A Torá nos
manda amar o guer. A palavra geralmente é traduzida como "estrangeiro",
mas segundo a tradição oral, com freqüência
significa tsedec, o 'prosélito justo'. Somos ordenados a demonstrar
sensibilidade especial ao convertido. Na amidá diária,
fazemos menção especial aos "justos convertidos",
rezando para que nosso quinhão seja dividido com eles Os convertidos
trazem méritos especiais ao nosso povo.
Em
uma responsa, Moses Maimônides foi indagado por um prosélito,
Ovadiah, se como convertido tinha permissão de dizer em suas
preces: "Nosso D'us e D'us de nossos pais", uma vez que ospais
dele não eram judeus. Maimônides respondeu afirmativamente.
Um judeu pode ser o filho físico de Avraham, porém o convertido
é um dos seus filhos espirituais. "Como você veio
para debaixo das asas da Divina Presença e confessou o Senhor",
continua Maimônides, "não há qualquer diferença
entre você e nós… Não considere sua origem
como inferior."
Se
o Judaísmo se importasse com o poder dos números,
poderia ter se tornado uma fé proselitista como o Cristianismo
ou Islamismo. Por uma questão de princípio e história,
escolheu de outra maneira. Concentrou-se na força espiritual,
não demográfica.
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O que é conversão?
As pessoas freqüentemente se referem ao caso de Ruth, a Moabita,
cuja história é narrada com tanta beleza no livro que
leva o seu nome. É da resposta de Ruth à sogra Naomi,
que são derivados os princípios básicos da conversão,
Ela disse: "Aonde tu fores, eu irei.
Onde ficares, eu ficarei. Teu povo será o meu povo, e teu D'us
o meu D'us."
A última frase – apenas quatro palavras em hebraico –
define a natureza dual da conversão até hoje. O primeiro
elemento é uma identificação com o povo judeu e
seu destino (Teu povo será o meu povo). O segundo é a
aceitação de um destino religioso, o pacto entre Israel
e D'us e suas ordens (Teu D'us será o meu D'us).
Ambos os elementos são necessários. Isso é o que
distingue a conversão ao Judaísmo da cidadania israelense.
Há cidadãos de Israel que são cristãos,
muçulmanos, drusos, beduínos, budistas ou brâmanes.
Você não precisa ser judeu para ser cidadão israelense,
assim como não precisa ser cristão para ser cidadão
britânico (para assegurar, há diferenças em relação
à Lei de Retorno de Israel, mas aqui isso não vem ao caso).
A cidadania nas democracias liberais é um conceito secular. A
conversão, ao contrário, é irredutivelmente religiosa.
É isso que Boaz quer dizer quando fala para Ruth: "Que você
seja ricamente recompensada pelo Eterno, o D'us de Israel, sob cujas
asas você buscou refúgio." Isso envolve a adoção
de um estilo de vida religioso. A conversão secular a uma identidade
religiosa é logicamente, impossível.
A
aceitação dos comandos, mitsvot, é constitutiva
da conversão. Sem ela, não se pode dizer que a
conversão ocorreu.
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A natureza dessa
dimensão religiosa pode ser resumida em duas palavras hebraicas:
cabalat hamitsvot, aceitação dos comandos. Isso pode ser
feito de maneira estrita ou leniente. A conversão é um
caso inusual no qual o rigor da lei é deixado à decisão
do tribunal. Porém a condição existe, embora inferida.
A conversão deve envolver a aceitação dos comandos.
Se um convertido, em virtude do seu comportamento, demonstra um genuíno
comprometimento com a prática e a Lei Judaica na época
da conversão, isso permanece, mesmo se depois ele a abandona.
Um convertido faltoso é um judeu em falta, não um gentio
em falta. Se, no entanto, não havia observância religiosa
na época, a conversão não tem valor. A aceitação
dos comandos é constitutiva da conversão. Sem ela, não
se pode dizer que a conversão ocorreu.
A conversão ao Judaísmo é um empreendimento sério,
porque o Judaísmo não é um mero credo. Envolve
um estilo de vida distinto e detalhado. Quando as pessoas me perguntam
por que a conversão ao Judaísmo demora tanto, peço-lhes
que considerem outros casos de mudança de identidade. Quanto
tempo demora para um britânico se tornar italiano, não
apenas legalmente, mas lingüística, cultural e socialmente?
Leva tempo.
A analogia é imperfeita, mas ajuda a explicar o aspecto mais
intrigante da conversão hoje: os padrões às vezes
diferentes entre as cortes rabínicas em Israel e na Grã-Bretanha.
