Segundo a tradição judaica,
a alma é uma porção de D'us instilada num corpo
físico. A alma Divina anima e vivifica o corpo. Permite que ele
veja, ouça e interaja com o mundo ao seu redor. Em hebraico,
a alma é chamada Neshamá, que literalmente significa "sopro".
Ao descrever a criação do primeiro ser humano, Adam, a
Torá relata: "E D'us formou o homem do pó do chão,
e Ele soprou em suas narinas a alma da vida, e o homem se tornou uma
alma viva" (Bereshit 2:7).
O misticismo judaico nos ensina que quando alguém sopra o ar,
o sopro vem diretamente da sua essência. É interno, imutável
e não formado pela vocalização.
A vida ideal é aquela na qual o físico
e o espiritual se completam, com cada componente conseguindo o necessário
para fazer o melhor possível de seu tempo na terra.Ao
declarar que D'us "soprou nas narinas de Adam a alma da vida",
a Torá está nos dizendo que D'us concedeu Sua "essência"
ao homem, ao contrário de todas as outras criações,
que foram trazidas à vida "externamente", através
de Sua palavra (D'us "Disse" que haja…)
Vinda da essência de D'us, a alma é perfeita e imaculada.
É encarregada da tarefa de fazer uma "morada para D'us"
neste mundo, por meio do cumprimento das mitsvot (Mandamentos de D'us,
em hebraico) e atos de bondade.
Durante o tempo de vida de uma pessoa na terra, ela recebe o mérito
e o livre arbítrio para ser a parceira de sua alma Divina. Pode
afetá-la, e afetar o mundo, seja permitindo que a alma brilhe
através de pensamentos, palavras e ações dignos,
ou, D'us não o permita, enterrando-a sob camadas e disfarces,
suprimindo e escondendo sua radiância Divina. Assim D'us, em Sua
infinita sabedoria, concedeu a Seu povo o presente do arrependimento,
permitindo que a pessoa "apague a lousa", e comece de novo.
A União de Corpo e Alma
A alma, sendo uma parte de D'us, partilha todos os Seus atributos:
é Infinita, Toda Poderosa, Sagrada e Eterna, para enumerar apenas
alguns dos atributos Divinos. O corpo, em comparação,
é feito de matéria física. É temporário.
Está aqui hoje, mas começa a desintegrar-se assim que
a alma deixa o abandona.
Podemos então entender prontamente a preocupação
do Judaísmo com a alma acima do corpo. A alma perdura, ao passo
que o corpo retorna ao pó.
Isso de maneira alguma diminui a importância do corpo ou do mundo
material. Somente ao descer no corpo físico e viver neste mundo
a alma pode cumprir sua tarefa. O corpo habilita a alma a conferir Divindade
ao mundo, bem como adquirir santidade adicional para si mesma.
Isso é conseguido especificamente ao interagir com o mundo físico
e material, cumprindo mitsvot e outros atos de bondade, e através
do estudo de Sua Torá.
Ao mesmo tempo, a alma permite que o corpo transcenda sua natureza animal,
refinando-o e revelando sua Divindade e sua bondade inata. Cria dentro
do corpo um anseio de escapar dos limites da existência material
e conectar-se com o eterno.
A Corte Celestial
Após deixar este mundo, a alma é levada perante a Corte
Celestial para prestar contas de seus dias e ações (ou
falta de ações) durante seu tempo de vida mortal.
A tradição judaica fala de uma "Balança Celestial"
na qual são pesados os atos positivos e os negativos. A alma
recebe sua recompensa ou punição segundo esta pesagem.
O Jardim do Éden – Vida Após a Vida
No Judaísmo não há "Após a Vida"
– porque a vida jamais termina. Como está escrito em Cohêlet
(12:7): "E o pó (corpo) retorna à terra como era,
e o espírito retorna a D'us que o concedeu."
