Quem já não passou algum tempo
lamentando a juventude perdida? Até meu filho de cinco anos reclama
que os anos de Jardim da Infância estão passando depressa
demais para ele. Todo dia que desperdiçamos é uma oportunidade
perdida, todo ano que deixamos passar sem crescimento é um túmulo
de esperanças e aspirações abandonadas.
O único consolo, para mim, é reconhecer que nunca é
tarde demais para descer do carrossel de abandono e começar o
processo de auto-reinvenção. A lista de realizações
da história está coroada com indivíduos que somente
chegaram à grandeza já bem tarde na vida. Leia as biografias
dos “200 Mais Ricos”, por exemplo: para cada adolescente
ponto.com bilionário, há 100 outros que chegaram ao sucesso
somente após uma vida de experiências acumuladas.
Um parente meu, já no meio da casa dos cinqüenta, está
começando um curso universitário que um dia (se tudo der
certo), o tornará graduado em Psicologia.
Não é o caminho comum nesta profissão, reconheço,
mas aposto que, em vez de ser uma barreira para a realização,
sua idade e experiências passadas darão a ele uma perspectiva
única quando cuidar dos seus futuros pacientes.
O plano espiritual não é exceção. Pode-se
fazer grandes conquistas não importa a data em que se começou.
O Rebe de Lubavitch tornou-se Rebe apenas dois meses antes de seu 49º
aniversário, e conseguiu revolucionar totalmente o mundo judaico.
Numa escala mais modesta, muitos dos nossos melhores e mais brilhantes
eruditos, professores e pessoas de destaque em todo o mundo somente
redescobriram seu legado judaico na vida adulta.
Na leitura desta semana da Torá somos apresentados ao primeiro
judeu, nosso ancestral Avraham, que recebeu a ordem de D'us: "Deixa
teu país, teu local de nascimento e a casa do teu pai, para a
terra que Eu te mostrarei" (Bereshit 12:1).
Estas palavras foram dirigidas a Avraham quando ele tinha 75 anos, após
uma vida descobrindo D'us e propagando a religião que se tornaria
o Judaísmo. É interessante notar que nenhuma das suas
experiências anteriores na vida – seu auto-sacrifício,
seus conflitos com as hierarquias da época, ou seu sucesso na
divulgação do monoteísmo – foram consideradas
suficientemente importantes para merecerem uma citação
na Torá. É quase como se toda a obra da vida inteira dessa
figura histórica importante, o progenitor da nossa raça,
tivesse começado somente ali.
Eis aqui a diferença entre o Judaísmo e outras filosofias.
A maioria das pessoas pensa que para aproximar-se de D'us é preciso
primeiro entendê-Lo. Passar anos estudando os dogmas e teologias
da fé e, então, uma vez convencido da retidão do
caminho escolhido, você pode embarcar numa vida inteira de devoção.
Não o Judaísmo, não Avraham. A primeira diretriz
de D'us a Avraham que é relevante para nós é "Vai!"
"Parte!" Avraham recebeu a ordem: "Deixa o teu passado
para trás, deixa de lado a lógica, as noções
pré-concebidas, as afiliações tribais, e apenas
vai para onde Eu mandar e faz aquilo que Eu disser."
A fé é maravilhosa, a lógica é excelente,
mas um judeu serve a D'us, em primeiro lugar e antes de qualquer coisa,
através de seus atos e boas ações. Mitsvot, os
mandamentos de D'us, são a nossa maneira de nos conectarmos a
Ele.
D'us escolheu, qualquer que seja o motivo, estas ações
específicas para completar a conexão e nós, ao
cumprirmos estas mitsvot, justificamos a nossa existência.
Avraham, aos 75 anos, estava embarcando numa nova campanha. A partir
dali ele seguiria D'us aonde e quando quer que fosse, e da maneira que
fosse ordenado.
Qualquer que seja a idade da pessoa, ou suas experiências prévias,
nós, descendentes e herdeiros espirituais de Avraham, herdamos
esta capacidade para a auto-criação, pois toda e cada
ação nossa é realizada pelo único motivo
de que D'us assim o deseja.