índice
  Causando Problemas Juntos
 
Por Stacey Goldman, traduzido por Maurício Klajnberg
 

A discórdia é abominável e a paz grandiosa.

“Mamãe, eu acho que nós quebramos alguns vidros...”.

Era hora de intervir. Eu tinha propositalmente desconsiderado os risos e o fato de terem levado as almofadas dos quartos para a sala de estar. Eu fechei meus ouvidos aos ruídos que os travesseiros e as roupas de cama faziam quando eram arremessados para a sala. Ignorei o barulho das pancadas que os pequenos meninos faziam quando pulavam sobre pilhas de cobertores e travesseiros empilhados no alto.

Eles sabiam que eu não aprovaria a bagunça, mas eles estavam se divertindo tanto! Contra o meu melhor julgamento, eu gostei de ouvir meus meninos planejando e esquematizando, querendo cumprir sua missão secreta sob o radar dos meus olhos atentos. Isto era claramente um esforço em conjunto. Eles tinham formado seu próprio comitê de engenharia e construíram a melhor pista de aterrissagem que nossa mobília tinha a oferecer. Mas, agora, havia vidro. Alguém tinha tido a brilhante ideia de ver o que aconteceria se um porta-retratos de vidro fosse colocado em cima de uma pilha de almofadas. Ele seria catapultado? De fato. Havia vidro quebrado por todo o carpete.

Era hora de acabar com a bagunça. Os meninos foram ordenados a colocarem seus sapatos e retornarem cada um ao seu local apropriado. O aspirador de pó foi ligado e os estalos dos cacos sendo aspirados através do tubo colocaram um fim definitivo na farra.

Você pode estar se perguntando por que eu não me pronunciei antes. Eles estavam literalmente virando a casa de cabeça para baixo e estragando, mais do que o habitual, alguns itens da casa. Por que esperei tanto?

Eu copiei o exemplo do Pai Perfeito, D’us. A Torá nos mostra na Parashá desta semana que paz é tão equivalente a uma sociedade funcional que D’us está disposto a fazer vista grossa para a motivação profana de seus filhos se eles estiverem se esforçando para alcançarem seus objetivos de forma harmoniosa.

A Parashá Noach relata duas histórias sobre ações humanas que mereceram a punição Divina. Primeiro, e mais importante, é o dilúvio que destruiu toda a humanidade exceto Noach e sua família. Os Sábios nos dizem que a geração de Noach cometeu todos os tipos de pecados idólatras. Sua destruição final, entretanto, veio como resultado de roubo: o desrespeito definitivo do homem por seu companheiro.

A segunda história é um pouco mais sutil. Conta-se sobre um grupo que tinha um mesmo idioma. Eles se reuniram para construir uma cidade com uma torre que atingiria os Céus. De acordo com os Sábios, esta torre permitiria que eles guerreassem com D’us. Nós lemos sobre a construção de tijolos e argila e o que parece ser a conclusão da torre até que D’us desce e evita que eles terminassem a cidade dispersando-os por toda a terra e misturando seus idiomas.

Rashi – o principal comentarista da Torá – faz uma brilhante pergunta: por que a geração de Noach, cujos maiores pecados não eram explicitamente contra D’us, foi completamente destruída, enquanto esta outra geração, cujo objetivo final era lutar contra D’us, foi simplesmente dispersada? Em sua resposta, Rashi nos ensina uma importante lição sobre D’us e nosso papel como membros da raça humana:

A Geração do Dilúvio era de ladrões e havia hostilidade entre eles, e, portanto, eles foram destruídos. Mas eles, os construtores, se comportaram com amor e amizade entre eles, como está escrito (versículo 1): “Uma linguagem e palavras uniformes”. Assim, você aprende que a discórdia é abominável e que a paz é grandiosa.

Nós vemos a imagem de D’us tendo orgulho de seus filhos, mesmo quando eles estão determinados a pegá-Lo! Mas, depois de desfrutar alguns momentos considerando aquele amor de uns pelos outros daquela geração, Ele precisou colocar um fim definitivo em suas travessuras.

Como mãe, eu tenho a responsabilidade de ensinar aos meus filhos a fazerem a coisa certa. Mas, a coisa certa pode significar, pelo menos por um breve momento, se unirem e cooperarem. Quando este amor fraternal não for pelo bem maior, eu realmente preciso colocar um fim a ele. Enquanto isso, no entanto, por alguns breves momentos, eu posso kvell (uma expressão em Yiddish que significa orgulhar-se) de como lindamente eles brincaram juntos e o respeito mútuo que meus filhos estão desenvolvendo uns pelos outros.

     
top