A Torá ensina que há dois mundos ou estados: Olam Hazé
(este mundo) e Olam Habá (o Mundo Vindouro). No Olam Hazé,
a Divindade está oculta (permitindo que a pessoa tenha livre
arbítrio). No Olam Habá, a Divindade está completamente
revelada. No meio desses dois mundos está o Gan Eden, (céu,
paraíso). Ali a alma repousa até ser levada ao Mundo Vindouro,
e recebe como recompensa a Divindade que é trazida ao mundo.
A quantidade de radiância Divina que a alma é capaz de
absorver e desfrutar no Gan Eden, e no Mundo Vindouro, é diretamente
proporcional à Torá, mitsvot e atos de bondade realizados
pela pessoa neste mundo.
Se a alma retorna "manchada", deve passar por um estado de
"Gehinom" (purgando, purgatório), no qual é
capaz de entender as falhas espirituais e o vácuo causado por
seus erros e transgressões, antes que possa entrar no Gan Eden.
Somos ensinados que como a alma Divina é pura e boa em sua essência,
a experiência do Gehinom jamais excede doze meses.
Suavizando o Julgamento da Alma
Como todos os judeus vêm de uma única fonte, todos os judeus
são essencialmente uma entidade Divina. Portanto, somos capazes
de beneficiar, e somos responsáveis, uns pelos outros.
Assim, mesmo se a alma não realizou o tanto que poderia ou deveria,
e precisa passar pelo Gehinom os membros da família (especialmente
os filhos), amigos e até estranhos podem suavizar seu julgamento.
Isso é feito recitando o Kadish, cumprindo mitsvot, fazendo caridade
e estudando Torá em mérito da alma.
OLAM HABÁ
O Mundo Vindouro
A Ressurreição dos Mortos
Um dos fundamentos da crença judaica é Techiat Hameitim,
a ressurreição dos mortos, quando cada corpo será
regenerado e sua alma restaurada. Segundo essa tradição,
esta era será introduzida por Mashiach, o Messias.
O Judaísmo acredita que o mundo está constantemente marchando
para esse estado, e quando isso for alcançado, a Divindade será
abertamente revelada. Toda a negatividade, doença, guerras e
morte desaparecerão, e a terra ficará repleta com o conhecimento
de D'us, como as águas cobrem o mar. Naquele tempo, todo judeu
que já tenha vivido, bem como os não-judeus justos, serão
trazidos de volta à vida para desfrutarem a luz eterna de D'us.
A Era de Mashiach não está longe, nem é uma impossibilidade
em nosso tempo de vida. Mashiach pode vir num instante. Cada ação
positiva que é realizada neste mundo pode ser aquela que inclinará
a balança do bem sobre o mal e trará esta Era.
Sua Alma Como Seu Guia
A alma serve como uma "bússola espiritual" que orienta
o corpo em sua jornada através do mundo material, tentando educá-lo
para apreciar e perseguir a espiritualidade. Em última análise,
a alma refina o físico até este se tornar "um"
com a alma. A essa altura, o corpo se torna um veículo para a
alma e, em última análise, a Vontade de D'us. Uma pessoa
nesse estado é chamada de Tsadic, aquele que é totalmente
justo.
Alimentando Sua Alma
Além de dar a cada um de nós uma porção
de Si Mesmo, D'us nos deu a Torá. As leis e mitsvot da Torá
alimentam a alma e possibilitam sua completa expressão. A Torá
ensina a alma como conquistar e elevar a natureza animalesca do corpo
e a materialidade do mundo. Quando chega a hora de partir, a alma retorna
à sua fonte juntamente com a Torá que estudou, as mitsvot
que cumpriu e as boas ações que realizou enquanto esteve
neste mundo.
Se no entanto, um judeu vive fora da Torá, ou em contradição
com ela, a alma Divina e pura se torna impura e manchada. A menos que
faça sincera teshuvá (retorno, arrependimento) durante
a vida, a alma permanece dessa maneira até se separar do corpo,
quando retorna à sua fonte "de mãos vazias".
