhor forma de fazer isto seria começar a cuidar do Shabat.

Certa vez eu pensei que toda sexta-feira à noite D’us diz “Bom Shabat” ao mundo, ao enviar-nos o Shabat. E perguntei-me: Como posso retribuir os votos de “Bom Shabat”? Então pensei – guardando o Shabat! Eu estava escrevendo comédias para a televisão na época, e aquilo tornava tudo um tanto traiçoeiro, mas graças a D’us tudo deu certo.

Após muita pesquisa, conheci minha mulher, que também ama o Shabat, e então um dia cheguei em casa e notei algo especial. Há um costume de colocar as velas do Shabat numa bandeja de prata. Minha mulher tinha este costume. O que eu não percebera foi que ela tinha escolhido a bandeja de prata que eu ganhara no torneio de oratória para colocar as velas.

Minha cabeça girou.

Aquela bandeja era a própria representação de não guardar o Shabat. E ali estava ela, servindo como alicerce para as próprias velas do Shabat!

Como aquilo era possível?

Rebe Nachman de Breslav ensina que para onde quer que um judeu vá, ele está caminhando na direção de Israel. Mesmo que esteja andando na direção oposta, ainda está se dirigindo para Israel. Além disso, nossos Sábios ensinam no Talmud que se a pessoa retorna a D’us por amor, todos os seus erros se transformam em mitsvot.

Por muitos anos agora tenho usado o melhor da minha capacidade aprendida nas competições de oratória feitas no Shabat para ensinar sobre a beleza do Shabat. Tenho até um podcast semanal chamado “Ferramentas Espirituais para um Mundo Ultrajado”.

É incrível como D’us governa o mundo. Às vezes Ele nos abençoa para vermos que nosso destino está sendo traçado bem na frente dos nossos olhos, mesmo que no momento seja impossível ver isto.
Dez anos se passaram entre querer cumprir o Shabat e realmente guardá-lo. Todos aqueles anos eu estive olhando para o mundo e aquilo que ele tinha, ao mesmo tempo comparando-o secretamente com a alegria e santidade do Shabat. Após ser afortunado o suficiente para ver bastante do mundo, eu finalmente soube. Nada é melhor que o Shabat.


David Sacks é um roteirista premiado com o Emmy.
Seus podcasts semanais estão disponíveis em torahonitunes.com

       
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