Esta é a história
sobre uma travessa de prata. Era um troféu que ganhei por ter
conquistado o primeiro lugar em um concurso nacional de Oratória
em Harvard quando eu era estudante do Ensino Médio. Mas esta
não era a coisa mais especial sobre este prato. Estranho quanto
possa parecer, aquela travessa de prata viria conter minha jornada espiritual
judaica. Mas isto levaria muitos anos até ser descoberto.
Minhas lembranças mais remotas de ser judeu são as de
minha mãe me levando para a cama e recitando o Shema comigo.
Outra significativa foi quando eu tinha seis anos. Aprendi que após
você arrotar, deveria emitir um: “Desculpa”. Mais
tarde, nesta noite, estava sentado sozinho em nossa gigantesca cozinha
cor de rosa, e… arrotei. Lembro-me que fiquei pensando: “Não
há ninguém aqui. Devo pedir ‘desculpas’?”
Então lembrei-me que D’us está aqui. E o fiz.
Aos oito anos, um vizinho nos enviou uma assinatura para “Talks
and Tales (“Conversas e Parábolas”) uma revista para
as crianças Chabad. Os artigos eram curtos, impressos em preto
e branco, em papel brilhante e cada um continha uma história
chassídica.
A premissa de cada uma delas era a de que existe um D’us, Ele
nos ama, e Ele está intimamente envolvido em todos os aspectos
de nossa vida”. Eu as adorava. Mudaram minha vida e se tornaram
os alicerces de minha educação judaica.
(A propósito, ainda estamos chegando à travessa de prata).
Ao completar 15 anos, eu queria começar a cumprir Shabat. Bem,
não extamente. O que eu realmente queria fazer era ir à
sinagoga nas manhãs de sábado. O único problema
era que eu recém havia começado a competir pela equipe
de minha escola em Oratória, e todos os torneios caiam no Shabat.
Não sabia o que fazer. Eu gostava muito de competir e estava
indo bem. Por outro lado, embora minha família não observasse
o Shabat, minha alma dizia que eu deveria estar no shil. E não
em qualquer shil – no meu shil!
Era pequeno, quente e sagrado. Em Simchat Torá minha vida mudou
enquanto dançava com a Torá . Eu tinha na época
14 anos e estava claro para mim então que a Torá que tinha
em meus braços era o centro de minha vida.
Alguém sugeriou que eu falasse com o rabino. Seu nome era Reb
Shlomo Carlebach. Reb Shlomo nunca forçava ninguém a tornar-se
religioso observante. Ele inspirava as pessoas (milhares em todo o mundo)
e então deixava por conta delas subir o próximo degrau
em sua jornada judaica.
Certa vez ele falou sobre a diferença entre um rabino e um Rebe.
Um rabino lhe ensina algo que você não sabia antes, enquanto
um Rebe o conecta com a parte mais profunda de você mesmo (ou
de seu íntimo).
Conversamos e depois, falou aos meus pais que eu possuia um dom para
falar e que eu tinha também a responsabilidade de desenvolver
este dom. Em nossa inocência isto foi interpretado como uma recomendação
para que eu participasse dos torneios de minha escola. Quando compartilhei
desta conclusão anos mais tarde com Reb Shlomo, seus olhos quase
pularam de sua face. Com todo seu extremo tato e gentileza falou que
foi mal interpretado.
A verdade é que eu não estava pronto naquela ocasião
de minha vida a me comprometer com tal nível de observância.
Fazendo uma retrospectiva, acho que isto transformou-se em uma bênção
já que me deu a chance de continuar meu crescimento espiritual
ao meu próprio ritmo.
E então comecei a competir nos torneios de Speech. Foi uma escolha
dolorosa. O tempo passou.
A inspiração, se não for nutrida, desaparece. Nossas
almas também estão sujeitas à força da gravidade,
e se não as nutrimos nossas asas enfraquecem e podemos esquecer
a sensação de voar.
Após a formatura na faculdade, eu estava tão repleto do
senso de gratidão por todas as bênçãos da
minha vida – meus pais, amigos, minha saúde, minha carreira
– que queria agradecer de volta para D’us. Pensei que a
melhor forma de fazer isto seria começar a cuidar do Shabat.
Certa vez eu pensei que toda sexta-feira à noite D’us diz
“Bom Shabat” ao mundo, ao enviar-nos o Shabat. E perguntei-me:
Como posso retribuir os votos de “Bom Shabat”? Então
pensei – guardando o Shabat! Eu estava escrevendo comédias
para a televisão na época, e aquilo tornava tudo um tanto
traiçoeiro, mas graças a D’us tudo deu certo.
Após muita pesquisa, conheci minha mulher, que também
ama o Shabat, e então um dia cheguei em casa e notei algo especial.
Há um costume de colocar as velas do Shabat numa bandeja de prata.
Minha mulher tinha este costume. O que eu não percebera foi que
ela tinha escolhido a bandeja de prata que eu ganhara no torneio de
oratória para colocar as velas.
Minha cabeça girou.
Aquela bandeja era a própria representação de não
guardar o Shabat. E ali estava ela, servindo como alicerce para as próprias
velas do Shabat!
Como aquilo era possível?
Rebe Nachman de Breslav ensina que para onde quer que um judeu vá,
ele está caminhando na direção de Israel. Mesmo
que esteja andando na direção oposta, ainda está
se dirigindo para Israel. Além disso, nossos Sábios ensinam
no Talmud que se a pessoa retorna a D’us por amor, todos os seus
erros se transformam em mitsvot.
Por muitos anos agora tenho usado o melhor da minha capacidade aprendida
nas competições de oratória feitas no Shabat para
ensinar sobre a beleza do Shabat. Tenho até um podcast semanal
chamado “Ferramentas Espirituais para um Mundo Ultrajado”.
É incrível como D’us governa o mundo. Às
vezes Ele nos abençoa para vermos que nosso destino está
sendo traçado bem na frente dos nossos olhos, mesmo que no momento
seja impossível ver isto.
Dez anos se passaram entre querer cumprir o Shabat e realmente guardá-lo.
Todos aqueles anos eu estive olhando para o mundo e aquilo que ele tinha,
ao mesmo tempo comparando-o secretamente com a alegria e santidade do
Shabat. Após ser afortunado o suficiente para ver bastante do
mundo, eu finalmente soube. Nada é melhor que o Shabat.
David
Sacks é um roteirista premiado com o Emmy.
Seus podcasts semanais estão disponíveis em torahonitunes.com