A Contribuição Única de Sua Alma
Segundo a Cabalá (ensinamentos místicos), toda alma tem
uma missão para cumprir neste mundo. Cada alma revela e confere
Santidade a uma parte do mundo que é exclusiva dela. Nenhuma
outra alma pode cumprir sua tarefa. Além disso, cumprir a tarefa
é necessário para aperfeiçoar o mundo.
Portanto, o Judaísmo leva a sério o conceito de responsabilidade
individual. Ninguém pode dizer que "os outros estão
fazendo aquilo que a Torá exige, portanto não preciso
me preocupar com isso." O Judaísmo requer a contribuição
única de cada pessoa, assim como o mundo, que não pode
ser espiritualmente completo sem isso.
Segundo a Torá, a pessoa que cai doente
deve procurar a melhor ajuda médica para seu problema; não
pode simplesmente confiar em um milagre. Ao mesmo tempo, deve rezar
e pedir a D'us uma recuperação completa e rápida.Uma
forma de descobrir a missão e propósito de sua alma é
procurar dentro de si as difíceis barreiras espirituais: a mitsvá
ou as mitsvot "difíceis demais" ou além da sua
capacidade ou nível. Cada um de nós tem as coisas que
vêm com facilidade, e aquelas que exigem muito esforço.
Aqueles desafios difíceis são sua verdadeira meta e a
sua tarefa de vida.
Mitsvot desafiadoras são um tipo de indicador. Extrair uma profunda
satisfação e prazer de uma mitsvá específica
poderia indicar que esta, também, é pertinente à
missão de sua alma. Revisar os resultados da busca de sua alma
com um amigo ou mentor assegurará que o processo e conclusões
sejam objetivos.
A relação de nosso corpo com a Torá
Não é coincidência aprendermos que as 613 mitsvot
na Torá correspondem a partes do corpo humano. Os 248 mandamentos
positivos (Faça) se relacionam com os 248 membros do corpo, e
as 365 proibições (Não faça) com os 365
vasos e tendões.
O Talmud e a Cabalá estão repletos de histórias
nas quais o estado de saúde de uma pessoa reflete seu estado
espiritual. Por exemplo, se alguém tem uma moléstia digestiva,
deve se preocupar com a verificação do status casher de
sua comida. Se sofre de depressão, deve aumentar suas doações
para caridade. Se tem dificuldade em conceber, deve revisar as Leis
da Pureza Familiar.
Embora as ligações não sejam sempre simples e diretas
como o exemplo acima, essas histórias ilustram a forte relação
que existe entre nosso bem-estar físico e a completa expressão
de nossa alma, que nos dá vida.
A vida ideal é aquela na qual o físico e o espiritual
se completam, com cada componente conseguindo o necessário para
fazer o melhor possível de seu tempo na terra.
Reencarnação e Segundas Chances
A Torá ensina que a alma é enviada a este mundo para elevar
sua porção no plano físico. Se falhar em qualquer
aspecto, ou em algum detalhe específico, deverá voltar
a este mundo em outro corpo, até que sua tarefa seja completada.
Por exemplo, se a pessoa foi perfeita na observância do Shabat
em uma vida mas falha em doar para caridade, sua alma terá de
viver uma vida completamente nova para aperfeiçoar a prática
da caridade, e o mesmo se aplica ao restante das mitsvot.
Vida e Doença
"Que você viva até os 120…"
Todo segundo de vida, do momento da concepção até
completar os anos de vida da pessoa neste mundo, é um presente
de D'us, um presente que não deve ser desperdiçado. De
fato, a cada dia, os judeus pedem a D'us em prece que sua vida seja
preenchida com dias que sejam significativos, saudáveis e verdadeiramente
completos aos olhos de D'us.
