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“Serenidade”
Israelense
Um turista americano estava num táxi em Israel. Quando o motorista
se aproximou de um farol vermelho, o turista ficou chocado ao vê-lo
passar direto sem sequer diminuir a velocidade.
Por mais surpreso que estivesse, não disse nada, sentindo-se um
“visitante” e não querendo causar problemas.
A viagem continuou sem mais problemas até o próximo cruzamento.
Dessa vez o farol estava verde, e para espanto do americano, o motorista
fez uma parada brusca.
Incapaz de conter seu assombro, ele interpelou o motorista.
“Ouça,” disse ele, “quando você passou
pelo farol vermelho, eu não disse nada. Mas por que você
está parando num farol verde?”
O motorista israelense olhou para o americano como se este fosse desmiolado.
“Está louco?! O outro cara tinha o farol verde! Você
queria que eu matasse nós dois?!”
Doze Príncipes
Não seria uma má ideia para os descendentes contemporâneos
de Ismael – e para todos nós – refletir sobre os nomes
individuais dos 12 filhos de Ismael, que se tornaram todos príncipes
e patriarcas das nações ismaelitas.
“São esses os nomes dos filhos de Ismael pela ordem de nascimento,”
registra a Torá na porção desta semana, Chayê
Sarah, e prossegue relacionando-os em três grupos e em três
versículos separados1: “O primogênito de Ismael foi
Nebayoth, depois Kedar, Adbiel, Mibsam.” Em seguida vem o segundo
grupo de filhos” Mishma, Dumah e Massa. Finalmente, a Torá
relaciona os últimos cinco filhos: Chadad, Tema, Yetur, Nafish
e Kedmah.
A Torá então relata onde eles viveram no Oriente Médio.
E conclui a narrativa – e toda a porção – declarando
essas palavras ambíguas: “Eles caíram na presença
de todos os seus irmãos2.”
Qual é a Relevância?
O que este episódio está nos contando? É um mero
detalhe incidental? A Torá não inclui detalhes meramente
incidentais. Não temos ideia, por exemplo, de como Avraham Sarah,
Isaac ou Ismael se pareciam. Embora a Torá registre muitos fatos
genealógicos e históricos, basicamente não é
um livro de história ou genealogia, mas como seu próprio
nome, Torá, indica, é um livro de instrução,
um projeto para a vida humana. O registro dos membros da família
de Ismael, então, não é meramente um registro de
fatos genealógicos. Em vez disso, como toda frase ou palavra registrada
na Torá, é parte de um mapa para a jornada de nossas vidas.
Mas qual a relevância dos 12 nomes antigos dos filhos de Ismael?
E por que Ismael deu aos filhos esses nomes específicos? Mais uma
pergunta: por que a Torá divide os doze nomes em três grupos
desiguais: um grupo de quatro, um de três e um de cinco?
O primeiro programa de 12 passos
As obras do misticismo judaico explicam que esses nomes representam o
programa de 12 passos de Ismael no sentido de levar uma vida saudável
e bem equilibrada. Seu guia para o bem viver abrange os três componentes
básicos da vida: saúde, relacionamentos e trabalho.
A – SAÚDE
O primeiro grupo dos filhos de Ismael, que compreende quatro nomes, representa
seu guia de quatro passos para a boa saúde.
1 – Nebayot
Nebayot em hebraico significa vazio3. Isso indica a necessidade de manter
o corpo vazio e limpo de lixo e substâncias prejudiciais ao organismo
humano. O corpo não é uma lata de lixo. Deve permanecer
“vazio”, livre e leve, translúcido e repleto de animação
e energia.
2 – Kedar
O significado da palavra hebraica kedar é calor4. Isso representa
a necessidade de exercitar-se regularmente, mantendo o corpo à
temperatura aquecida e a boa circulação do sangue.
3 – Adbiel
O significado deste nome é “não coma em excesso”5.
Mesmo que você esteja ingerindo alimentos nutritivos, deveria consumir
apenas as quantidades que são necessárias para manter a
saúde.
4 – Mibsam
A tradução hebraica de Mibsam é tempero. Além
de bons hábitos alimentares e exercícios regulares, a pessoa
deve acrescentar algum “tempero” e “sabor” à
sua vida corporal, enriquecendo sua existência e dando-lhe pizzas.
Isso é conseguido através de uma vida refinada – alimentos
de primeira classe, bebidas finas, absorver as visões e o ar fresco
da natureza, apreciando fragrâncias e perfumes etc.6
B – RELACIONAMENTOS
O grupo seguinte dos filhos de Ismael, que abrange três filhos,
representa o guia de três passos de Ismael rumo aos relacionamentos
eficazes, tanto no lar como no local de trabalho.
5 – Mishma
Mishma significa ouvir, considerar. Você deve cultivar o talento
de ouvir realmente a outro ser humano.
6 – Dumá
Dumá significa silêncio. O segundo passo no sentido de criar
um bom relacionamento consiste da capacidade de permanecer em silêncio.
Você não deve sentir sempre que precisa reagir às
críticas de sua mulher; ou não precisa dar sempre uma resposta
a uma pergunta feita. Permaneça em silêncio. Você não
vai morrer se não atirar uma resposta para fora de si; seu silêncio
pode até conceder uma percepção inesperada. Pessoas
bem-sucedidas escutam muito mais do que falam.