Há algumas décadas, um Rabino Chefe israelense argumentou
que os tribunais rabínicos israelenses deveriam ser mais lenientes
que seus pares na Diáspora. Seus motivos eram técnicos,
mas faziam sentido. É mais fácil aprender italiano se
você estiver morando na Itália. Em Israel, muitos aspectos
da identidade judaica são reforçados pela cultura circundante.
Sua linguagem é a linguagem da Bíblia.
Sua paisagem está saturada pela História Judaica. O Shabat
é o dia de descanso. O calendário é judaico.
No caso da conversão,
os códigos concedem explicitamente a cada Bet Din o direito e
o dever de exercer a discrição tendo em vista a circunstância
local. Durante séculos, isso não criou problemas. O que
mudou foi a nossa mobilidade geográfica, bastante aumentada.
As pessoas se mudam. Um casal pode se conhecer num país, casar-se
num segundo e morar num terceiro.
A conversão é algo muito sério. Ninguém
pode tratá-la levianamente, muito menos um tribunal religioso.
Já houve tempos em que a identidade judaica foi uma questão
de vida ou morte – não apenas durante o Holocausto. O Talmud
afirma: 'É dito ao convertido em perspectiva: ‘Está
consciente de que os Filhos de Israel na era atual são perseguidos
e oprimidos, desprezados, molestados e dominados por aflições?'
Isso não é tanto para desencorajar o candidato, mas para
ser perfeitamente sincero sobre o que esta opção envolve.
A conversão também não é afetada por considerações
demográficas. Os judeus sempre foram um povo muito pequeno. No
Século Dezessete estima-se que houvesse apenas dois milhões
de judeus na terra. Hoje há 100 muçulmanos para cada judeu,
e quase 200 cristãos. Se o Judaísmo se importasse com
o poder dos números, poderia ter se tornado uma fé proselitista
como o Cristianismo ou Islamismo. Por uma questão de princípio
e história, escolheu de outra maneira.
Concentrou-se na força espiritual, não demográfica.
O Judaísmo não busca converter. Não porque seja
exclusivo, mas pelo motivo oposto; não acredita que é
preciso ser judeu para ter uma porção no céu. As
pessoas muitas vezes me perguntam como consigo ser tolerante com outras
crenças, enquanto ao mesmo tempo insisto em padrões haláchicos
para a conversão. Não apenas não há contradição
entre estas opiniões, como elas são dois lados da mesma
moeda. O Judaísmo é tolerante com outras fés exatamente
porque acredita, nas palavras dos sábios, que 'os gentios justos
têm uma porção no Mundo Vindouro'. Não há
necessidade de conversão. Portanto, isso deve ser feito apenas
se a pessoa entende sinceramente, de maneira séria e total, a
natureza do compromisso envolvido.
Não
há atalhos para as bênçãos da fé,
assim como não os há para a saúde física.
Sem exercício, sono e uma dieta balanceada, o corpo perece.
Sem o Shabat e as Festas, cashrut e leis da família,
o espírito judeu atrofia e termina por morrer.
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O Judaísmo
é uma fé exigente. Há beleza e força. Muitos
não-judeus já me disseram o quanto admiram a comunidade
pelo seu amor à família, sua dedicação à
caridade e justiça, sua paixão pela educação
e desenvolvimento do intelecto. Posso entender por que alguém
desejaria fazer parte deste estilo de vida.
O que é difícil de entender é por que alguém
desejaria adquirir um carro mas nunca usá-lo; um terno para jamais
vesti-lo; uma casa para não morar nela; uma religião para
não praticá-la. Não há atalhos para as bênçãos
da fé, assim como não os há para a saúde
física. Sem exercício, sono e uma dieta balanceada, o
corpo perece. Sem o Shabat e as Festas, cashrut e leis da família,
o espírito judeu atrofia e termina por morrer. Um médico,
quando atende um paciente que está com a saúde abalada,
seria irresponsável em não dizer-lhe que precisa mudar
seu estilo de vida. Da mesma forma, seria irresponsável um rabino
que não dissesse o mesmo a um convertido em potencial.
Para um não-judeu que deseja se converter, eu diria: 'Nós
o recebemos de braços abertos. Porém você deve entender
o que isso envolve. Significa manter as leis que constituem nosso pacto
com D'us. Significa uma mudança de identidade e estilo de vida.
Ser judeu não é apenas um privilégio, mas também,
muito mais, uma responsabilidade.