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Os gritadores
A yeshivá decidiu formar um time de remadores. Infelizmente, eles
perdiam todas as competições. Praticavam durante horas diariamente,
mas jamais conseguiram chegar numa posição melhor que a
última.
O Rosh Yeshivá (Diretor) finalmente decidiu enviar Yankel para
espionar a equipe de Harvard. Yankel então se esgueirou até
Cambridge e escondeu-se nas moitas do Rio Charles, de onde assistiu cuidadosamente
a equipe de Harvard treinando.
Yankel voltou à yeshivá e anunciou: “Entendi qual
é o segredo deles.”
“Qual? Diga-nos,” todos quiseram saber.
“Devemos ter oito caras remando e só um gritando.”
A Briga
Os rabinos no Talmud se concentram numa aparente inconsistência
gramatical na porção de Vayetsê.
Quando Yaacov viaja de Beer Sheva a Haran, parando no caminho para descansar
durante a noite, a Torá nos conta: “Ele pegou as pedras do
local, arrumou-as em volta da cabeça e deitou-se para descansar.”
Porém ao acordar pela manhã, lemos uma história um
pouco diferente: “Yaacov acordou cedo pela manhã, pegou a
pedra que tinha colocado ao redor da cabeça e arrumou-a como um
pilar.” Primeiro lemos sobre “pedras”, no plural; depois
lemos “pedra” no singular. O que ocorreu, afinal? Yaacov usou
uma única pedra ou várias delas?
Uma adorável tradição talmúdica, repleta de
simbolismo, responde assim à pergunta: Yaacov na verdade pegou
várias pedras. As pedras começaram a brigar, cada qual dizendo:
“Sobre mim este justo descansa a cabeça.” Portanto
D'us combinou-as todas numa só pedra, e a briga cessou. Então,
quando Yaacov acordou, lemos: “Ele tomou a pedra” no singular,
pois todas as pedras tinham se tornado uma.
Qual o simbolismo por trás dessa imagem? Qual o significado das
pedras brigando entre si e depois atingindo um estado de paz juntando-se
em uma só?
Mais uma pergunta: Como a fusão de diversas pedras numa só
entidade satisfaz sua reclamação “Sobre mim este justo
descansa a cabeça?” Mesmo depois que as pedras se juntaram
numa única pedra grande, a cabeça de Yaacov ainda descansa
sobre uma parte da pedra (Seu colchão é feito de uma peça,
porém sua cabeça repousa apenas num pedaço específico
de seu colchão). Então por que as outras partes da pedra
(o “colchão” de Yaacov) ainda lamentam que a cabeça
de Yaacov não estava sobre elas?
Somos Um
O Rebe forneceu a seguinte explicação:
Quando você se sente um com seu próximo, não se preocupa
se a cabeça do justo repousa sobre ele. Quando as pedras são
separadas umas das outras, a pergunta se torna: “Quem recebe a cabeça?”
“Por que você recebe a cabeça, e eu não?”
Mas quando elas se tornam uma, não se importam com quem recebe
a cabeça, porque se sentem como uma só.
O episódio das pedras, então, reflete uma profunda verdade
espiritual sobre os relacionamentos humanos. Muito conflito – em
famílias, comunidades, sinagogas, organizações e
movimentos – brotam do temor de todos de que outro termine com a
“cabeça”, e você será “jogado para
fora”. Porém podemos ver uns aos outros em duas maneiras
distintas: como “pedras diversas” e como “uma única
pedra”. Ambas são perspectivas válidas, interpretações
justas da realidade. A primeira é superficial; a segunda exige
reflexão e sensibilidade mais profundas. Superficialmente, somos
na verdade separados. Você é você: eu sou eu. Somos
estranhos. Eu quero a cabeça, você quer a cabeça.
Então brigamos.
Num nível mais profundo, porém, somos um. O universo, a
humanidade, o povo judeu – constituem um só organismo. Nesse
nível, somos realmente parte de uma essência. Então,
não me importo se você recebe a cabeça, porque você
e eu somos um só.
É difícil para muitas pessoas criarem espaço para
outra, e deixá-las brilhar. Temos medo de que elas “consigam
a cabeça” e terminemos com a perna. Alguns passam anos assegurando
que ninguém exceto eles consigam a cabeça.
O que é necessário é uma ampliacão da consciência,
uma purificação da percepção, um olhar sobre
o interrelacionamento místico de todos nós. Então
eu não apenas permitirei, mas celebrarei, seu surgimento em total
esplendor. O seu sucesso não atrapalhará o meu, porque somos
um.
“Pedras” diferentes podem precisar ter posições
diferentes, porém aqui não há espaço para
abuso, manipulação, punhalada nas costas, grosseria e exploração,
porque somos um.
Yaacov, o Patriarca de todo Israel, quem encerrava dentro de si as almas
de todos os seus filhos, inspirou essa unidade dentro das “pedras”
ao seu redor. Inicialmente, as pedras agiam num nível superficial
de consciência, brigando para saber quem estaria debaixo da cabeça
de Yaacov. Porém Yaacov inspirou nelas uma consciência mais
profunda, permitindo que naquela noite elas se vissem como uma única
pedra, mesmo quando estavam em posições diferentes.
Em nossa noite das noites, precisamos de Yaacov, que sabe como inspirar
as pedras ao redor com esse estado de conscientização.
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