por Yehudit Cohen
  O Brotar eterno da Alma
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"Quem tem tempo?" disse a mim mesma, ao colocar a caixa com "Amarílis Flor de Maçã - A Melhor da Holanda" sobre o balcãozinho entre o fogão e a janela. O simples fato de ler as instruções declarando que eu teria de regar o bulbo envasado de vez em quando advertiu-me que este não era um projeto para minha vida já sobrecarregada.


De algum modo, sem água ou luz, sem amor ou cuidados, o bulbo tinha achado uma maneira de crescer, tendo até conseguido sair da caixa fechada. Sem minha ajuda.

Tudo bem, eu tinha admirado a planta florida na casa de um amigo. E fiquei agradavelmente surpresa quando um segundo amigo presenteou-me com a caixa verde, rosa e branca contendo o bulbo. Mas o que entendia eu de bulbos, quando teria tempo para apreciá-la, e como encontraria o "local perfeito" para a planta, no caos de minha vida atarefada? Isso simplesmente teria de esperar, concluí, não exatamente certa sobre quanto tempo os bulbos podem esperar antes de se auto-destruir.

E então, foi somente ontem, enquanto apanhava um livro de receitas no pequeno balcão entre meu fogão e a janela, que eu a notei.

O talo da amarílis se projetava uns bons quinze centímetros para fora da caixa!

De algum modo, sem água ou luz, sem amor ou cuidados, o bulbo tinha achado uma maneira de crescer, tendo até conseguido sair da caixa fechada. Sem minha ajuda. Sem estímulo nenhum de minha parte. Sem que eu soubesse!

Portanto aqui estou eu, com a Amarílis Flor de Maçã (ainda na caixa) agora num lugar de honra em cima do balcão, contemplando sua tenacidade e pensando que de alguma forma esta planta é muito similar à alma judaica.

Aqui está a alma, depositada num "recipiente decorativo". Nossas almas são investidas em corpos, corpos que às vezes nós adornamos e adoramos, muitas vezes nos esquecendo que eles não são o princípio e o fim de nossa existência.

Porém nossas almas são "cultivadas a partir de um estoque selecionado"; somos descendentes de Avraham e Sarah, Yitschac e Rivca, Leah e Rachel. E se nos privarmos involuntariamente ou se negarmos de propósito a luz e água da Torá e mitsvot, nossas almas terminarão por abrir caminho até a sujeira. E elas esticarão a cabeça para fora do recipiente grosseiro na qual foram plantadas e ocultadas, procurando a luz, exigindo água.

Todo judeu é tão repleto de mitsvot quanto uma romã é repleta de sementes, declara o Talmud. Mesmo se aquela alma judaica não for regada ou não receber luz, irá perseverar. Abrirá caminho rumo à sua Fonte. É incansável.


Nossas almas são investidas em corpos, corpos que às vezes nós adornamos e adoramos, muitas vezes nos esquecendo que eles não são o princípio e o fim de nossa existência.

"Mesmo se ele peca, é um judeu" - ensinam nossos Sábios. Mesmo um judeu que arriscadamente deixa sua alma num balcão qualquer, consciente ou inconscientemente não se preocupando se aquela alma irá crescer ou florescer. Ele é um judeu, e sua alma-ramo terminará por aparecer. Naquela ocasião, conforme o broto e as folhas se tornam mais visíveis, a Amarílis gradualmente precisa de mais água. Ele deve tirar sua alma da caixa e dar-lhe Torá, as "águas vivas".

Depois disso, o talo crescerá rapidamente, as flores começam a se desenvolver. Assim que a alma receba a água e luz que necessita, crescerá rapidamente e sua beleza inata se desenvolverá para que todos a vejam, apreciem e admirem.

Todos os judeus têm um quinhão no Mundo Vindouro, como está escrito: '"Teu povo é todo de justos... eles são os ramos de Minha planta...'" declara o Talmud. Todo judeu tem uma centelha de Santidade, literalmente um pedaço de D'us, que foi plantado dentro dele pelo Jardineiro Primordial. E pelo simples fato de que sua alma existe, ele terá a suprema recompensa da ressurreição dos mortos. Naquela ocasião, na Era Messiânica, nossas almas envasadas serão adequadamente colocadas num "lugar abrigado com luz direta" - a suprema Luz Divina que tem se ocultado desde os seis dias da criação.

Que isso ocorra imediatamente.

   
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