É comum entre os judeus desejarem um ao outro que vivam "até
os 120". Isso é porque a Torá nos conta que Moshê
tinha 120 anos quando faleceu (Devarim 34:7), e sua vida foi considerada
perfeita e completa. Outros líderes que viveram até a
idade de 120 incluem Hillel, Rabi Yochanan ben Zakai, Rabi Akiva e Rabi
Yehudah Hanassi. Cada qual foi um gigante em sua época.
O Judaísmo insiste em que a pessoa jamais se canse da vida. Em
vez disso, deve esperar ansiosamente cada ano adicional, com entusiasmo
e determinação de aproveitar ao máximo todas as
oportunidades em cada etapa da vida. Mais uma vez, olhe para Moshê.
Ele foi criado como um príncipe na casa do faraó. Porém
D'us não lhe ordenou que tirasse os Filhos de Israel do Egito
até que ele completasse 80 anos!
Resguardando a Própria Vida
É um mandamento positivo para cada judeu viver o máximo
possível, como declara a Torá: "Preserve a si mesmo
e a sua alma diligentemente." (Devarim 4:9). A dedução
prática é que a pessoa deve se esforçar para viver
e não pode permitir que a saúde se deteriore ou ferir
deliberadamente o corpo.
Segundo a Torá, a pessoa que cai doente deve procurar a melhor
ajuda médica para seu problema; não pode simplesmente
confiar em um milagre. Ao mesmo tempo, deve rezar e pedir a D'us uma
recuperação completa e rápida.
Um Parceiro na Cura
A cura, em última análise, vem de D'us. Porém por
razões que só Ele conhece, D'us determinou que temos de
atrair Sua cura por meio de um especialista ou intermediário.
Na verdade, nossos Sábios ensinaram que toda a área da
ciência médica e seus muitos praticantes são apenas
receptores das bênçãos de D'us neste mundo.
A prática da medicina é tão importante que o Código
da Lei Judaica declara: "O direito do médico de curar é
um dever religioso." Na essência, o médico é
"parceiro" com D'us na restauração da saúde,
e sua parte na sociedade é apenas a restauração
da saúde da pessoa. O verdadeiro destino da pessoa é deixada
para D'us e a Corte celestial. Portanto, os médicos não
podem dizer que fulano de tal tem somente um determinado número
de meses para viver, nem a pessoa deve aceitar esta previsão.
Etapas Práticas Para a Cura
Um conselho dos nossos Sábios: encontre um bom médico
e siga suas instruções. Não fique remoendo pensamentos
sobre a doença. Tenha apenas pensamentos sadios. Fortaleça
sua confiança Naquele que cura toda a carne, e Ele curará
você, qualquer que seja a maneira que Ele achar adequada. E intensifique
seu estudo das partes esotéricas da Torá.
Espiritualidade e Cura
Quando busca uma cura, a pessoa deveria trabalhar tanto no aspecto material
quanto no espiritual. O material inclui encontrar a melhor ajuda médica
e seguir os tratamentos prescritos. Porém há alguns passos
que a pessoa pode dar espiritualmente para melhorar a situação.
Por exemplo, as preces de uma pessoa doente podem ser muito eficazes,
e portanto jamais deve desesperar. Mesmo que aos olhos mortais pareça
não haver esperança, nada é impossível para
D'us. Além da prece, a pessoa deve intensificar seu estudo de
Torá e cumprimento de mitsvot. Isso pode incluir caridade adicional,
adotar a observância de uma mitsvá nova, e assim por diante.
Alguns pedem que um tsadic (justo) os abençoe ou reze por eles,
pois aprendemos que as preces de um tsadic são prontamente aceitas
por D'us.
A Cabalá da Doença
Com foi mencionado acima, a Torá declara: "Preserve a si
mesmo e a sua alma diligentemente." (Devarim 4:9). Isso indica
que a pessoa deve cuidar da alma assim como cuida do bem-estar físico,
caso contrário a Torá teria simplesmente declarado: "preserve
a si mesmo."
