por Rabino Chefe da Inglaterra, Professor Jonathan Sacks  
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  As Sete Bênçãos  
 

Daqui a algumas semanas, estaremos celebrando o casamento de nossa filha. É difícil transmitir a profundidade da emoção num casamento judaico. É mais que uma cerimônia santificando o compromisso dos noivos, porque indivíduos são mais que indivíduos. Somos quem somos por causa de nossos pais e avós, e do drama ao qual eles e nós pertencemos. Um casamento no Judaísmo é um novo capítulo na história do povo judeu.

As sheva berachot, ou "sete bênçãos", pronunciadas sobre os noivos, remonta há dois mil anos. Nelas nos referimos ao primeiro casal, Adão e Eva, casados pelo próprio D'us tendo o céu como canópia nupcial. Relembramos uma frase, extraída de Yeshayáhu e do Livro de Tehilim, sobre "uma mulher estéril" que, contrariando as expectativas, teve a alegria de ter filhos. Isto, para nós, é o povo judeu como um todo, que tanto sofreu e teve dúvidas sobre a própria sobrevivência, mas agora vê neste casal uma esperança para o futuro.

Citamos a gloriosa profecia de Yirmiyáhu que, ao ver Jerusalém desolada e destruída, profetizou que na cidade "Serão ouvidos mais uma vez os sons de júbilo e alegria, e as vozes dos noivos". É como se todas as prévias gerações de judeus, dispersas pelo espaço e tempo, estivessem presentes para dar suas bênçãos ao casal e para testemunhar o milagre da fé mais antiga do Ocidente, tornando-se jovem outra vez através do amor mútuo de duas pessoas.

Os casamentos judaicos geralmente são exuberantes, ruidosos, cheios de energia e entusiasmo. Os costumes antigos, que há uma ou duas gerações tinham praticamente desaparecido, agora estão voltando. Muitas noivas atualmente adotam a mística cerimônia de circular o noivo sete vezes. Os contratos de casamento se tornaram altamente decorativos, como costumavam ser na Idade Média (a ketubá, ou contrato de casamento, remonta à era pré-cristã e se constitui numa das primeiras declarações dos direitos femininos de que se tem notícia). Num casamento judaico, pode-se ver a verdadeira natureza da espiritualidade judaica – séria demais para ser totalmente séria, consciente demais das bênçãos Divinas para fazer outra coisa que não seja rejubilar-se. O Judaísmo é o convite de D'us para celebrarmos a vida.

Como é desolador que o casamento pareça ter perdido seu poder na sociedade como um todo. Uma cerimônia de casamento é mais que uma formalidade e um pedaço de papel. Os profetas viam o casamento como a metáfora mais forte para o relacionamento entre D'us e nós – porque envolve comprometimento, um voto mútuo de franqueza e confiança, uma promessa que não se abandonará o outro em tempos difíceis. Deste pacto de lealdade e amor, novas vidas vêm ao mundo.

O casamento não é somente viver juntos, uma parceria temporária com fins mutuamente benéficos. Que uma luz nos ajude e desperte se isso é tudo que conseguimos ver nele. É o ponto no qual o Eu do ser encontra o Tu do outro ser, transformando-nos em algo maior, mais espaçoso, mais generoso e carinhoso do que jamais poderíamos ser sozinhos. No casamento, na melhor das hipóteses, você vê a humanidade naquilo que tem de melhor, e num lar amoroso você quase consegue tocar a presença Divina.

Yirmiyáhu disse certa vez: "Lembro-me da devoção de tua juventude, como uma noiva tu me amavas e me seguias pelo deserto, através de uma terra inculta."

Tomar a mão de alguém e começarem juntos uma jornada rumo a um país desconhecido chamado futuro: isso é casamento, o amor santificado pela mútua confiança do momento presente…para sempre!

   
       
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