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As pessoas freqüentemente
me perguntam: “É verdade que você escreveu mais de
cinqüenta livros? Como encontrou tempo, com suas múltiplas
atividades, para escrever tantos livros?”
Digo a elas que eu na verdade não escrevi cinqüenta livros,
escrevi um livro, em cinqüenta maneiras diferentes.
Quase tudo que escrevo tem relação de uma maneira ou outra
com o tema da auto-estima. Defino auto-estima como a verdadeira e acurada
percepção dos próprios talentos, capacidades e limitações.
A importância disso deveria ser óbvia. Uma pessoa pode ajustar-se
perfeitamente à realidade apenas até o grau em que a própria
percepção da realidade é correta. Uma percepção
equivocada da realidade é uma ilusão, e a pessoa não
pode ajustar-se corretamente à realidade. Por exemplo, se a pessoa
não tem um centavo seu mas tem a ilusão de que é
um milionário, compra carros de luxo, roupas e jóias, vai
se meter em sérios problemas.
Sou uma parte importante da minha realidade. De fato, a parte mais importante.
Se eu me iludo a respeito de mim mesmo, não há como levar
uma vida produtiva e feliz. Se sou inteligente mas penso que sou bobo,
se sou agradável mas me acho indesejável, se sou simpático
mas penso que sou comum, então estou iludido, e minha idéia
distorcida sobre eu mesmo impede que me ajuste bem à vida. Na verdade,
creio que o esmagador número de problemas psicológicos que
não são de origem fisiológica invariavelmente se
devem à baixa auto-estima, i.e., a uma idéia distorcida
sobre si mesmo, na qual a pessoa se subestima.
Os sentimentos de inadequação e de não ser querido
são muito dolorosos, e o inconsciente exercita uma série
de manobras para proteger a pessoa desse sofrimento. Essas manobras podem
resultar num comportamento abaixo de um nível bom, e numa variedade
de sintomas. Descrevi alguns desses sintomas em A Vida é Muito
Curta.
Tenho empatia com o problema da baixa auto-estima porque fui uma vítima
desse problema, porém não sabia o que era isso, assim como
qualquer pessoa que se ilude não sabe que a própria percepção
da realidade está incorreta. Em retrospecto, fiz muitas coisas
para proteger minha frágil auto-estima, coisas que foram custosas
para mim e para minha família.
Fiquei consciente de que tinha um problema com a auto-estima pela primeira
vez aos 38 anos. Durante três anos, tinha sido diretor de um enorme
hospital psiquiátrico com um pronto socorro sempre lotado. Se a
enfermeira não conseguia localizar um médico de plantão,
eu era chamado. Noite sim, noite não, eu estava de plantão
no pronto socorro. Numa noite boa, era acordado cinco vezes; numa noite
má, dez ou mais vezes.
Minhas férias estavam chegando e eu estava desejoso de me afastar
de uma situação frenética. Procurei um local para
as férias que me permitisse não fazer nada além de
vegetar. Não queria passeios ou atividades. Finalmente me decidi
por Hot Springs, Arkansas, que me prometia um descanso total.
A atividade em Hot Springs é uma loucura, que começa em
meados de fevereiro. Cheguei lá em dezembro, quando não
havia nada acontecendo na cidade. A maioria das lojas estava fechada.
Eram as férias dos meus sonhos.
Sofrendo de dor nas costas há muitos anos, eu pensei em aproveitar
os banhos de água mineral, que se dizia produzir resultados milagrosos.
Fui levado a um cubículo, e um atendente deu-me dois copos de água
mineral naturalmente aquecida nas profundezas do solo. Fui então
colocado numa banheira dessas águas mágicas, e a hidromassagem
foi ligada.
Senti-me no paraíso! Ninguém poderia me alcançar
– nenhum paciente, enfermeira, médico, membro da família,
assistente social, oficial de liberdade condicional – eu estava
além do alcance deles. E nessa situação paradisíaca,
banhando-me na própria água quente da natureza... O que
poderia desejar mais?
Após cerca de cinco minutos, levantei-me e disse ao atendente:
“Foi maravilhoso. Exatamente o que eu queria.”
O atendente disse; “Aonde está indo, senhor?” Respondi:
“Aonde quer que seja a próxima parte do tratamento.”
Ele disse: “Primeiro deve permanecer na banheira de hidromassagem
por 25 minutos.”
Voltei ao banho, e após cinco minutos, eu disse: “Olhe, preciso
sair daqui.” O atendente disse: “Como quiser, mas não
pode continuar com o restante do tratamento.”
Eu não queria perder o tratamento, portanto voltei à banheira
para mais 15 minutos de purgatório. Os ponteiros do relógio
na parede pareciam não estar se movendo.
Mais tarde naquele dia, percebi que tivera um despertar um tanto rude.
Eu tinha levado três anos de estresse constante sem dificuldade,
mas não conseguira suportar dez minutos de paraíso! Algo
estava errado.
Quando voltei para casa, consultei um psicólogo. Ele apontou que
se você perguntasse às pessoas como elas relaxavam, uma diria:
“Leio um bom livro” ou “Escuto música”,
ou ainda “Jogo golfe.” Cada um fala sobre aquilo que acha
relaxante. O que a maioria das pessoas descreve como relaxamento é
na verdade “afastamento, distração”. Você
se distrai com o livro, algum trabalho de agulha ou com a bola de golfe.
As distrações são válidas, porém na
verdade não passam de técnicas escapistas. Trabalho e distração
são técnicas bastante sadias. Infelizmente, algumas pessoas
escapam para o álcool, comida, drogas ou jogo.
No cubículo em Hot Springs, eu não tinha nada para me distrair:
nada para ler, nada para olhar, nada para ouvir, ninguém com quem
conversar, nada para fazer. Na ausência de todas as distrações,
fui deixado em contato imediato comigo mesmo. Eu não consegui ficar
ali muito tempo porque não gostava da pessoa que estava ali comigo!
Por que as pessoas estão usando uma variedade de manobras escapistas?
Do que é que estão procurando escapar? Com freqüência
é delas mesmas. Se, como foi o meu caso, elas têm um auto-conceito
errôneo, não conseguem ficar consigo mesmas.
As pessoas presumem que a baixa auto-estima é causada por negligência
paterna, abuso, comparação com outros irmãos, doenças
ou falhas. Nenhuma dessas se aplica a mim. Tive pais amorosos, uma babá
que me considerava um presente de D’us ao mundo. Fui um prodígio
no xadrez, excelente aluno na escola, o que me permitiu terminar o ensino
médio aos 16 anos. Simplesmente não havia um motivo lógico
para eu me sentir inferior, porém sofria de baixa auto-estima e
não fui consciente disso até o incidente em Hot Springs.
A causa ou as causas da baixa auto-estima, os sintomas que resultam dela
e o que pode ser feito para superá-la são discutidos em
meus livros Let Us Make Man, Life’s Too Short, Angels Don’t
Leave Footprints e Ten Steps to Being Your Best.
Você poderia dizer: “Conheço-me muito bem, e sei que
não sou desagradável, tedioso, feio ou impessoal. Estes
são fatos, e não é a minha imaginação.”
Foi dessa maneira que me senti mesmo após ser psiquiatra durante
muitos anos. Se você achar que tem qualquer uma das características
que discuti em Life’s Too Short, você está sofrendo
desnecessariamente de baixa auto-estima.
Faça tudo que puder para se livrar disso.
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