A Cabalá ensina que a doença vem quando os canais pelos
quais a alma irradia estão "entupidos". Limpe o bloqueio,
explica a Cabalá, e a doença desaparecerá. Teshuvá,
que significa retorno e arrependimento, pode ajudar nesse aspecto. Por
esse motivo, a Lei Judaica declara que quando alguém está
doente, deve checar e rever seus caminhos. Se o pensamento, palavra
e ação não estão como deveriam ser, a pessoa
deve se arrepender do passado e resolver melhorar no futuro. A pessoa
deve adotar ações específicas que demonstrem sua
resolução de melhorar sua conduta.
Como parte do aumento da observância de Torá e do reparo
de falhas espirituais, é costume pedir a um escriba que examine
os tefilin (filactérios) e mezuzot (rolos de pergaminho colocados
nos batentes das casas e empresas judaicas) da pessoa que está
doente. Se for detectado que estão defeituosos, são corrigidos
nessa ocasião.
Na verdade, há incontáveis histórias ligando o
status casher dos tefilin e mezuzot da pessoa ao estado físico
daqueles que o cercam.
Por exemplo, um jovem estava tendo sérios problemas com o coração
e os médicos estavam preocupados. Viram que o problema era tão
grave a ponto de ser intratável. Por sugestão de um amigo,
o rapaz pediu que um escriba inspecionasse as mezuzot de sua casa. Este
descobriu que a palavra "lev", em hebraico "coração",
estava faltando no texto. A família substituiu a mezuzá
por uma casher e o jovem ficou completamente curado, deixando os médicos
perplexos.
Nem sempre a conexão entre a doença física e a
dimensão espiritual é tão clara. Às vezes
isso permanece oculto de nós, e por isso as pessoas procuram
o conselho de um tsadic, além do médico, durante uma doença.
Muitas vezes, o tsadic pode identificar a fonte espiritual de um problema
físico e sugere maneiras de retificar a situação.
Na recuperação
Quando a pessoa se recupera de uma doença grave, seus pensamentos
e preces devem imediatamente se dirigir a agradecer a D'us. Muitas pessoas
começam a cumprir uma mitsvá que não tinha cumprido
antes, ou comprometer-se a melhorar um determinado aspecto de sua vida
espiritual, como uma forma de agradecer a D'us por dar-lhe mais dias
com os quais cumprir a missão de sua alma, e tornar este mundo
um lugar melhor.
Alguns têm o costume de fazer uma Seudat Hodaá, uma refeição
de agradecimento. Durante essa refeição festiva, o anfitrião
e os convidados partilham pensamentos e palavras de Torá designados
para inspirar aqueles presentes a intensificarem sua observância
de Torá. Muitos também doam tsedacá a uma causa
digna ou a uma pessoa necessitada para expressar sua gratidão
a D'us.
Os homens recitam a bênção de graças Hagomel
na conclusão da leitura da Torá na sinagoga.
A Importância da Vida
Segundo o Judaísmo, a vida é extremamente preciosa e sagrada,
portanto a pessoa não pode tratar levianamente questões
de vida e morte. D'us declara claramente na Torá: "Portanto
escolha a vida." (Devarim 30:19). Embora tenhamos o poder de fazer
uma escolha, D'us nos conclama a escolhermos a vida acima da morte.
Por este motivo, o Judaísmo proíbe atos que resultam em
"morte misericordiosa", ou que garantam "o direito de
terminar a vida". Até o momento da morte natural, todo segundo
que a alma está no corpo é de inestimável valor
– não apenas para o corpo, mas para o povo judeu e o mundo
em geral.
O simples fato de que alma e corpo ainda estão juntos é
motivo suficiente para sustentar esta união por todos os meios
possíveis, independentemente da presumida "qualidade de
vida" (como se alguém pudesse realmente avaliar a qualidade
de vida) da pessoa. A vida é de valor infinito, não relativo,
e matematicamente qualquer fração de infinidade deve também
ser infinita.
