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  Descoberta  
  Por Elana Mizrahi  
 

Tenho dois fios de telefone que vão desde o aparelho na sala de estar até o computador na minha cozinha. O soquete do telefone na sala é mais próximo da cozinha e a única maneira que tenho de usar a Internet é conectar os dois fios.

Sabendo que estes fios longos atrairiam a curiosidade de meu filho com um ano de idade, prendi os dois com fita adesiva a uma boa altura na parede, fora do alcance de seus dedinhos curiosos. Todo dia ele pula tentando alcançar os fios, querendo puxá-los para baixo. Um belo dia ele conseguiu.

Crianças dessa idade adoram derrubar coisas. Meu filho passa metade do dia nas pontas dos pés tentando alcançar qualquer coisa que esteja acima dele. Utiliza todos os seus esforços apenas pela satisfação de ver o objeto cair ao chão.

O que me surpreende é que quando os fios caíram, ele perdeu o interesse. Não queria os fios, apenas o desafio. Bebês não olham para baixo, mas para cima. Quando conquista seu objetivo, está pronto para ir em frente.

Adoro a maneira pela qual bebês e crianças pequenas vivem plenamente cada instante, apenas no presente. Quando têm fome, precisam comer "agora". Quando estão cansados, têm de dormir "já". Quando se sentem sozinhos, querem ser ninados e ganhar um colo "agora mesmo". Perdoam e deixam passar com facilidade.

Admiro também a curiosidade e a maneira de se entusiasmarem com qualquer coisa. Tudo os fascina, tudo merece uma exploração. Precisam tocar, manusear, provar e ver, usando todos os seus órgãos sensoriais.

Meu marido diz que não há "passeios" com nosso filho. Não se pode segurá-lo sem que ele tente saltar dos seus braços, agarrando o objeto mais próximo. Abre bolsas e sacolas para investigar, assalta bolsos, retira óculos e chapéus, colocando tudo na boca ou atirando ao chão.
Tento correr atrás dele, colocando os brinquedos em ordem, para que eles os encontre e espalhe tudo novamente. Observo meu pequeno furacão com deleite (e exaustão) enquanto ele zanza para lá e para cá, e pergunto a mim mesma: "Para onde vai este senso de curiosidade? O que acontece ao entusiasmo pela vida e à beleza da descoberta?"

A vida torna-se rotina, tornando mais fácil aceitar até mesmo os maiores milagres como algo corriqueiro. Despertamos com a presunção de que o sol se ergue pela manhã e se põe ao entardecer, mas isso não é algo corriqueiro – é um milagre.

Às vezes eu tiro meu filho do carrinho para que ele possa caminhar comigo pela calçada. Faço isso quando não estou com pressa. Ele pára ao longo do caminho, a cada dois ou três passos, apanhando coisas, mostrando-me folhas e flores caídas. Se ele não as apontasse para mim, provavelmente eu nem sequer as notaria.

Há uma série de bênçãos recitadas toda manhã, e uma delas é: “Bendito és Tu, Hashem, Rei do universo, que dá visão ao cego.” Quando observo meu filho, compreendo melhor esta bênção. Ver suas emoções, sua empolgação, sua maneira de investigar, observar e crescer a cada momento abre meus olhos cegos pelo hábito, dando-me uma nova visão da vida.

   
       
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