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Trabalhando na Estrada
Um sujeito parou num posto de gasolina na zona rural e, após encher
o tanque, pagou a conta e comprou um refrigerante. Ficou de pé
ao lado do carro enquanto tomava a bebida e viu dois homens trabalhando
ao longo da rodovia. Um deles cavou um buraco com meio metro de profundidade
e se afastou. O outro aproximou-se e encheu o buraco. Enquanto um deles
estava cavando um novo buraco, o outro estava quase acabando de encher
o outro. Os homens trabalhavam bem atrás do sujeito com o refrigerante,
e depois seguiram para a estrada. “Não consigo aguentar isso,”
disse o homem, jogando a lata vazia num cesto de lixo e indo na direção
dos dois homens.
“Esperem, esperem,” disse ele aos homens. “Podem me
dizer o que está acontecendo aqui?”
“Bem, trabalhamos para o governo da cidade,” disse um deles.
“Mas um de vocês cava o buraco e o outro o enche de terra.
Não estão conseguindo nada. Não estão desperdiçando
o dinheiro da cidade?”
“Não está entendendo, senhor,” disse um dos
homens, apoiando-se na picareta e enxugando o suor da testa. “Normalmente
há três de nós – eu, Rodney e Mike. Eu cavo
o buraco, Rodney coloca a muda de árvore e este aqui, Moke, coloca
a terra de volta.”
“Sim,” disse Mike, “Ora, só porque Rodney está
doente, isso não significa que não podemos trabalhar, não
é?”
A Nuvem
A jornada do povo judeu no deserto, relata a Torá na porção
dessa semana (Behaalotechá), foi guiada por D'us. Uma nuvem pairava
sobre o Santuário portátil construído no deserto.
“Toda vez que a nuvem se erguia da Tenda, os israelitas empreendiam
viagem; e no local onde a nuvem parava, eles acampavam.”1
“Eles então acampavam à palavra de D'us e se moviam
à palavra de D'us,” declara a Torá.2
Ora, a Torá repete esta frase “Eles então acampavam
à palavra de D'us e prosseguiam à palavra de D'us”
– três vezes!3
Isso é estranho. Por que repetir as mesmas palavras três
vezes? A mensagem ficou bem clara da primeira vez: a jornada dos judeus
através do deserto – seu movimento, bem como suas paradas
– foi determinada por D'us.
Três Atitudes
Essa declaração triplamente repetida do mesmo fato –
“Eles então acamparam à palavra de D'us e se moveram
à palavra de D'us” – representa três estados
de consciência relacionados a D'us orientando a jornada israelita
através do deserto. A nuvem pode ter determinado o caminho, mas
havia três maneiras de entender esta verdade.
Da primeira vez que a Torá faz essa declaração, é
meramente declarando o fato objetivo. O povo judeu moveu-se à palavra
de D'us e acampou à palavra de D'us. Alguns deles podem não
ter prestado atenção à nuvem ou até pensaram
que a mudança de posição era aleatória. Porém
sua falta de percepção não alterou a verdade: era
o GPS – “G’d position System”, Sistema de Posicionamento
de D'us – que os guiava no deserto.
A segunda declaração nos informa sobre uma percepção
profunda que invadia o povo judeu na época. Nas palavras do comentarista
espanhol medieval Ramban (Rabi Moshê ben Nachman, Nachmânides,
1194-1270): “Embora eles possam ter ficado exaustos (e quisessem
ficar mais tempo) ou mesmo se estivessem descontentes com o local e quisessem
prosseguir, eles desconsideraram os próprios desejos e guiaram
seus movimentos pela nuvem”4 Eles estavam conscientes
do fato de que deveriam subordinar suas preferências à vontade
de D'us que ditava sua jornada.
A terceira declaração leva isto a um novo nível.
O povo judeu, noz diz a Torá, não tinha as próprias
preferências. Eles não se importavam de acampar, nem de seguir
em frente. Seu exclusivo desejo era servir como condutores para o rumo
que D'us mapeara para eles, abraçar os destinos que o Todo Poderoso
preparara para eles. Sua visão pessoal era inteiramente alinhada
com a visão de D'us para eles.5
Ilusão ou Sinfonia?
Esta trilha israelita através do deserto é uma
metáfora vívida para nossas próprias jornadas de
hoje, tanto como indivíduos quanto como parte de um povo. Uma nuvem
paira acima de cada um de nós guiando nossa viagem individual e
coletiva na vida. O Baal Shem Tov (1698-1740), fundador do Movimento Chassídico,
ensinava que há um “GPS Divino” instilado na alma de
toda criatura, guiando-a através dos tortuosos caminhos do deserto
da vida.
Ora, cabe a nós escolher dentre as três perspectivas mencionadas
acima.
No primeiro estado de consciência, você está separado
do “quadro geral” da sua vida. Sua jornada ainda é
determinada por D'us, mas aquela verdade ilude você. Tem sua imaginação,
você é uma bolha isolada num universo vasto e sem significado;
a realidade em seu âmago é indiferente às suas lutas
e triunfos. Sua vida carece de uma narrativa. Porém ao contrário
de seu GPS terreno que você tem a opção de ignorar,
ficar furioso com ele ou desligar, seu GPS celestial ainda o orienta mesmo
que sua voz permaneça inaudível.
No segundo e mais elevado estado de consciência, você fica
ciente de uma verdade inevitável – que a vida apresenta a
cada um de nós um conjunto específico de desafios e oportunidades.
Cada um de nós tem uma missão para a qual nossa alma foi
enviada à terra, portanto todo encontro e experiência é
um componente indispensável de uma grande sinfonia cósmica
que cobre o universo inteiro. Você está consciente dele e
se rende a ele, muitas vezes de má vontade, subjugando seus próprios
sonhos aos de D'us.
No terceiro e mais profundo estado de consciência, você alinha
suas ambições, sonhos e metas com aqueles de D'us. Vai além
de sua estreita percepção de aonde sua vida deve levar você,
e você permite que o âmago da realidade de D'us estabeleça
o rumo.
Em vez de resistir, escapar e se esconder, você abraça a
vida, a todo momento, com um grande abraço. Toda manhã você
acorda e diz: D'us! Estou pronto para o que der e vier! Onde quer que
Você deseje que eu vá hoje, estou dentro. Você dirige
e eu aperto o pedal à toda velocidade. Bon voyage!
Sim, às vezes preferimos outras rotas e destinos alternativos.
O GPS de D'us às vezes nos leva através de estradas estranhas
e complexas; muitas vezes prefere caminhos de pedra em vez dos pavimentados.
Mas você vai passar o resto da sua vida combatendo a realidade?
Há sequer uma existência fora da realidade? Ou você
terá a coragem de ouvir a “pequena voz silenciosa”
guiando você através do deserto até a Terra Prometida?
NOTAS
1. Bamidbar 9:17
2. Ibid. 9:18
3. Ibid. 9:18; 20:23
4. Rambam ibid. 9:19
5. Veja o comentário de Rabi Chaim ben Atar (falecido em 1740 em
Jerusalém}, conhecido como o Or Hachaim a estes versículos.
Baseado em sua explicação, fica claro como as palavras em
cada um dos três versículos representam essas três
perspectivas.
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