Além disso, o Talmud declara que uma pessoa pode adquirir sua
porção inteira no Mundo Vindouro num único instante,
através do arrependimento. Ninguém pode negar a uma pessoa
esta chance.
Nas Mãos de D'us
Há uma expressão nos escritos judaicos dizendo que "mesmo
que uma espada esteja pendendo sobre o pescoço de uma pessoa"
e a morte parece certa, ele não deve se desesperar. Assim como
a pessoa sabe que D'us criou o mundo e sustenta a vida nele, deve também
saber que D'us pode intervir e poupá-la daquele que parece ser
um destino certo.
Para explicar de outra maneira: se D'us não quisesse que estivéssemos
vivos neste exato momento, nós pararíamos imediatamente
de viver. Somente este fato já demonstra que Ele quer que vivamos.
Se nós (ou nossos entes queridos) não podemos ver um motivo
para continuar vivos, isso não significa que D'us não
o veja. D'us está realmente no controle e devemos extrair força,
coragem e conforto desse fato.
Numa Encruzilhada
Quando é preciso tomar decisões sobre cuidados consigo
mesmo ou com um ente querido, todos os envolvidos são motivados
pela preocupação com o paciente e o desejo de fazer a
coisa certa.
Muitas vezes, isso é mais fácil de falar do que de fazer.
Quem pode dizer o que é realmente "a coisa certa"?
Quem somos nós para tomar uma decisão que pode se tornar
irreversível? Como judeus, somos afortunados por termos a Torá,
que serve de luz para orientar todos os aspectos da vida.
Como mencionado anteriormente, a Torá enfatiza a obrigação
de estender a vida, que recai sobre todos. Além de muitas outras
razões, durante estes momentos extras, a alma ainda pode fazer
teshuvá, verdadeiro arrependimento, e atingir sua plenitude –
uma oportunidade que é perdida, uma vez que a alma tenha deixado
este mundo.
Ao tomar decisões que afetam a vida de uma pessoa, deve-se ser
sensível às necessidades da alma, além do corpo.
É imperativo consultar um rabino especialista nessa área
da Lei Judaica. Isso assegura que tudo que for feito é orientado
pela Torá, e a pessoa ficará em paz sabendo que fez o
que é certo, de acordo com D'us e aquilo que é certo para
seu ente querido.
A Vida Sempre É Digna de Ser Vivida
Como já mencionamos, todo momento que a alma passa no corpo é
valioso. Não podemos entender o que isso significa em nossos
termos, mas sem dúvida a "qualidade" tem de ser medida
por mais do que aquilo que vemos ou entendemos. Para isso, devemos nos
voltar para a Torá e orientação rabínica.
A Torá ensina que as almas vêm à terra para muitos
propósitos. Talvez o destino de uma alma seja provocar certas
reações da nossa parte, ensinar-nos o significado da vida
e do amor, ajudar-nos a entender a essência da pessoa, não
seu aspecto físico. Se conseguirmos aprender a lição,
então a alma cumpriu sua missão e é recompensada
por isso. Se deixarmos de corresponder com sensibilidade e respeito
pelo valor incondicional da vida daquela pessoa, não apenas negamos
à alma sua realização e recompensa espiritual,
como negamos um pequena parte também da nossa realização.
Eu Sou o Guardião da Minha Vida
Quando D'us concede vida a uma pessoa, ela se torna um guardião
que deve cuidar deste "presente". Segundo o Judaísmo,
não somos "donos" da nossa alma ou do corpo, nem somos
livres para terminar a vida quando quisermos. Vida e morte sempre foram,
e sempre serão, do âmbito de D'us e da Corte Celestial.
Portanto, se alguém tira a própria vida, D'us não
o permita, é responsável por assassinato, mesmo que seja
de si mesmo. Esta ação é tão grave que a
Torá proíbe alguém que cometeu suicídio
de ser enterrado num cemitério judaico ou de ser pranteado pela
família.