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  Amor sem curto circuito
  Por Yanki Tauber – Baseado nos ensinamentos do Rebe
 

Curto/cir/cuito (eletr.): uma condição anormal, geralmente involuntária, de baixa resistência entre dois pontos de potencial diferente num circuito, geralmente resultando num fluxo de excesso de corrente.

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Nós amamos demais?

Aparentemente sim. Muitos casamentos falham pela carência de amor; um número igual é sufocado pelo excesso do mesmo.

Tão desejosos estamos por uma conexão, tão famintos por uma comunhão com outro ser humano, que nos esquecemos que para o amor durar deve ser complementado com uma medida igual de restrição. Estamos tão ansiosos para dar de nós mesmos ao ente querido – seja o cônjuge, um filho, ou um amigo – que muitas vezes damos sem consideração pelas necessidades e desejos do recipiente de nosso amor.

Quando a paixão é mitigada com um grau de inibição, quando a intimidade é temperada com um tantinho de recato, o amor floresce. Porém quando todos os limites são ultrapassados, o amor se extingue.

Um relacionamento amoroso pode ser comparado a um circuito elétrico. Num circuito, a atração entre as cargas negativa e positiva cria uma corrente de energia juntando as duas; a corrente encontra um certo grau de resistência à medida que passa através do circuito, delimitando sua intensidade. A tendência natural desta atração é buscar a rota mais curta possível, carregando a corrente mais alta possível, para juntar as cargas atraídas. Porém se esta tendência ceder – se a "resistência" cair – o circuito irá "encurtar"; a corrente subirá, causando a destruição do circuito e a interrupção da própria conexão que a corrente procura criar.

Na leitura da Torá que relata a trágica morte dos dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, vemos que após muitos meses de trabalho e antecipação, o Santuário finalmente foi montado no acampamento israelita e a Divina Presença foi repousar dentro dele. Em meio às festivas cerimônias da dedicação, "Nadav e Avihu cada qual pegou seu incensório, pôs fogo nele, e colocou incenso, e ofereceram o estranho fogo a D’us, o que Ele lhes ordenou para não fazerem. E veio um fogo de D’us, e os consumiu, e eles morreram perante D’us" (Vayicrá 10:1-2). Em seus comentários sobre a Torá, o grande sábio e místico Rabi Chaim ibn Atar explica que Nadav e Avihu morreram de uma overdose de amor.

Uma vez por ano, em Yom Kipur, o Sumo Sacerdote entrava na câmara mais recôndita do Santuário, o Santo dos Santos, para oferecer ketoret a D’us. Esta ocasião – na qual o ser humano mais espiritual realizou o serviço mais sagrado no local mais sagrado no mundo no dia mais sagrado do ano – era o ponto da maior intimidade com D’us atingido pelo homem. Nadav e Avihu eram sacerdotes, mas não Sumos Sacerdotes (embora eles teriam sido, se tivessem vivido para suceder seu pai naquele ofício); era uma ocasião muito especial, marcada por oferendas especiais a D’us, mas não era Yom Kipur. Porém a sede deles pela intimidade com D’us não podia ser satisfeita com nada menos que o máximo. Ele queriam se aproximar mais ainda, embora "Ele lhes ordenou que não."

A vida humana é um caso de amor entre a alma e seu D’us. Nossa paixão pela vida é uma ânsia pela "centelha de Divindade" implícita em todas as criações de D’us; em última análise, tudo que fazemos é motivado pelo desejo de nossa alma de aproximar-se de nossa Fonte. Tão poderoso é este desejo, que pode nos levar a fazer coisas que são contrárias à vontade de D’us – coisas que violam os laços do nosso amor e o destroem.

Para nosso casamento viver e prosperar, devemos alimentar nossa paixão pela vida; mas devemos também saber quando nos segurar. Como ocorre em todo relacionamento amoroso, devemos aprender a amar na maneira que nosso Amado precisa e deseja ser amado.

       
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