Se você nunca experimentou uma celebração de Simchat
Torá num Centro de Chabad, então perdeu uma das maiores
experiências da vida. Cantar, dançar com a Torá
e alguns L’chayim são apenas algumas das atividades que
fazem de Simchat Torá um feriado para relembrar.
É uma tradição no Chabad de Delaware que cada participante
se comprometa com alguma mitsvá no decorrer das festividades.
Na celebração deste ano, eu me comprometi de usar tsitsit,
também conhecido como talit catan, um mini talit que um judeu
religioso usa debaixo da camisa.
Para mim era um grande passo pois, tradicionalmente, judeus observantes
enrolam as franjas do talit sob a barra da camisa e as deixam soltas,
penduradas à vista. Eu estava ansioso par cumprir a mitsvá
de colocar tsitsit, mas hesitante sobre deixar o mundo não-judaico
ver-me caminhando pelo bairro com franjas penduradas na cintura. Eu
tinha percorrido um longo caminho durante um ano na minha jornada espiritual,
mas não sabia se estava preparado para dar mais este passo.
No entanto, as palavras de Rabi Vogel ficaram na minha cabeça.
Quando comecei a resmungar por permanecer na Sucá quando estava
chovendo, vendo as gotas da chuva ensoparem meu pedaço de chalá,
ele sorriu e me lembrou que: “Ninguém jamais disse que
uma mitsvá tinha de ser fácil.” Embora eu pudesse
comer chalá ensopada, a idéia de passar pelos meus vizinhos
não-judeus e meus colegas de trabalho com “cordas”
penduradas na cintura era difícil de aceitar. Achei que todo
mundo estaria olhando para mim, imaginando o que poderia ser aquele
negócio debaixo da minha camisa.
Estimulado pelas palavras do Rabino, enfrentei meus temores e inibições,
coloquei meu talit catan, juntei as franjas e deixei-as pender livremente
da cintura. Tenho de admitir que a primeira vez foi muito difícil.
Eu estava tããããããããão
constrangido. Achava que todas as pessoas do mundo estavam olhando para
mim ao mesmo tempo. Mas sabe o que mais? Ninguém estava zombando,
e às vezes eu até recebia um aceno ou uma piscadinha,
um Shabat Shalom ou em algumas raras ocasiões um sinal de positivo
vindo de alguém com estampa de vovô que passava por mim
na rua.
Tive a impressão de que os outros realmente admiravam o fato
de eu ter escolhido usar uma das vestes de meus ancestrais e seguir
um dos mandamentos de Hashem.
Eu não fui o único a escolher este compromisso. Dois dos
meus companheiros Chabad também decidiram usar tsitsit no Shabat.
Toda vez que eu chegava à sinagoga no Shabat olhava imediatamente
para ver se os outros também estavam usando. Após algumas
semanas, começamos a sentir um orgulho e um entusiasmo que estava
faltando em nossa vida. Estávamos cumprindo uma mitsvá
e ao mesmo tempo dando um exemplo para os outros.
À medida que as semanas se transformavam em meses, perdemos nossa
inibição e passamos a usar nosso tsitsit como um distintivo
de honra. Mas a história não termina aqui. Meu trabalho
me leva à capital do país, Washington, três ou quatro
vezes por ano. Trabalho para uma grande empresa jornalística,
e nossa sede nacional está em Washington.
Diversos meses após meu compromisso com esta mitsvá eu
estava participando de uma conferência sobre diversidade. Funcionários
do jornal de todas as partes do país tinham se reunido para discutir
por que uma equipe diversificada de funcionários é boa
para o sucesso da organização. Acontece que a reunião
caiu numa sexta-feira. Tomei o trem em Wilmingto, Delaware, e cheguei
a Washington às 8 da manhã. A reunião estava programada
para terminar às 4 da tarde. Se eu tomasse o trem das 4, sabia
que conseguiria chegar a Wilmington e estar na sinagoga para o início
dos serviços do Shabat. O único problema era que eu não
teria tempo de ir para casa, portanto não daria para colocar
meu talit catan! Eu tinha duas opções. Colocá-lo
pela manhã e usá-lo durante a reunião ou esquecer
o assunto e não usá-lo na sinagoga. AHHHHHHHHHHH! Uma
coisa era usar meu tsitsit com os amigos na sinagoga, no meu bairro
e vez por outra na casa de amigos. Outra coisa muito diferente era usá-la
nos escritórios da empresa, na frente de todo aquele pessoal
que detinha o poder.
