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Entre os chukim, mandamentos
que não possuem explicação racional, o mais intrigante
é o da Vaca Vermelha. Nem mesmo o Rei Salomão, o mais sábio
dos homens, podia captar o raciocínio por trás do mandamento
da Vaca Vermelha, que purificava os impuros ao mesmo tempo que tornava
os puros impuros.
Até os assuntos que estão ao alcance do intelecto humano
são, de fato, supra-racionais. Afinal, a Torá é a
sabedoria Divina. Do mesmo modo que nenhuma criatura pode compreender
o Criador, é impossível para qualquer ser criado entender
Sua sabedoria.
O conhecimento deste assunto é básico para o serviço
espiritual de Tora e mitsvot. O cumprimento de todas as mitsvot, tanto
racionais quanto supra-racionais, precisa ser motivado por Cabalat ol,
aceitar sobre si o jugo dos Céus e cumprir as mitsvot porque D’us
assim decretou. Isto esta refletido no texto da bênção
redigida para todas as mitsvot – “...e Ele nos ordenou”.
O mesmo é verdadeiro quanto ao estudo de Tora.
Por isso a explicação lógica para o Mandameno da
Vaca Vermelha permaneceu oculta até mesmo do Rei Salomão;
era preciso que ao menos um Mandamento da Torá permanecesse no
estado de chuká, indicando assim que o restante da Tora e mitsvot
eram semelhantes na essência – também eram chukim.
Mais ainda, se todos os assuntos de Tora tivessem descido para um nível
racional, seria impossível cumprir mitsvot com a sensação
de assim estar agindo simplesmente porque expressam a vontade do Criador.
E visto que realizar as mitsvot se limitaria a compreensão racional,
seria inviável para um iehudi alcançar o nível de
messirut nefesh, auto-sacrifício total por D’us, um grau
que desafia e transcende as limitações do intelecto.
O trecho denominado Chukat começa apresentando as leis para a purificação
de uma pessoa que ficou ritualmente impura por causa do contato com um
cadáver. Essa impureza é chamada de tumá tamet.
O Midrash conta o seguinte fato relacionado a isso: Quando Moshê
soube do grau de impureza de tumá tamet, perguntou a D’us:
“Se a pessoa fica tão impura, como vai alcançar a
purificação?” Mesmo após D’us haver-lhe
respondido, “tomarão para o impuro oferenda das cinzas queimada
de expiação..., Moshê ainda não estava inteiramente
satisfeito e perguntou a D’us: ”Isto realmente é purificação?”
Por que Moshê ficou tão aflito com a dificuldade de lograr
a purificação de tumá tamet? Sabe-se que há
diversos tipos de impurezas, tais como tumat zav e tumat metsora que,
em muitos aspectos, são até mais severas que tumá
tamet. Por que Moshê achou que obter essa purificação
específica seria tão difícil?
Todas a outras impurezas rituais do iehudi relacionam-se com um corpo
vivo. Mesmo impuro, ainda abriga uma alma que é “realmente
uma partícula de Hashem”. Como a capacidade de D’us
é ilimitada, logo dá para entender que a alma pode retificar
a impureza, de modo que a pessoa acabará se purificando (por ex.,
por meio de imersão em um micvê).
Contudo, este não é o caso de tumá tamet, em que
a própria impureza é oriunda do fato do corpo – havendo
se apartado da alma- ter cessado de viver; um corpo separado da alma não
passa de um objeto inanimado.
Portanto, Moshê ficou perplexo: “Como é possível”,
pensou, “a purificação de impureza tão grave?”
D’us o tranquilizou, dizendo: “Estas são as leis da
Torá”: a influência da Torá e das mitsvot é
tão poderosa que pode realizar a purificação, mesmo
após a alma haver se desligado do corpo.
Num nível mais profundo e esotérico: o aspecto espiritual
da impureza diz respeito a uma imperfeição no relacionamento
de um judeu com D’us. Os judeus são considerados “vivos”
como resultado de sua adesão a Ele. Quando um iehudi peca, este
elo com D’us é enfraquecido; fica, portanto, menos “vivo”
e torna-se impuro. O grau de impureza aumenta na razão inversa
de seu relacionamento com D’us.
Mesmo havendo brecha séria no relacionamento com D’us, o
que torna a impureza muito grave, desde que a conexão não
seja rompida, o iehudi conserva sua capacidade inata de purificar-se novamente,
ao fortalecer seu compromisso com D’us, Sua Tora e mitsvot. Porém,
quando um judeu transgride tão gravemente a ponto de causar a ruptura
de sua ligação com D’us, provoca a impureza de tumá
tamet.
Moshê ficou confuso quanto ao modo de purificação
de impureza tão grave. Não conseguia entender como seria
possível alcançar a purificação. D’us
resolveu essa dificuldade, garantindo-lhe que o relacionamento de um iehudi
com D’us nunca é rompido completamente. O vínculo
inato de um judeu com D’us e a influência de seu cumprimento
anterior de Tora e mitsvot são tão grandes que até
mesmo tuma tamet é possível de retificação.
Baseado nas Sichot do Rebe
Leia tambêm: As
Leis da Vaca Vermelha
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