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  “Deixe Meu povo ir!” - Mas Eles Podem Se Deixar Ir?
 
Por Yosef Y. Jacobson
  Três Meninos
Aqueles três meninos estão no pátio da escola se gabando de como seus pais são notáveis.

O primeiro diz:

“Bem, meu pai corre mais depressa que qualquer um. Ele pode atirar uma flecha, e começar a correr. Vou dizer a vocês, ele chega antes da flecha”.

O segundo garoto diz:

“Aha! Você acha que isso é rápido! Meu pai é caçador. Ele pode dar um tiro e chegar lá antes da bala”.

O terceiro escuta os outros dois e balança a cabeça. Então diz:

“Vocês nada sabem de rapidez. Meu pai é funcionário público. Ele para de trabalhar às 4h30 e chega em casa às 3h45”!

O Primeiro Mandamento
A narrativa bíblica do Êxodo Judaico do Egito tem sido uma das histórias mais inspiradoras para os oprimidos, escravizados e tiranizados no decorrer da história. Da Revolução Americana, dos escravos da América do Sul, até o Sonho de Liberdade de Martin Luther King, a narrativa do Êxodo mostrou incontáveis povos com a coragem de esperar por um futuro melhor, e agir pelo seu sonho.

A primeira visita de Moshê ao faraó exigindo liberdade para seu povo somente trouxe mais sofrimento aos escravos hebreus; o monarca egípcio aumentou sua tortura. Os hebreus agora não escutavam mais a promessa da redenção. Agora vamos prestar atenção a este estranho versículo na porção semanal, Vayerá:

Assim D'us falou a Moshê e Aharon, e Ele os mandou aos filhos de Israel, e ao faraó, rei do Egito, para deixar os filhos de Israel sair da terra do Egito.

D'us está encarregando Moshê de duas diretrizes: ordenar ao povo de Israel e então ordenar ao faraó, o rei. Porém, o versículo é ambíguo: o que D'us ordenou Moshê a instruir ao povo? A mensagem para o faraó é clara: Deixe os filhos de Israel saírem do Egito. Mas o que Moshê deve ordenar ao próprio povo?

O Talmud Jerusalém diz algo profundamente enigmático: D'us instruiu Moshê a ordenar ao povo judeu as leis de libertar escravos.

O Talmud está se referindo a uma lei registrada mais tarde em Shemot: Se um judeu vender a si mesmo como escravo, o dono deve deixá-lo ir após seis anos. Ele está proibido de segurar o escravo por mais tempo. Essa era a lei que Moshê deveria partilhar com os israelitas enquanto eles estavam no cativeiro egípcio.

A Base para o Comentário
O Talmud baseia essa nova e aparentemente infundada interpretação numa fascinante narrativa no Livro de Jeremiah:

Então a palavra do Eterno chegou a Jeremiah vinda do Eterno, dizendo: Assim diz o Eterno D'us de Israel: Eu fiz um pacto com seus pais no dia em que Eu os tirei da terra do Egito, da casa de escravos, dizendo: “Ao final de sete anos vocês deixarão ir todo homem, seu irmão judeu, que foi vendido a você, e quando ele tiver servido por seis anos deve libertá-lo de você.”

A questão é: onde encontramos um pacto feito por D'us com o povo judeu quando eles deixaram o Egito para libertar seus escravos? Numa brilhante especulação, o Talmud sugere que este é o significado do enigmático versículo acima: “D'us falou com Moshê e Aharon, e Ele os mandou aos filhos de Israel, e ao faraó rei do Egito, para deixar os filhos de Israel fora da terra do Egito.”

A ordem aos filhos de Israel foi para libertar seus escravos.

Porém isto parece uma cruel anedota. Os Filhos de Israel a essa altura eram eles próprios escravos esmagados e atormentados, subjugados por um déspota genocida e um regime tirânico, suportando terrível tortura. Porém a essa altura D'us deseja que Moshê lhes ordene sobre as leis relevantes ao aristocrata, ao senhor feudal, o dono de escravos?! E além disso, como diz a Torá: “D'us os enviou aos filhos de Israel, e ao faraó rei do Egito para deixar os filhos de Israel fora da terra do Egito.” Parece que as duas instruções – aquela para os israelitas e aquela para o rei egípcio – estão conectadas. E além disso: a ordem para os israelitas precedeu a ordem ao faraó. Mas o que o mandamento para os judeus, de que eles libertem seus escravos um dia no futuro tem a ver com a missão do faraó de libertar os hebreus da escravidão?

Quem É Livre?
A resposta a essa pergunta é profundamente simples e comovente, e vital para a compreensão da liberdade na imaginação bíblica.

Antes que o faraó possa libertar os escravos judeus, ele deve estar pronto a se tornar livre. Você pode tirar um homem da escravidão, mas isso pode ser mais difícil tirar a escravidão de dentro de um homem. Externamente, você pode estar livre; internamente você pode ainda estar escravizado.

Qual é o primeiro e maior sintoma de ter liberdade? Que você aprenda a dar liberdade aos outros.

O ditador, o fanático por controle, ou o cônjuge ou pai abusivo, não sabe como dar liberdade aos outros. Ele (ou ela) se sente obrigado a forçar os outros a entrar no molde que criou para eles. Desconfortável na própria pele, tem medo de que alguém o supere, exponha suas fraquezas, usurpe sua posição ou o faça sentir demais neste mundo. Por fora ele tenta parecer poderoso, mas por dentro seu poder é um sintoma do angústia e confinamento interior.

Somente quando aprender a abraçar outros, não por quem ele gostaria que fossem, mas por quem eles são, então ele pode começar a abraçar a si mesmo, não por quem ele deseja ser, mas por quem é. Quando libertamos aqueles ao nosso redor, estamos libertando a nós mesmos. Quando os aceitamos, aprendemos a aceitar a nós mesmos.

Quem é poderoso? Aquele que dá poder. Quem é livre? Aquele que pode libertar os outros. Quem é um líder? Aquele que cria outros líderes.

“Quase todo homem pode passar pela adversidade, mas se você deseja testar o caráter de um homem, dê poder a ele,” disse Abraham Lincoln. Pergunte a si mesmo: você sabe como celebrar o retumbante sucesso de seus entes queridos e constituintes? Você os encoraja a abrir as asas e maximizar seus potenciais? Você pode permitir que os outros brilhem?

O faraó pode deixar vocês livre fisicamente. Porém antigos escravos podem se tornar tiranos atuais. Pessoas que foram abusadas com frequência se tornam abusadoras. É o que eles sabem da vida; é o paradigma no qual foram criados. Cresceram no abuso e escravidão, portanto continuam o ciclo com outros. A primeira mitsvá que os judeus tinham de ouvir de Moshê, antes mesmo que ele fosse ao faraó para deixá-los livres foi: Um dia vocês serão livres. Lembrem que a liberdade é um dom; usem-na para libertar os outros.
     
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