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  Tornando Nosso Lar um Santuário
  Por Yetta Krinsky
 

Todos merecem estar física, emocional e espiritualmente seguros o tempo todo. Isso não é necessariamente algo que nos é ensinado, mas tem profundas implicações para as escolhas que fazemos na vida. É também o primeiro princípio fundamental a interiorizar para alguém que está embarcando no processo de curar um trauma.

Mas o que significa estar a salvo, e o que é um lugar seguro? É meramente a ausência de perigo?

Em meu trabalho como psiquiatra, descobri que o conceito judaico de santuário não apenas enriqueceu imensuravelmente a minha vida, como aprofundou minha compreensão sobre o processo de cura. Santuário - espaço sagrado - pode existir em tempo, espaço e relacionamentos interpessoais, bem como dentro das nossas almas.

O Shabat é o supremo santuário no tempo: um dia livre das imposições de telefones, e-mails, negócios e compromissos. Em vez disso, temos tempo para nossos filhos, família e comunidade, bem como para nosso relacionamento com nosso Criador. Nós também criamos pequenos santuários no tempo durante a semana tirando alguns momentos para relaxar, tomar um café, conversar com um amigo, sentar no parque, refletir sobre algumas coisas que nos inspiram, ou rezar: essencialmente, fazendo qualquer coisa que nos lembre que há mais na vida que aquilo que o olho vê antes de voltarmos à nossa rotina.

O conceito de santuário no espaço é fundamental ao Judaísmo. O Templo Sagrado era o supremo santuário, um local de santidade e paz sem paralelos. Como toda parte do Templo tinha camadas espirituais e simbólicas de significado além da função física, o uso de ferro (que era basicamente usado para forjar armas) foi proibido em sua criação. Um lar é um local para amor e segurança, não para conflito e violência.

Aprendemos que desde a destruição do Templo Sagrado, a presença de D'us está dentro de cada um de nós e dentro de cada lar judaico. O quanto é importante, então, que nossos lares sejam verdadeiros santuários de luz, calor e paz; que deixemos entrar nele somente pessoas com quem nos sentimos seguros, e coisas que sejam congruentes com os valores que desejamos instilar em nossos filhos.

Até numa casa ocupada, cheia de gente, pode-se fazer um pequeno santuário. Não precisa ser um aposento inteiro; talvez uma cadeira com uma bonita vista, um pequeno jardim, ou até algumas coisas bonitas sobre uma mesa.

O que quero dizer quando falo de conceito de segurança e santuário num relacionamento?

Um relacionamento seguro, honroso, respeitoso é aquele no qual o equilíbrio de poder é igual. O Rebe explicou certa vez por que pessoas do mundo inteiro o procuravam, dizendo: :Eu tento ser um bom amigo." Ele então descrevia o que é um bom amigo: "Um amigo é alguém em cuja presença você pensa em voz alta sem se preocupar. Um amigo é alguém que sofre com você quando você está sofrendo e se alegra com sua alegria, alguém que cuida de você e sempre tem seus interesses em mente. Na verdade, um bom amigo é uma extensão de você mesmo."

A pessoa também deve sentir-se segura dentro de si mesma. Devemos respeitar e honrar nosso santuário interior, a parte mais profunda da nossa alma que não é tocada por qualquer ação ou evento. Com frequência nos tratamos com rigor, numa maneira que não iríamos tolerar de outra pessoa. Temos de aprender a pensar e falar gentilmente, com calma, com nós mesmos.

Nossos sábios dizem que a verdadeira felicidade vem de levar uma vida na qual não há separação entre nossos valores mais profundos e a maneira pela qual nos comportamos em todas as áreas da vida. O mundo nos chama com muitas tentações: nos diz o que é bom, para termos indulgência com nós mesmos sem necessariamente pensar sobre as consequências de levar a vida dessa maneira. Porém a pessoa sábia olha para todas as possíveis consequências de uma ação antes de tomar uma decisão. Há um anseio natural na direção de tal integridade e autenticidade. A Torá nos encoraja a garantir que toda ação nossa seja congruente com nossos valores internos, e que leve a um lugar de melhor saúde e cura para nós e para o mundo inteiro.

Todos temos a capacidade inata de criar tais espaços sagrados, estabelecer limites definidos e escolher sabiamente. Na verdade, ao fazer isso desempenhamos nossa parte em transformar este mundo no verdadeiro santuário que nosso Criador desejaria que fosse.

 
 
       
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