No instante em que me convenci a deixá-lo na gaveta da minha
cômoda, ouvi a voz de Rabi Vogel me chamando… “Shlomo
Yacov, ninguém jamais disse que uma mitsvá tinha de ser
fácil. Sim, pode chover na Sucá e molhar sua chalá.
E sim, você pode ter de usar um talit numa reunião de negócios
e se sentir um pouco constrangido. Mas a verdade é: assim que
você começa a cumprir os seus compromissos, fica mais fácil
fazer compromissos maiores da próxima vez. Se você fizer
uma promessa a si mesmo e a Hashem de que fará alguma coisa,
então não pode simplesmente dizer: “Sinto muito,
eu gostaria de manter aquela promessa, mas… hoje não é
muito conveniente.”
Então tirei a camisa, coloquei o talit catan sobre a cabeça,
recitei a berachá, vesti a camisa de volta, arrumei as franjas
e saí para encontrar o meu destino.
O prédio da minha companhia é o típico edifício
no meio de uma grande cidade, 32 andares de concreto e vidro que chegam
até o céu. Quando desci do táxi parei em frente
ao prédio, alternando meu olhar entre o 32º andar e o tsitsit
pendurado na minha cintura. Meus pés simplesmente não
se mexiam. A reunião começaria em dez minutos. Finalmente
forcei meu corpo a se mexer, um pé na frente do outro e consegui
chegar à porta da frente.
Mais de 450 funcionários trabalham na sede da empresa, e a qualquer
hora há no mínimo 50 visitantes no prédio. Eu estava
convencido de que cada um deles estava olhando para as franjas que pendiam
no lado das minhas calças enquanto eu ia até o 32º andar.
Quando entrei na sala da reunião, procurei sentar-me logo. Permaneci
grudado naquela cadeira por umas boas duas horas. Finalmente comecei
a me sentir mais à vontade; foi quando o apresentador da reunião
pediu-me para ficar em pé na frente do grupo e fazer uma apresentação
sobre um programa de treinamento que eu tinha organizado recentemente.
Tudo na minha mente gritava: “Não, obrigado, estou muito
bem aqui nesta cadeira!” Porém meus lábios disseram…
claro!. Quando você está nervoso, até a caminhada
mais curta na frente de uma platéia pode parecer que dura para
sempre. Neste caso, pareceu durar uma ETERNIDADE para chegar ao pódio.
Quando comecei a fazer a apresentação, prestei atenção
à linguagem corporal das pessoas e seus olhos. Milagres dos milagres,
ninguém parecia notar. Nem um só olhar estava focalizado
em meu tsitsit. Ninguém parecia sequer notar que havia um homem
de 1,85 m de altura na frente deles com franjas penduradas, caindo ao
lado das calças. Todos pareciam ouvir atentamente as minhas palavras
de sabedoria.
Consegui fazer minhas divagações durante os próximos
30 minutos, respondi algumas perguntas e voltei à minha cadeira.
“Até que não foi tão mau” – pensei
– “ninguém reparou.”
Minutos mais tarde, fizemos um intervalo. Um grupo de amigos meus estava
tomando café no outro canto da sala, portanto fui até
lá e juntei-me a eles. Um dos meus colegas cumprimentou-me e
então disse: “Ô meu, o que são estas franjas?”
Este era o meu momento da verdade. Numa questão de segundos,
as palavras do Rabi ecoaram em minha cabeça: “Shlomo Yacov,
ninguém jamais disse que uma mitsvá tinha de ser fácil.”
Este estava para ser o momento da verdade. Em vez de me retrair daquele
momento, preferi enfrentá-lo. Afinal, que cenário melhor
que uma reunião sobre Diversidade para discutir o supremo aspecto
da Diversidade?
Durante os trinta minutos seguintes a mais famosa, maior e melhor empresa
jornalística dos Estados Unidos teve o seu tempo ocupado com
uma explicação sobre tsitsit e por que judeus observantes
o usam. Foi um dia que jamais esquecerei. Eu tinha enfrentado meus próprios
temores e vencido. Tinha testado meu sistema de crença e fora
bem-sucedido.
Mais tarde naquele dia, saí daquele prédio confiante de
que poderia continuar minha jornada espiritual, viver como um judeu
mais observante e ainda construir uma carreira numa empresa daquele
nível. Embarquei no meu trem e cheguei a Wilmington a tempo de
dar as boas vindas ao Shabat. Como no meu primeiro kidush de Shabat
seis meses antes, eu sabia que em algum lugar, de alguma forma, meu
Vovô Charlie estava orgulhoso!