por Rabino Manis Friedman  
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  Homem e Mulher  
   
 

Quando D'us criou Adam (Adão), no momento em que este abriu os olhos, qual era seu perfil psicológico? Não tinha Complexo de Édipo, porque não tinha mãe. Não tinha um trauma de nascimento, porque não nascera. Não tinha rivalidade entre irmãos... Como era este homem? Como era a constituição de sua psique?

É interessante notar que Adam tampouco tinha instinto de sobrevivência. Por esta razão, quando D'us disse: "O dia em que comeres desta árvore, morrerás," Adam não ficou impressionado. "Tudo, bem então morrerei." Não tinha instinto de sobrevivência. Então, o que se passava em sua mente?

Adam tinha um desejo de morte. Assim era sua psique. Sentia desejo de morrer porque a vida era tão "não-natural." Num certo sentido, quando D'us diz: "Vieste do pó, e ao pó retornarás," isso descreve a psique de Adam. "Vim do pó, e desejo voltar."

Voltar a quê? Ao pó. De volta ao nada.

Os homens, até hoje, têm este complexo. Se você descartar a parte externa, os ornamentos - se tirar seu carro, seu dinheiro, e seus sapatos de camurça azul - não há mais nada, somente pó. Todo homem fica apavorado de que ao final, não terá conseguido nada, apesar de suas realizações. Ele pode ser o mais rico, mais bem sucedido e mais poderoso dos homens, o mais talentoso e admirado. Dentro de si, bem no fundo, ele teme que tudo isso desapareça e ele será um nada, uma nulidade, um zero.

Mulheres não sentem isso. Uma mulher não tem medo ou suspeita de sua própria nulidade. Ela não existe. Porque Chava (Eva) não foi criada a partir do pó, foi criada a partir de Adam. Portanto, se um homem tem medo de ser reduzido novamente a nada, uma mulher, se você tirar dela todas suas realizações, todas suas conquistas, ela será reduzida a um homem.

Quando você leva embora o ser de uma mulher, ela não se torna uma nulidade, ela torna-se ele. Ela perde a si mesma nele. Quando você tira o ser de um homem, ele não se perde nela, ela torna-se nada.

Eis por que um homem precisa realizar; porque precisa negar esta nulidade. Ao passo que a mulher não precisa realizar a fim de existir - ela precisa realizar para ser valorizada.

Porque se você é um nada e precisa tornar-se algo, então a realização é tudo, e mais que qualquer outra coisa, precisa de respeito. O respeito significa que você é algo.

Uma mulher, que não tem medo de tornar-se nada, não entende e não pode tolerar quando seu "alguma coisa" não é valorizado. Portanto, aquilo que a mulher precisa, acima de tudo, é da valorização.

O Talmud afirma que um homem deveria honrar sua mulher e ser muito cuidadoso com seus sentimentos. Um homem deveria ser cuidadoso com a honra de sua mulher, porque a mulher é sensível à injustiça. Isto não é somente uma observação fútil sobre as mulheres. No âmago do coração de cada mulher, é a injustiça que a perturba. Ela está sendo tratada como se nada fosse, e isso não é verdade. Ela é algo, e esta injustiça magoa.

Quando um homem é tratado como se fosse nada, não é a injustiça que lhe dói - é a verdade. Ele é nada, e odeia ser lembrado disso. Sua reação não é tanto pela injustiça, não é tanto a indignação moral, é uma dor pessoal. Ao passo que com a mulher, não importa o quanto seja abusada ou destruída, para ela, isso permanece uma injustiça moral.

Eis por que pode haver uma mulher que sofra abusos em um relacionamento durante anos, e tudo que ela diz a si mesma é que merece isso. Um homem não pode fazer isso. Ele não pode dizer: "Mereço isso" porque esta não é a questão. A questão, para o homem, é "Sou ou não sou." Se você abusar de mim, então não sou e não posso aceitar isso. Não posso ser diminuído até o nada e continuar vivendo. Uma mulher, por outro lado, simplesmente diz a si mesma: "Mereço isso, portanto não é uma injustiça." Desta maneira, ela pode continuar vivendo.

Isso explica por que os homens são agressivos. Um homem está desesperado para ser reconhecido como alguém, e portanto precisa provar-se, necessita realizar, tem de adquirir. Esta necessidade de adquirir é uma agressão. Ao passo que a mulher está determinada a reter aquilo que é dela, a permanecer ela própria. Não importa o quão intensamente ela busque isso, não é agressão, porque ela não está a fim de adquirir - está tentando preservar.

Quando o leão sai para caçar, é agressivo. Quando a leoa vai, está tentando sustentar sua família. Embora ela possa ser mais violenta que o macho, isso não é agressão - é sobrevivência. Quando você ameaça um bebê urso enquanto a mãe está por perto, você está em apuros. Você diz: "Oh, esta mãe é agressiva." Porém ela não é, ela é totalmente passiva. Se você não representar uma ameaça, ela não vai atrás de você. Ela não deseja nada que pertença a você. Deseja conservar aquilo que tem e fará isso ferozmente. Mas trata-se apenas de sobrevivência, portanto não é agressão.

Em contraste, o leão macho deseja o que você tem, e dará um jeito de conseguir. Portanto, mesmo se ele o fizer gentilmente, é agressão. Mesmo uma sedução muito sutil e refinada é agressão, porque você está tentando conseguir aquilo que não é seu. Você sai para conseguir alguma coisa, está adquirindo, é um predador. Talvez você seja um predador simpático, mas isso, também, é agressivo.

Os homens são chamados de agressivos porque precisam de algo que não têm. As mulheres são chamadas passivas, porque não necessariamente desejam aquilo que não têm; elas gostam daquilo que têm. Não estamos falando de posses físicas, mas sim de psicológicas, da psique.

Isso nos ajuda a entender as bênçãos que homens e mulheres fazem perante a Prece Matinal.

Um homem diz: "Obrigado por não fazer-me uma mulher." Um homem é grato por aquilo que não é. Como não pode fazer uma declaração positiva, ele não pode dizer: "Obrigado por aquilo que sou." Ele nunca está certo de ser alguma coisa.

Uma mulher diz: "Obrigada por fazer-me como desejas que eu seja." Uma mulher pode fazer uma declaração positiva sobre si mesma, porque ela sabe aquilo que é. Ela é grata pelo que é.

 
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