7 – Massa
Massa, que literalmente significa “um fardo”, simboliza o
terceiro passo que é eficaz no sentido de desenvolver relacionamentos
equilibrados e a longo prazo, ou seja, paciência e tolerância,
a capacidade de tolerar e conter os fardos de outro ser humano, embora
eles possam ser falhos e imperfeitos.
C – TRABALHO
Uma vez que nosso corpo e nossos relacionamentos estejam em ordem, podemos
abordar o último grupo dos cinco filhos de Ismael, levando seu
programa de cinco passos rumo ao trabalho e produtividade. Neste caso,
os cinco nomes precisam ser lidos e entendidos num única sequência.
Chadad em aramaico significa novidade. Tema significa maravilha. Yetur
é uma linha reta. Nafish significa serenidade, finalmente, Kedmá
significa primeiro e à frente7. Este é o programa de cinco
passos de Ismael para o trabalho e realização.
8 – Chadad
Primeiro, você deve ser levado a embarcar numa trilha nova, a estrada
menos viajada. Deve superar o medo de falhar e estar pronto a assumir
riscos e abrir novos caminhos. Não tema ser original e criativo.
9 – Tema
Porém, todo criador e empreendedor encontrará resistência.
As pessoas ao seu redor darão de ombros espantadas (Tema), criticando
você por uma fantasia não realista, pela arrogância
juvenil, pela estupidez imatura. Elas irão predizer o seu fracasso.
O que você faz?
10 – Yetur
A essa altura, você precisa ter certeza de que seu plano é
bem organizado e estruturado, tão perfeito quanto uma linha reta.
11 – Nafish
Você também precisa se afastar, relaxar e repensar seus planos
e metas num estado de espírito sereno e tranquilo. Não permita
que um estado de espírito inspirador mas vacilante defina suas
metas a longo prazo; certifique-se de que interiorizou serenamente o propósito
de sua missão.
12- Kedmá
Mas se e quando você concluir que este é o caminho certo,
precisa saltar de cabeça para o projeto e não permitir que
os obstáculos ao longo do caminho atrapalhem a execução
de seus sonhos. “Siga em frente!” – seja o primeiro
e esteja à frente do jogo, porque se você procrastinar a
essa altura, alguém vai vencê-lo. Assim temos o programa
de 12 passos de Ismael para o bem viver: vazio, exercício, nutrição
e pizzas; ouvir, ficar em silêncio e tolerar; pensar de maneira
diferente, ser confiante, organizado, resoluto e quando a hora chegar,
não olhe para trás.
O Vazio
Quando refletimos sobre estes doze passos, percebemos que um elemento
crucial – talvez o mais importante – está faltando
da impressionante lista de Ismael. É o componente do significado.
Uma vida humana precisa de significado. Quando estamos carentes de um
propósito interior, é extremamente difícil manter
estes 12 passos que exigem disciplina e concentração. A
certa altura você se pergunta: qual é o propósito
disso tudo? Essa questão não pode ser respondida com a contratação
de um personal trainer, estudando sobre relacionamentos eficazes e abrindo
caminho na empresa.
Assim, a Torá conclui sua narrativa dos 12 filhos declarando: “Eles
caíram na presença de seus irmãos.” Até
mesmo a vida equilibrada com saúde, relacionamentos e trabalho,
se for carente de significado interior, termina por fracassar, porque
carece do oxigênio da profundidade que mantém a pessoa inspirada
e motivada a viver bem, e assegurar que os passos estão canalizados
para os propositos corretos, não para objetivos fúteis ou
prejudiciais.
Os 12 passos de Ismael captam uma camada importante mas superficial da
existência. Fala-nos como viver dentro dos ritmos da natureza e
biologia. Não se dirige ao nosso senso de que existe algo no âmago
da natureza que a transcende. Para isso temos os nomes de outras doze
tribos, os doze filhos de Yaacov, cujos nomes representam o projeto para
viver não somente uma vida refinada e equilibrada, mas também
viver com o Divino, com o misterioso âmago da realidade8.
NOTAS
1) Bereshit 25:13-15
2) Ibid. 25-18. Este versículo é traduzido de maneiras diferentes
por vários comentaristas bíblicos. A tradução
dada aqui está baseada no Ibn Ezra, que entende a palavra “nafal”
em termos de queda.
3) Cf. Shemot 27:8.
4) É por isso que a palavra hebraica para caldeirão é
“kedeirah”.
5) Mel Hasheluach Parashá Chayei Sarah. Eu ficaria grato a qualquer
leitor que possa esclarecer-me como essa palavra significava a falta de
comer demais.
6) O Talmud compartilha o valor disto. Veja Talmud Yoma 76 b (e referências
ali anotadas); Tanya, cap. 7.
7) É por isso que leste é chamado Kedem em hebraico, pois
o sol nasce ali primeiro.
8) Este ensaio é baseado em Mel Hasheluach (por Rabi Mordechai
Yosef Leiner de Ishbitz) Parashá Chayê Sara e em outras fontes.
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