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Na Ucrânia,
há mais de duzentos anos, vivia nosso herói: um bom judeu,
idoso e temente a D’us, chamado Akiva que era uma inspiração
para todos à sua volta.
Um dia, para surpresa e desapontamento de todos, Akiva anunciou que havia
decidido deixar a cidade e passar seus últimos anos em Israel.
Foi uma surpresa porque geralmente um senhor de idade avançada
como ele não tentaria esse tipo de viagem perigosa e exaustiva
e também foi um desapontamento por ser um dos anciãos mais
queridos da comunidade. Ele doou todos os seus livros para a sinagoga
e partiu.
Um mês depois da sua partida eles receberam uma carta sua dizendo
que havia chegado em Israel, agradecendo novamente a todos pela amizade
e lhes desejando uma vida com saúde e alegria.
O tempo passou e a vida na cidade continuou até que um ano depois
algo aconteceu. As pessoas não acreditavam em seus olhos: Akiva
tinha retornado!
Todos se reuniram à sua volta e o receberam de braços abertos
mas com muitas perguntas: o que aconteceu? Por que ele voltou? Ele não
tinha planejado ser enterrado na Terra Santa? Talvez corresse algum perigo
de vida e tivesse resolvido fugir? Talvez ele tivesse tido um sonho?
Mas Akiva se recusou a responder. Ele mudou o assunto e começou
a relatar sobre suas aventuras para chegar lá, o que aconteceu
quando chegou, o que viu nas cidades sagradas de Chevron, Tsfat e Jerusalém,
o que sentiu no Muro das Lamentações etc., mas quando lhe
indagaram novamente o motivo de seu retorno, ele ficou calado.
A vida na cidade rapidamente voltou ao normal até que num dia,
um ano depois, a sociedade funerária (Chevra Kadisha) recebeu uma
mensagem que Akiva estava morrendo e queria que seus membros estivessem
presentes nos seus últimos momentos.
Eles foram até sua pequena casa e o encontraram deitado na cama,
fraco, quase sem vida, mas completamente consciente. Eles ficaram de pé
ao lado de sua cama esperando suas últimas palavras. Mas depois
de algumas horas de silêncio ele simplesmente lhes disse que podiam
ir embora e retornar no dia seguinte.
Mas no dia seguinte aconteceu a mesma coisa, e assim por diante até
que no terceiro dia quando já estavam impacientes ele se sentou
com força renovada e começou a falar.
“Provavelmente vocês estão se perguntando por que chamei
vocês aqui várias vezes... e por que voltei de Israel um
ano atrás. Ora, agora posso lhes contar.
Até alguns anos atrás eu costumava ir todos os anos ao grande
bazar da cidade de Barditchev para fazer negócios e quando estava
lá rezava na Sinagoga do sagrado Rabino Levi Yitzchak de Barditchev.
Oyy, que grande Tsadic!!
Certo dia cheguei à Sinagoga um pouco mais cedo, e o Rabino Levi
Yitzchak não deve ter me visto e então o ouvi falar as bênçãos
matinais. Acredite-me, nunca vi nada assim na minha vida. Foi simplesmente
maravilhoso! Mas de repente abriu-se a porta da sinagoga e um judeu, um
outro homem de negócios, irrompeu chorando como um louco, agitando
os braços e gritando ‘levaram todo o meu dinheiro! Roubaram
tudo o que eu tinha, o que farei agora?’
O Rabino Levi Yitzchak o acalmou e depois de ouvir a sua história
completa soube que ele desconfiava da arrumadeira do hotel. Trouxeram
essa senhora rapidamente junto com o gerente do hotel e ela chorou e protestou
sua inocência apesar da humilhação e acusações
sobre ela.
Mas então o Rabino Levi Yitzchak levantou sua mão sagrada
e disse calmamente, ‘não há dúvidas que houve
um roubo, mas também não há dúvidas que essa
senhora é inocente. Agora, quem reembolsar esse colega todo o valor
que lhe foi roubado terá garantido lugar no paraíso.’
Eu ouvi isso e meu coração disparou. Eu teria que dar praticamente
tudo o que tinha em meu nome, mas mesmo assim perguntei ao Rabino Levi
Yitzchak se ele colocaria isso por escrito e quando disse que sim, peguei
minha carteira e lhe dei o dinheiro que então foi entregue à
vitima.
O companheiro pulou de felicidade, pegou o dinheiro, beijou o rabino,
nos agradeceu e foi embora.
O Rabino Levi Yitzchak então prometeu que a arrumadeira seria compensada
por seu sofrimento e então se virou para mim. Ele pediu uma folha
de papel e escreveu: ’Por favor abram os portões do paraíso
para este homem,’ assinou seu nome e me instruiu que antes de morrer
deveria chamar a Chevra Kadisha para me enterrar com essa folha na minha
mão. Então me advertiu a nunca comentar com ninguém
sobre isso a não ser à sociedade funerária no meu
último dia na Terra.
Mas não acabou aí. No dia seguinte, depois da reza, o Rabino
Levi Yitzchak me pediu para ir à sua sala. Quando estávamos
sozinhos ele me mostrou uma montanha de dinheiro, uma fortuna, e explicou
que o ladrão de algum modo ouviu como eu tinha reembolsado aquele
companheiro e sentiu-se tão mal pela culpa que carregava que arrependeu-se
e devolveu o dinheiro que havia roubado.
O Rabino Levi Yitzchak falou que eu poderia ficar com tudo e lhe devolvesse
a carta. Mas eu me recusei. É verdade, sem o dinheiro eu teria
que viver quase na miséria. Mas não queria devolver a carta.
Sugeri que ele desse o dinheiro para a arrumadeira e cumprisse aquilo
que havia prometido para ela, e eu ficaria com a carta.
Desculpem-me por ter lhes chamado ontem e antes de ontem, pois pensei
que era o fim e agora estou certo que é. Agora vocês devem
querer saber por que voltei de Israel?
Ora, quando voltei de Barditchev com a carta, costurei-a na capa de um
livro de rezas que usava todos os dias para nunca perdê-la e quando
me mudei para Israel tinha certeza de ter levado a carta comigo. Mas quando
abri minhas malas percebi com horror que de algum modo a tinha esquecido
e misturado nos livros que doei para a sinagoga antes de partir.
Então tive que voltar.
Demorou muito tempo até ter o dinheiro para voltar, mas quando
cheguei e a procurei, graças a D’us achei a carta, e aqui
ela está.” Com isso Akiva falou o Shemá Yisrael, fechou
seus olhos e com um sorriso de felicidade faleceu.
Isso explica nossa pergunta.
Chassidim geralmente não estão preocupados com recompensas,
nem mesmo celestiais. A razão pela qual Akiva realmente deixou
Israel foi pela mesma razão que nosso patriarca Yaacov fez milhares
de anos antes; ele percebeu que tinha que trabalhar no mundo mundano.
De acordo com o Chassidismo a razão pela qual estamos nesse mundo
é para aperfeiçoá-lo o transformando numa moradia
para D’us, foi por isso que Yaacov foi para Charan e Akiva para
a Ucrânia.
Mas ambos receberam assistência Divina: Akiva tinha a benção
do Rebe Levi Yitzchak, e Yaacov a proteção dos anjos.
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