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  Uma Busca Longa Demais
 
Por Eli Touger
  Um menino correu em lágrimas para o pai. Ele estava brincando de esconde-esconde com seus amigos, e o menino que tinha sido escolhido para “achá-lo” lhe pregara uma peça. Todos tinham se escondido, mas em vez de procurá-los, o menino simplesmente foi para casa. Durante algum tempo, as crianças se sentiram vitoriosas. Afinal, tinham ficado no esconderijo por um longo tempo, sem serem encontrados. Mas depois, começaram a se sentir sozinhos e traídos.

Enquanto o filho falava, ele viu seu pai – o Maguid de Mezeritch – também começar a chorar.

“Por que está chorando?” perguntou o filho ao pai.

“Porque D’us tem a mesma reclamação que você.”

Quando Ele Se esconde, está esperando que nós saiamos à Sua procura.

Se você fosse D’us e quisesse que as pessoas tivessem consciência da Sua existência, o que faria?

A maioria de nós responderia: Eu apenas diria: “Alô”. Afinal, não estamos interessados em brincadeiras. Se queremos alguma coisa, vamos atrás dela.

Por que D’us não faz isso? Um dos motivos é que se Ele Se revelasse como é, nada mais poderia existir. Seria como olhar diretamente para o sol; a luz seria forte demais. Se Ele não Se recolhesse e Se ocultasse, nós não poderíamos existir.

Porém, se a ocultação é necessária para mantermos nossa existência, como Ele pode Se tornar conhecido? Se é necessário que Ele Se esconda para criar o mundo, como Ele pode entrar no mundo novamente?

Estas perguntas estão no âmago da história espiritual do mundo. A ocultação da Divindade cria a estrutura da nossa existência. Por outro lado, o progresso da civilização é dirigido a uma meta; que Ele Se dê a conhecer.

Uma das ferramentas que Ele usa para tornar-Se conhecido é a natureza em si. A formação natural do mundo oculta a Divindade, criando a impressão de que o mundo existe independentemente com suas próprias leis e seu próprio poder. Por outro lado, quando uma pessoa sonda mais profundamente, ele ou ela chega à percepção de que a natureza não existe por si mesma. Há uma harmonia profunda e abrangente demais. O ritmo contínuo, interior, é poderoso demais para se ignorar. Esta é uma das maneiras pelas quais o homem chega a avaliar D’us.

Esta maneira, no entanto, é problemática. Antes de mais nada, ela exige contemplação e pensamento profundo. Assim, nem todos chegam àquela percepção. Em segundo lugar, mesmo quando uma pessoa é capaz de atingir esse tipo de entendimento, esta não será sua reação inerente. Entranhada em sua natureza está a ideia de que o mundo existe por si mesmo. A percepção de D’us sempre vem em segundo lugar, como uma concepção adquirida – e portanto mais fraca. Por este motivo, de tempos em tempos, D’us realiza milagres evidentes, por exemplo, as Dez Pragas sobre os egípcios, das quais sete são descritas na leitura desta semana da Torá.

Por que D’us trouxe as pragas? Seu propósito não era apenas motivar o faraó a libertar os judeus?

A intenção das pragas está claramente declarada na Torá:

“Para que vocês digam… seu filho e seu neto aquilo que Eu fiz no Egito… para que vocês saibam que Eu sou D’us.”

Os milagres do Êxodo tornam óbvio que D’us existe. Afinal, a água não se transforma em sangue à toa, e sapos não enxameiam sobre a terra. Ver estes milagres, um após o outro, fez todos – tanto judeus quanto egípcios – conscientes da presença Divina.

Por outro lado, milagres não são comuns. Se isso fosse verdade, a ocultação acima mencionada teria sido interrompida. Haveria revelação demais para este mundo. E também, não haveria muito sentido no serviço do homem. Pois quando a Divindade é óbvia, é um desafio servi-Lo.

Nossa vida contém uma fusão dos dois. O paradigma dominante é de ordem natural. Porém, de vez em quando, nos é concedida uma apreciação da Divindade que transcende a natureza e nos inspira ao serviço mais e mais engajado.
     
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