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A
discórdia é abominável e a paz grandiosa.
“Mamãe, eu acho que nós quebramos alguns vidros...”.
Era hora de intervir. Eu tinha propositalmente desconsiderado os risos
e o fato de terem levado as almofadas dos quartos para a sala de estar.
Eu fechei meus ouvidos aos ruídos que os travesseiros e as roupas
de cama faziam quando eram arremessados para a sala. Ignorei o barulho
das pancadas que os pequenos meninos faziam quando pulavam sobre pilhas
de cobertores e travesseiros empilhados no alto.
Eles sabiam que eu não aprovaria a bagunça, mas eles estavam
se divertindo tanto! Contra o meu melhor julgamento, eu gostei de ouvir
meus meninos planejando e esquematizando, querendo cumprir sua missão
secreta sob o radar dos meus olhos atentos. Isto era claramente um esforço
em conjunto. Eles tinham formado seu próprio comitê de engenharia
e construíram a melhor pista de aterrissagem que nossa mobília
tinha a oferecer. Mas, agora, havia vidro. Alguém tinha tido a
brilhante ideia de ver o que aconteceria se um porta-retratos de vidro
fosse colocado em cima de uma pilha de almofadas. Ele seria catapultado?
De fato. Havia vidro quebrado por todo o carpete.
Era hora de acabar com a bagunça. Os meninos foram ordenados a
colocarem seus sapatos e retornarem cada um ao seu local apropriado. O
aspirador de pó foi ligado e os estalos dos cacos sendo aspirados
através do tubo colocaram um fim definitivo na farra.
Você pode estar se perguntando por que eu não me pronunciei
antes. Eles estavam literalmente virando a casa de cabeça para
baixo e estragando, mais do que o habitual, alguns itens da casa. Por
que esperei tanto?
Eu copiei o exemplo do Pai Perfeito, D’us. A Torá nos mostra
na Parashá desta semana que paz é tão equivalente
a uma sociedade funcional que D’us está disposto a fazer
vista grossa para a motivação profana de seus filhos se
eles estiverem se esforçando para alcançarem seus objetivos
de forma harmoniosa.
A Parashá Noach relata duas histórias sobre ações
humanas que mereceram a punição Divina. Primeiro, e mais
importante, é o dilúvio que destruiu toda a humanidade exceto
Noach e sua família. Os Sábios nos dizem que a geração
de Noach cometeu todos os tipos de pecados idólatras. Sua destruição
final, entretanto, veio como resultado de roubo: o desrespeito definitivo
do homem por seu companheiro.
A segunda história é um pouco mais sutil. Conta-se sobre
um grupo que tinha um mesmo idioma. Eles se reuniram para construir uma
cidade com uma torre que atingiria os Céus. De acordo com os Sábios,
esta torre permitiria que eles guerreassem com D’us. Nós
lemos sobre a construção de tijolos e argila e o que parece
ser a conclusão da torre até que D’us desce e evita
que eles terminassem a cidade dispersando-os por toda a terra e misturando
seus idiomas.
Rashi – o principal comentarista da Torá – faz uma
brilhante pergunta: por que a geração de Noach, cujos maiores
pecados não eram explicitamente contra D’us, foi completamente
destruída, enquanto esta outra geração, cujo objetivo
final era lutar contra D’us, foi simplesmente dispersada? Em sua
resposta, Rashi nos ensina uma importante lição sobre D’us
e nosso papel como membros da raça humana:
A Geração do Dilúvio era de ladrões e havia
hostilidade entre eles, e, portanto, eles foram destruídos. Mas
eles, os construtores, se comportaram com amor e amizade entre eles, como
está escrito (versículo 1): “Uma linguagem e palavras
uniformes”. Assim, você aprende que a discórdia é
abominável e que a paz é grandiosa.
Nós vemos a imagem de D’us tendo orgulho de seus filhos,
mesmo quando eles estão determinados a pegá-Lo! Mas, depois
de desfrutar alguns momentos considerando aquele amor de uns pelos outros
daquela geração, Ele precisou colocar um fim definitivo
em suas travessuras.
Como mãe, eu tenho a responsabilidade de ensinar aos meus filhos
a fazerem a coisa certa. Mas, a coisa certa pode significar, pelo menos
por um breve momento, se unirem e cooperarem. Quando este amor fraternal
não for pelo bem maior, eu realmente preciso colocar um fim a ele.
Enquanto isso, no entanto, por alguns breves momentos, eu posso kvell
(uma expressão em Yiddish que significa orgulhar-se) de como lindamente
eles brincaram juntos e o respeito mútuo que meus filhos estão
desenvolvendo uns pelos outros.
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